terça-feira, 10 de março de 2015

América Latina vai marcando a diferença e alimentando a esperança num mundo melhor!



Martinho Júnior, Luanda

“O Nascedor

Por que será que o Che
Tem este perigoso costume
De seguir sempre renascendo?
Quanto mais o insultam,
O manipulam
O atraiçoam
Mais ele renasce.
Ele é o mais renascedor de todos!

Não será por que Che
Dizia o que pensava e fazia o que dizia?
Não será por isso que segue sendo
tão extraordinário,
Num mundo onde palavras
e atos tão raramente se encontram?
E quando se encontram
raramente se saúdam,
Por que não se reconhecem?

Eduardo Galeano”
  
1 – O 1º dia do mês de março-mulher foi na América Latina mais uma lufada de ar fresco, oxigenando o tão conspurcado ambiente global.

A América Latina vai marcando a diferença por via da transformação dos seus próprios processos sócio-politicos, socializando-os gradualmente e remetendo as oligarquias nacionais agenciadas pelos interesses e conveniências do império, para o beco sem saída que criou com as suas opções.

A resistência aos deliberados vínculos capitalistas neo liberais, impostos pela hegemonia unipolar ao seu “pátio traseiro”, “explodiu” em molduras de multidões que assumiam nas praças públicas a sua identidade plena para um novo protagonismo de pátria, independente, soberana e integradora, proposta por alguns dos dirigentes mais clarividentes, progressistas e desassombradamente lutadores do quadrante Sul!

Foi assim em Buenos Aires, em Caracas e em Montevideu… onde as praças se tornaram, neste 1º de março do mês mulher, em santuários dos povos!
  
2 – Em Buenos Aires largos milhares identificaram-se com a Presidente Cristina Kirchner na altura do seu balanço social, económico, industrial e tecnológico, perante a 133ª Sessão do Congresso!

A Argentina está a reduzir drasticamente a sua dívida externa em relação ao seu Produto Interno Bruto, o que permite não mais pagar juros sobre os juros das dívidas.

A partir de agora se a Argentina se endividar é para cumprir com programas de desenvolvimento e não para ganhos do sector financeiro internacional!

 A Argentina prepara-se para assumir a estatização de todas as ferrovias do país, o que dá outras garantias aos seus usuários e aumenta exponencialmente a expansão da rede, particularmente em direcção a áreas de menor densidade populacional.

A Presidente Cristina Kirchner ao conduzir esse processo está a marcar e liderar a mobilização patriótica de amplos sectores populares e a granjear a simpatia de todos aqueles que se propõem à integração hemisférica na América Latina.
  
3 – Em Caracas, perante a descoberta de mais uma tentativa de golpe de estado, numa altura em que a situação económica do país é preocupante em função da evolução da cotação média do barril do petróleo e de açambarcamentos de sectores retrógrados da sociedade venezuelana, a mobilização popular em torno do Partido Socialista Unificado da Venezuela, dos ideais bolivarianos e do Presidente Maduro, fez-se sentir expressivamente.

Outras cidades do país seguiram o exemplo da capital.

O plano do golpe de estado, envolvendo sectores da oligarquia nacional servis ao império e em estreita ligação a meios instrumentalizados por ele, foi desmascarado, exposto, com os seus interventores detidos e conduzidos a processos judiciais, que se juntaram a outros já em curso.

O projecto progressista teve inteligência e capacidade para se defender e inibir a sua subversão num contexto conturbado de desestabilização provocado a partir do exterior pelos vínculos poderosos da hegemonia unipolar!

A luta na Venezuela é decisiva para o processo bolivariano de integração em curso, envolvendo organizações como a ALBA, a UNASUR,  ou a CELAC, como também é decisivo como inspirador em relação às transformações sócio-políicas em curso na América Latina, envolvendo as massas populares e garantindo o aprofundar da democracia, abrindo-a à participação.

Caracas encheu-se das cores nacionais e de vermelho, como nos tempos decisivos de Hugo Chavez!
  
4 – Montevideu teve também o seu dia 1º de março por motivos da transferência de poderes entre o cessante Presidente José “Pepe” Mujica e o seu sucessor, Tabaré Vásquez.

Esse foi um motivo para lembrar as vias de desenvolvimento do país, sentidas durante o mandato de Mujica: a diminuição da pobreza, o crescimento do emprego, o aumento dos rendimentos e a diversificação energética.

O caminho progressista já está a produzir os seus frutos e esse foi também um motivo para se exaltar as qualidades de “Pepe” Mujica enquanto Presidente: a sua visão de vanguarda, resguardada na sua simplicidade de sóbrios comportamentos e rigor.

Avesso a qualquer tipo de auto promoção, ou de benefícios indevidos, José “Pepe” Mujica, corajoso guerrilheiro Tupamaru que enfrentou 15 anos de prisão impostos pela ditadura contra a qual lutou, marcou e marca com seu exemplo em todas as latitudes e longitudes, conforme à sua franqueza, reconhecida internacionalmente e a todos os níveis.

Os seus pronunciamentos têm sido divulgados, sendo notável o seu desassombro, a qualquer nível de suas intervenções, reconhecidamente anticapitalistas e seguindo a lógica com sentido de vida, de acordo com profundas convicções, com princípios socialistas e um amor rigoroso pela humanidade!

Diz ele entre muitas outras frases que o demarcam das conjunturas manipuladas do mundo:

“O deus mercado organiza a economia, a vida e financia a aparência de felicidade. Parece que nascemos só para consumir e consumir"…

A transferência de poderes conforme modelo que foi seguido em Montevideu, perante os olhos de todo o povo uruguaio e do mundo, em parte alguma poderia ter sido tão bem concebido em termos de felicidade colectiva e rigor!
  
5 – A América Latina vai dando incomparáveis exemplos de luta em benefício de seus povos e dos povos de todo o mundo.

Os que despontaram logo no 1º dia do mês de março-mulher, não podiam ser melhores para este lado do Atlântico Sul, numa África em que tardam os “nascedores”, muito embora a tradição de luta em prol da libertação contra o colonialismo e o “apartheid”!

A hegemonia unipolar, em especial nos países que bordam o Atlântico, vai conseguindo a ascensão de oligarquias dóceis, assimiladas, que pouco a pouco atentam contra a harmonia e desequilibram as conjunturas patrióticas dos seus povos, monopolizando a “representatividade” inerente aos seus frágeis processos democráticos.

Sob o ponto de vista económico, essas oligarquias tendem a, através de mal paradas parcerias público-privadas, sorverem as finanças do estado e esvaziarem-no de seus conteúdos em termos de independência, soberania e responsabilidades sociais, numa espiral mercenária que começa a envenenar a lógica com sentido de vida que advém do movimento de libertação!

África está a ir precisamente no sentido inverso da América Latina, mas nas suas conturbadas sociedades, perante as avaliações que por vezes são expostas a olho clínico e nu, há muitos que, face à intoxicação global que lhes toca, não podem deixar de absorver a lufada de ar fresco que sopra das Américas, até por que, como durante toda a sua vida estiveram comprometidos e identificados com os povos, expressam claramente: “não foi nada disso que a gente combinou”!!! 

Foto das manifestações populares registadas a 1 de março em Buenos Aires

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