quarta-feira, 18 de março de 2015

Portugal. LISTA VIP DE CONTRIBUINTES JÁ NÃO EXISTE, MAS EXISTIU. FOI DESTRUÍDA!


Bocas do Inferno

Mário Motta, Lisboa

A existência da lista VIP de contribuintes está a ser negada por Brigas Afonso, que hoje de manhã se demitiu de diretor-geral da Autoridade Tributária, conforme fazemos constar em Página Global no título acerca da famigerada lista Secretário de Estado já admite existência de "lista VIP" de contribuintes e fazemos referência em EXPRESSAMENTE. SE PASSOS METE NOJO, CAVACO SILVA NÃO LHE FICA ATRÁS.

Neste último título fazemos referência inclusive à honestidade de Brigas Afonso. Confiando na avaliação de Paulo Ralha, do Sindicato dos Trabalhadores dos Impostos. Pode ler no site da TSF: “O dirigente sindical elogiou o trabalho de António Brigas Afonso, a quem atribui as características de «frontalidade, uma pessoa transparente, direto e com uma honestidade a toda a prova»”.

Na carta de demissão Brigas Afonso “enfatiza que o Governo não teve qualquer intervenção nesta questão e que a AT «nunca» recebeu qualquer lista por parte de «nenhum membro do Governo» nem «nunca recebeu quaisquer instruções, escritas ou verbais, de qualquer membro deste Governo» para elaborar aquela lista, explicando ao longo da carta, de forma cronológica, os vários acontecimentos que agora levam à sua demissão.” Que a lista nunca existiu. Estavam só a fazer estudos internos e falhou ao não dar conhecimento desses estudos ao governo, tendo “involuntariamente contribuído para criar uma perceção errada sobre a existência de uma alegada lista de determinados contribuintes”.

São várias as gravações que fazem referência à existência dessa lista VIP de contribuintes. Na revista Visão uma delas gravações está publicada e é perfeitamente audível que a lista existe. A pergunta que surge é se na Autoridade Tributária estava tudo louco e andavam a falar de uma coisa que não existia. Não parece.

É aqui que cai por terra a alegada honestidade de Brigas Afonso, salientada por Paulo Ralha, dirigente sindical. Assim como a frontalidade. Também foi Paulo Ralha que disse na TSF que a lista podia ser “apagada” do sistema muito rapidamente e que logo que surgiram as primeiras referências deviam ter ordenado uma investigação, um inquérito. Mas não o fizeram. Foi somente há um ou dois dias ordenada essa investigação. Muitos dias depois desta seleuma. Diria uma semana depois. Então agora é fácil dizerem que “não existe uma lista VIP”. Já foi “apagada”. Já não se encontra no sistema. Isto é gato escondido com o rabo de fora. Existiu uma lista VIP… que já não existe.

Por que motivo Brigas Afonso se demite? Por ter criado a ideia de que existia uma lista VIP? Mas Dias Afonso é doidinho? Dirige a AT para andar a criar ideias? Que alegados estudos estavam a fazer na AT que não eram do conhecimento do governo? A criação de uma lista VIP? Mas é ao diretor daqueles serviços que competia criar uma lista VIP de contribuintes sabendo-se logo à partida que incorria numa inconstitucionalidade? Querem atirar areia para os olhos de quem? E Brigas Afonso quer ficar com o ónus dessa responsabilidade – ao vir a público contar um treta – a que preço? Onde está a frontalidade e honestidade de Brigas Afonso? Que cargo vai ocupar a seguir? Com que vencimento e mordomias? Seria muito útil, para compreendermos todo este processo que se seguisse o seu percurso futuro. É crível que Brigas Afonso seja o bode expiatório voluntário (ou não) para poupar o secretário de estado do pelouro, Paulo Núncio, que, alegadamente, segundo fontes, foi quem entregou a lista à AT. Assim como poupar o próprio governo.

Coincidentemente, como consta na comunicação social, a lista passou a existir após o escândalo da Tecnoforma, em que Passos Coelho estava envolvido. Estava e está. As justificações que Passos deu não foram satisfatórias. Como não foram as mais recentes acerca das dívidas à Segurança Social e nos impostos. Sendo a Tecnoforma a origem do “estudo” da lista podemos dizer com toda a propriedade que tal é verosímil e terá sido o “móbil do crime”. Qualquer investigador criminal chegaria a essa conclusão com toda a facilidade.

Temos assim que a lista existiu mesmo mas foi destruída e agora até estão a falar verdade ao dizerem que não existe. Pois não. Também não deixa de ser curioso que só agora o diretor-geral da Autoridade Tributária se tenha demitido. Por que razão não o fez logo que veio a público a existência da lista? A resposta pode estar na sua “obrigação” em fazer desaparecer a lista. Uma semana de trabalho?

Com otimismo podemos ainda admitir que Brigas Afonso se sinta muito mal ao ver-se refletido no espelho quando for barbear-se e que, então, retome o seu percurso de pessoa frontal e honesta dizendo o que sabe. Porém existe um grande se não: é que a lista já foi destruída. Não existe. Desse modo Brigas Afonso estaria realmente a falar sobre algo inexistente – que não podia ser provado. E lá estaria ele a contas com a justiça por estar a difamar alguém…

Sabemos que a política é porca mas mais porca se torna quando verdadeiros porcos, pessoas sem o mínimo de honestidade, se alapam nos poderes políticos e fazem da democracia e da transparência gato-sapato. Qual buldozer a destruir aquilo que os portugueses vêm construindo há 40 anos, depois de muito lutarem para viverem em liberdade, justiça, transparência e democraticamente.

Com esta “novela” da lista VIP ficamos novamente com a convicção semelhante ao caso Tecnoforma, ao caso das dívidas de Passos Coelho. Tudo fica por explicar com credibilidade. A desonestidade está a morar no governo com direito a todas as mordomias. Fica a sensação de a lista VIP ter existido mas já não existir por que foi destruída. Em tudo isto descrédito no governo é enorme. Justificando-se a sua demissão após tantos casos dúbios e de uma imoralidade extrema, que retira toda a autoridade a um governo que só subsiste devido a Cavaco Silva, presidente da República, lhe dar proteção indevida, imerecida e escandalosa.

A seguir, as declarações do diretor-geral da Autoridade Tributária que arrasam por completo a sua alegada frontalidade e honestidade. Lamentável, como há sempre justos que se dispõem a sacrificar-se por injustos de terríveis caráteres. (MM / PG)

Diretor da Autoridade Tributária nega lista VIP

O diretor-geral da Autoridade Tributária (AT) reafirma que não existe uma lista VIP de contribuintes e justifica a demissão por não ter informado a tutela sobre procedimentos internos que podem ter criado a perceção de que essa lista existia.

«Tenho consciência de que, ao não ter informado a tutela destes procedimentos e estudos internos, possa ter involuntariamente contribuído para criar uma perceção errada sobre a existência de uma alegada lista de determinados contribuintes, razão pela qual coloco o lugar à disposição», lê-se na carta de demissão, a que a Lusa teve acesso, escrita hoje por Brigas Afonso e enviada à ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque.

Na carta, o diretor-geral demissionário enfatiza que o Governo não teve qualquer intervenção nesta questão e que a AT «nunca» recebeu qualquer lista por parte de «nenhum membro do Governo» nem «nunca recebeu quaisquer instruções, escritas ou verbais, de qualquer membro deste Governo» para elaborar aquela lista, explicando ao longo da carta, de forma cronológica, os vários acontecimentos que agora levam à sua demissão.

A controvérsia criada à volta deste tema pode ter origem num conjunto de decisões internas da AT, explica António Brigas Afonso, lembrando que a AT detém nos seus sistemas de arquivos informáticos informação cada vez mais pormenorizada acerca dos contribuintes, o que - na sua opinião - «obriga» a aperfeiçoar mecanismo que garantem que esses dados são apenas utilizados para o cumprimento da missão da AT.

Também numa outra carta, enviada aos funcionários da AT, a que a TSF teve acesso, Brigas Afonso explica que apresentou hoje o pedido de demissão «na sequência das notícias que têm vindo a ser publicadas acerca da alegada existência de uma lista de contribuintes de acesso restrito a funcionários da AT.»

Brigas Afonso garante, no entanto, que «essa lista não existe e nunca existiu, como a AT já informou». Acrescentando que «todos os processos disciplinares que são do conhecimento público resultam exclusivamente de notícias publicadas nos jornais com violações consumadas do direito ao sigilo e de queixas de contribuintes individuais sobre acessos indevidos aos seus dados pessoais. Não foi aberto nenhum processo contra funcionários que efetuaram consultas no exercício das suas funções».

TSF, com Lusa

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