quinta-feira, 19 de março de 2015

"Há pobreza mas também há vontade de melhorar", diz estilista angolana Nadir Tati




As roupas criadas por Nadir Tati têm preços proibitivos para grande parte dos angolanos. A designer sabe disso. Ela admite que a riqueza é mal distribuída, mas também há vontade de combater as assimetrias

Nadir Tati, que a revista norte-americana Forbes considera ser a mais internacional dos estilistas angolanos, cria roupas exclusivas de alta-costura, geralmente por recomendação de clientes de destaque da sociedade angolana, por exemplo, a primeira-dama Ana Paula dos Santos, uma das suas principais fontes de inspiração.

"As minhas criações não são para elites. Como qualquer designer, tenho uma linha mais simples, em que uma peça pode custar 50 ou 100 dólares. Mas há também outras que são um pouco mais caras", diz a designer a propósito de um dos seus vestidos, vendido a 10 mil dólares.

Estes são preços inacessíveis para muitos bolsos e que contrastam com o poder de compra da maioria dos cidadãos nacionais, ainda confrontados com a pobreza. Nadir Tati sabe disso. "Não vale só dizer que temos os recursos. É preciso saber o que devemos fazer com eles", diz. "Há pobreza mas também há vontade de melhorar."

Angola tenta combater assimetrias, diz Nadir Tati

A designer, formada em Sociologia e Criminologia, diz que há um esforço de desenvolvimento nacional ímpar em África, visando eliminar as assimetrias.

Nadir Tati reforça que, depois da guerra, Angola ainda enfrenta muitos problemas de desenvolvimento. Mas, "estamos a tentar ajustar e a tentar distribuir melhor aquilo que os angolanos têm direito."

Um dos problemas a combater é o analfabetismo. Segundo a estilista, o país precisa, por exemplo, de mais escolas e de mais investimentos na formação dos jovens, porque são precisos muitos mais profissionais qualificados.

"O investimento deve ser feito de forma a garantir que o país, no futuro, tenha uma capacidade forte, para poder estar ao nível de outras grandes potências."

Doações

Nadir Tati esclarece que doou algumas das suas peças mais caras, que foram leiloadas entre 10 mil e 15 mil dólares por organizações da sociedade civil que trabalham a favor de causas sociais, nomeadamente para apoiar mulheres vítimas do cancro e a construção de uma escola para crianças deficientes.

"Fico muito feliz em saber que um vestido de 15 ou 20 mil dólares seja leiloado para uma causa social. Para mim, isto significa a valorização do meu trabalho."

João Carlos (Lisboa) – Deutsche Welle

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