Paula
Santos – Expresso, opinião
Esta
semana foi apresentado um estudo da Organização Mundial de Saúde e do
Observatório Europeu sobre os Sistemas de Saúde, intitulado " O impacto da
crise financeira no sistema de saúde e na saúde em Portugal".
Este
estudo alerta para os impactos profundamente negativos das medidas adotadas
pelo Governo na área da saúde, que conduziram ao agravamento das condições de
funcionamento dos serviços públicos de saúde, à degradação dos cuidados de
saúde prestados e às crescentes dificuldades no acesso à saúde pelos utentes.
Sublinha
a ausência de avaliação do impacto das medidas adotadas pelo Governo na saúde,
os sucessivos cortes orçamentais na saúde, a falta de condições de trabalho e
as reduções salariais dos profissionais de saúde, o aumento da despesa das
famílias com a saúde ou o recurso às taxas moderadoras como forma de
financiamento da saúde, comprometendo a universalidade do acesso ao Serviço
Nacional de Saúde.
Há
muito que o PCP tem vindo a alertar para as consequências da política de saúde
deste Governo. Há muito que denunciamos as consequências dos cortes orçamentais
na degradação do funcionamento de centros de saúde e hospitais, na
desvalorização profissional e social dos profissionais de saúde e na enorme carência
de profissionais de saúde e na transferência de custos da saúde para os
utentes, por via das taxas moderadoras e dos transportes de doentes não
urgentes, impedindo o acesso aos cuidados de saúde.
Mas
se em 2012 a situação da saúde no país era extremamente preocupante como
reflete o referido estudo, em 2015 a situação é ainda mais grave, e isso foi
bem visível na rutura dos serviços de urgência dos hospitais de norte a sul do
país e nas sucessivas demissões de diretores de serviço e de chefes de equipas
dos hospitais.
Mais
uma vez, o Ministro da Saúde confrontado na semana passada na Comissão de Saúde
com esta realidade insiste em fazer como as avestruzes e enfiar a cabeça na
areia.
O
Ministro não respondeu à grave situação das urgências nos hospitais. Este é um
problema estrutural e exige medidas estruturais e não conjunturais como as que
foram anunciadas, que como era expectável não resolveram os problemas.
O
Ministro não respondeu porque os diretores de serviços e chefes de equipa dos
hospitais se demitiram das suas funções, nem apresentou medidas para
corresponder às questões levantadas por estes profissionais.
O
Ministro não respondeu como vai evitar a saída precoce dos profissionais de
saúde do Serviço Nacional de Saúde, seja por aposentação antecipada, seja
porque optam por desempenhar funções em entidades privadas ou fora do país.
Assim
como o Ministro não cumpriu a promessa de atribuir médico de família a todos os
portugueses. Segundo os dados da Administração central dos Sistemas de Saúde há
cerca de 1,3 milhões de portugueses sem médico de família.
O
Governo vai fazendo de conta que tudo está bem, mas os utentes e os
profissionais de saúde sabem que a realidade é bem diferente.
O
Serviço Nacional de Saúde foi bastante penalizado pelas políticas deste
Governo. A estratégia é muito clara: desinvestir, desacreditar para desmantelar
e abrir o campo para as entidades privadas abocanharem mais serviços públicos
de saúde.
Sem comentários:
Enviar um comentário