sábado, 21 de março de 2015

Modelo das escolas de referência timorenses deve ser alargado - Ramos-Horta




Díli, 21 mar (Lusa) -- O ex-presidente timorense José Ramos-Horta defendeu que o modelo das escolas de referência timorenses, onde o português é ensinado desde o pré-escolar, deve ser ampliado aos subdistritos, ajudando a consolidar a já evidente progressão da língua em Timor-Leste.

"A melhor evidência de que a política que se tem seguido até agora é a correta está nas escolas de referência", disse o ex-presidente timorense, recordando o projeto que ele próprio impulsionou em 2008 e 2009.

"Este projeto deve ser ampliado aos subdistritos. As escolas de referências estão cheias, com filas à espera. E as crianças aprendem porque quem lá está são professores de qualidade, formados", sublinhou.

Para Ramos-Horta, este é o modelo a adotar para o ensino paralelo do português e do tétum, as duas línguas oficiais, apostando na "qualidade do ensino" e na formação e capacitação crescente dos professores timorenses.

"Investindo-se mais nas escolas de referência, expandindo para os subdistritos, em mais 10 anos o português estará pelo menos em 50% da população, igual a Moçambique hoje. Em 1975, menos de 10% falavam portugueses em moçambique", afirmou.

"E Moçambique está rodeado de países de língua inglesa, no entanto o inglês não dominou. E o português cresceu, resultado dos esforços de um Moçambique independente e soberano", acrescentou.

Ramos-Horta recordou que esta foi uma decisão das autoridades moçambicanas, tomadas sem sequer o apoio de Portugal.

"E nunca houve sequer um debate em Moçambique sobre a vantagem do português ou não. Para eles era natural. É a língua neutral para todas as tribos e grupos étnicos. Por isso aprovaram e implementaram isso sem hesitação", afirmou.

O ex-chefe de Estado falava à Lusa nas vésperas de o parlamento Nacional retomar, na segunda-feira, o debate da Apreciação Parlamentar sobre dois polémicos decretos curriculares do Governo, para o ensino pré-escolar e do ensino básico.

A Apreciação Parlamentar pretende cessar a vigência de dois diplomas que colocam o português como língua principal apenas no 3.º ciclo e introduzem o uso de outras línguas maternas timorenses, não oficiais, no ensino.

"Eu não concordo com os que dizem que o português não progrediu. Pelo contrário, se compararmos com 1999 ou 2000 em que provavelmente nem sequer um por cento dos timorenses falavam português, as estatísticas de 2010 apontavam a que 23% falavam português", disse Ramos-Horta.

"A Guiné-Bissau, onde não houve qualquer interrupção (do ensino do português), a estimativa é que 30% falam português. E Timor-Leste em pouco menos de 10 anos já tem 20%", disse.

Ramos Horta acrescentou que, mais do que em estatísticas, o progresso do português se pode ver pelo uso cada vez mais de palavras portuguesas - quando há equivalentes em tétum - em textos, documentos ou outras produções linguísticas, como cartazes.

"São frases supostamente em tétum, mas em que cada vez mais nenhuma palavra é tétum, é portuguesa. Ficou um português 'timorizado', o que revela que as pessoas que fazem estes cartazes, estes textos, já começam a pensar em português", argumentou, considerando, por isso, que há uma infiltração muito grande do português no "dia a dia do vocabulário timorense".

ASP // VM

Línguas maternas em Timor-Leste devem ser opcionais, mas só no futuro - Ramos-Horta

Díli, 21 mar (Lusa) - O ex-presidente da República timorense José Ramos-Horta defendeu que as línguas maternas em Timor-Leste sejam disciplinas opcionais nas escolas, mas apenas quando o país tiver condições, com o Governo a concentrar-se, para já, noutras questões prioritárias.

"Eu defendo a preservação das línguas maternas e das línguas tradicionais, mas enquanto disciplinas opcionais - ou até obrigatórias -, mas só quando este país tiver condições", disse, em entrevista à Lusa.

"Não temos professores qualificados suficientes. Embarcar neste processo de fazer uso das línguas tradicionais vai ser mais um enorme encargo", afirmou.

O ex-chefe de Estado falava à Lusa nas vésperas de o parlamento Nacional retomar, na segunda-feira, o debate da Apreciação Parlamentar sobre dois polémicos decretos curriculares do Governo para o ensino pré-escolar e ensino básico.

A Apreciação Parlamentar pretende cessar a vigência de dois diplomas, que colocam o português como língua principal apenas no 3.º ciclo e introduzem o uso de outras línguas maternas timorenses, não oficiais, no ensino.

Os currículos preparados para acompanhar os decretos explicam, por exemplo, que o português só terá 25 minutos de aula por semana na 1ª classe, algo que Ramos-Horta considera "perfeitamente ridículo".

"Não sei a quem ocorreu essa brilhante ideia", disse.

A pensar no debate, Ramos-Horta recomendou aos partidos com assento parlamentar e ao Governo que "enquanto pessoas responsáveis e que se preocupam com o futuro do país (...) se sentem, dialoguem e revejam toda essa política".

Na ausência de consenso, disse, é preferível adiar esta decisão, até porque este Governo tem apenas mais dois anos e meio de vida, sendo "preferível que se concentre em coisas absolutamente prioritárias".

"Melhorar as condições das escolas, água potável, saneamento, refeições escolares, bibliotecas. Porque são coisas físicas e de mais fácil solução, deixando esta questão de fundo para 2017.

"E até lá aprofundar o debate, com civilidade, com especialistas e ver qual seria a melhor forma. Mas sempre sabendo que Timor tomou esta opção do português e do tétum em 1999 e não vale a pena estar a reabrir o assunto constantemente ou a questionar esta decisão, que já está enraizada", afirmou.

Ramos-Horta reconheceu que há estudos sobre outros países, incluindo alguns da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), que sugerem o uso da língua materna pode facilitar a apreensão de outras línguas, mas insistiu que "um estudo que é verdade num país, não tem que ser verdade noutro".

E questionou, ao mesmo tempo, o que ocorre num momento em que em Timor-Leste há "grande circulação de pessoas", com muitos "de uma região, de um grupo étnico-linguístico" a viver em zonas diferentes do país.

"Como é que se vai fazer isso? Separa-se as classes? Dividem-se os alunos? Se calhar é melhor ter línguas maternas opcionais onde quem quiser tem acesso, mas reconhecendo que há uma grande mistura de todos", afirmou.

Ao mesmo tempo, o ex-presidente insistiu que estes processos "não se podem fazer a corta-mato" e que uma das maiores deficiências continua a ser a falta de formação dos professores timorenses, incluindo o facto de não dominarem as línguas nas quais deve comunicar com os alunos.

ASP // VM

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