quarta-feira, 18 de março de 2015

Portugal. IMPACTOS PROFUNDAMENTE NEGATIVOS DA CRISE NA SAÚDE



Paula Santos – Expresso, opinião

Esta semana foi apresentado um estudo da Organização Mundial de Saúde e do Observatório Europeu sobre os Sistemas de Saúde, intitulado " O impacto da crise financeira no sistema de saúde e na saúde em Portugal".

Este estudo alerta para os impactos profundamente negativos das medidas adotadas pelo Governo na área da saúde, que conduziram ao agravamento das condições de funcionamento dos serviços públicos de saúde, à degradação dos cuidados de saúde prestados e às crescentes dificuldades no acesso à saúde pelos utentes.

Sublinha a ausência de avaliação do impacto das medidas adotadas pelo Governo na saúde, os sucessivos cortes orçamentais na saúde, a falta de condições de trabalho e as reduções salariais dos profissionais de saúde, o aumento da despesa das famílias com a saúde ou o recurso às taxas moderadoras como forma de financiamento da saúde, comprometendo a universalidade do acesso ao Serviço Nacional de Saúde.

Há muito que o PCP tem vindo a alertar para as consequências da política de saúde deste Governo. Há muito que denunciamos as consequências dos cortes orçamentais na degradação do funcionamento de centros de saúde e hospitais, na desvalorização profissional e social dos profissionais de saúde e na enorme carência de profissionais de saúde e na transferência de custos da saúde para os utentes, por via das taxas moderadoras e dos transportes de doentes não urgentes, impedindo o acesso aos cuidados de saúde.

Mas se em 2012 a situação da saúde no país era extremamente preocupante como reflete o referido estudo, em 2015 a situação é ainda mais grave, e isso foi bem visível na rutura dos serviços de urgência dos hospitais de norte a sul do país e nas sucessivas demissões de diretores de serviço e de chefes de equipas dos hospitais.

Mais uma vez, o Ministro da Saúde confrontado na semana passada na Comissão de Saúde com esta realidade insiste em fazer como as avestruzes e enfiar a cabeça na areia.

O Ministro não respondeu à grave situação das urgências nos hospitais. Este é um problema estrutural e exige medidas estruturais e não conjunturais como as que foram anunciadas, que como era expectável não resolveram os problemas.

O Ministro não respondeu porque os diretores de serviços e chefes de equipa dos hospitais se demitiram das suas funções, nem apresentou medidas para corresponder às questões levantadas por estes profissionais.

O Ministro não respondeu como vai evitar a saída precoce dos profissionais de saúde do Serviço Nacional de Saúde, seja por aposentação antecipada, seja porque optam por desempenhar funções em entidades privadas ou fora do país.

Assim como o Ministro não cumpriu a promessa de atribuir médico de família a todos os portugueses. Segundo os dados da Administração central dos Sistemas de Saúde há cerca de 1,3 milhões de portugueses sem médico de família.

O Governo vai fazendo de conta que tudo está bem, mas os utentes e os profissionais de saúde sabem que a realidade é bem diferente.

O Serviço Nacional de Saúde foi bastante penalizado pelas políticas deste Governo. A estratégia é muito clara: desinvestir, desacreditar para desmantelar e abrir o campo para as entidades privadas abocanharem mais serviços públicos de saúde.

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