Díli,
21 mar (Lusa) -- O ex-presidente timorense José Ramos-Horta defendeu que o
modelo das escolas de referência timorenses, onde o português é ensinado desde
o pré-escolar, deve ser ampliado aos subdistritos, ajudando a consolidar a já
evidente progressão da língua em Timor-Leste.
"A
melhor evidência de que a política que se tem seguido até agora é a correta
está nas escolas de referência", disse o ex-presidente timorense,
recordando o projeto que ele próprio impulsionou em 2008 e 2009.
"Este
projeto deve ser ampliado aos subdistritos. As escolas de referências estão
cheias, com filas à espera. E as crianças aprendem porque quem lá está são
professores de qualidade, formados", sublinhou.
Para
Ramos-Horta, este é o modelo a adotar para o ensino paralelo do português e do
tétum, as duas línguas oficiais, apostando na "qualidade do ensino" e
na formação e capacitação crescente dos professores timorenses.
"Investindo-se
mais nas escolas de referência, expandindo para os subdistritos, em mais 10
anos o português estará pelo menos em 50% da população, igual a Moçambique
hoje. Em 1975, menos de 10% falavam portugueses em moçambique", afirmou.
"E
Moçambique está rodeado de países de língua inglesa, no entanto o inglês não
dominou. E o português cresceu, resultado dos esforços de um Moçambique
independente e soberano", acrescentou.
Ramos-Horta
recordou que esta foi uma decisão das autoridades moçambicanas, tomadas sem
sequer o apoio de Portugal.
"E
nunca houve sequer um debate em Moçambique sobre a vantagem do português ou
não. Para eles era natural. É a língua neutral para todas as tribos e grupos
étnicos. Por isso aprovaram e implementaram isso sem hesitação", afirmou.
O
ex-chefe de Estado falava à Lusa nas vésperas de o parlamento Nacional retomar,
na segunda-feira, o debate da Apreciação Parlamentar sobre dois polémicos
decretos curriculares do Governo, para o ensino pré-escolar e do ensino básico.
A
Apreciação Parlamentar pretende cessar a vigência de dois diplomas que colocam
o português como língua principal apenas no 3.º ciclo e introduzem o uso de
outras línguas maternas timorenses, não oficiais, no ensino.
"Eu
não concordo com os que dizem que o português não progrediu. Pelo contrário, se
compararmos com 1999 ou 2000 em que provavelmente nem sequer um por cento dos
timorenses falavam português, as estatísticas de 2010 apontavam a que 23%
falavam português", disse Ramos-Horta.
"A
Guiné-Bissau, onde não houve qualquer interrupção (do ensino do português), a
estimativa é que 30% falam português. E Timor-Leste em pouco menos de 10 anos
já tem 20%", disse.
Ramos
Horta acrescentou que, mais do que em estatísticas, o progresso do português se
pode ver pelo uso cada vez mais de palavras portuguesas - quando há
equivalentes em tétum - em textos, documentos ou outras produções linguísticas,
como cartazes.
"São
frases supostamente em tétum, mas em que cada vez mais nenhuma palavra é tétum,
é portuguesa. Ficou um português 'timorizado', o que revela que as pessoas que
fazem estes cartazes, estes textos, já começam a pensar em português",
argumentou, considerando, por isso, que há uma infiltração muito grande do português
no "dia a dia do vocabulário timorense".
ASP
// VM
Línguas
maternas em Timor-Leste devem ser opcionais, mas só no futuro - Ramos-Horta
Díli,
21 mar (Lusa) - O ex-presidente da República timorense José Ramos-Horta
defendeu que as línguas maternas em Timor-Leste sejam disciplinas opcionais nas
escolas, mas apenas quando o país tiver condições, com o Governo a
concentrar-se, para já, noutras questões prioritárias.
"Eu
defendo a preservação das línguas maternas e das línguas tradicionais, mas
enquanto disciplinas opcionais - ou até obrigatórias -, mas só quando este país
tiver condições", disse, em entrevista à Lusa.
"Não
temos professores qualificados suficientes. Embarcar neste processo de fazer
uso das línguas tradicionais vai ser mais um enorme encargo", afirmou.
O
ex-chefe de Estado falava à Lusa nas vésperas de o parlamento Nacional retomar,
na segunda-feira, o debate da Apreciação Parlamentar sobre dois polémicos
decretos curriculares do Governo para o ensino pré-escolar e ensino básico.
A
Apreciação Parlamentar pretende cessar a vigência de dois diplomas, que colocam
o português como língua principal apenas no 3.º ciclo e introduzem o uso de
outras línguas maternas timorenses, não oficiais, no ensino.
Os
currículos preparados para acompanhar os decretos explicam, por exemplo, que o
português só terá 25 minutos de aula por semana na 1ª classe, algo que
Ramos-Horta considera "perfeitamente ridículo".
"Não
sei a quem ocorreu essa brilhante ideia", disse.
A
pensar no debate, Ramos-Horta recomendou aos partidos com assento parlamentar e
ao Governo que "enquanto pessoas responsáveis e que se preocupam com o
futuro do país (...) se sentem, dialoguem e revejam toda essa política".
Na
ausência de consenso, disse, é preferível adiar esta decisão, até porque este
Governo tem apenas mais dois anos e meio de vida, sendo "preferível que se
concentre em coisas absolutamente prioritárias".
"Melhorar
as condições das escolas, água potável, saneamento, refeições escolares,
bibliotecas. Porque são coisas físicas e de mais fácil solução, deixando esta
questão de fundo para 2017.
"E
até lá aprofundar o debate, com civilidade, com especialistas e ver qual seria
a melhor forma. Mas sempre sabendo que Timor tomou esta opção do português e do
tétum em 1999 e não vale a pena estar a reabrir o assunto constantemente ou a
questionar esta decisão, que já está enraizada", afirmou.
Ramos-Horta
reconheceu que há estudos sobre outros países, incluindo alguns da Organização
das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), que sugerem o
uso da língua materna pode facilitar a apreensão de outras línguas, mas
insistiu que "um estudo que é verdade num país, não tem que ser verdade
noutro".
E
questionou, ao mesmo tempo, o que ocorre num momento em que em Timor-Leste há
"grande circulação de pessoas", com muitos "de uma região, de um
grupo étnico-linguístico" a viver em zonas diferentes do país.
"Como
é que se vai fazer isso? Separa-se as classes? Dividem-se os alunos? Se calhar
é melhor ter línguas maternas opcionais onde quem quiser tem acesso, mas
reconhecendo que há uma grande mistura de todos", afirmou.
Ao
mesmo tempo, o ex-presidente insistiu que estes processos "não se podem
fazer a corta-mato" e que uma das maiores deficiências continua a ser a
falta de formação dos professores timorenses, incluindo o facto de não
dominarem as línguas nas quais deve comunicar com os alunos.
ASP
// VM
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