Macau,
China, 18 mar (Lusa) - Cinco testemunhas próximas do jovem português Luís
Amorim, encontrado morto em Macau em 2007, disseram hoje em tribunal considerar
impossível que o adolescente se tivesse suicidado, ao contrário do que foi
concluído pelas autoridades.
Hoje
decorreu a segunda sessão do julgamento resultante da ação interposta pelos
pais do jovem, que acusam o Governo de Macau de negligência nas investigações à
morte do filho, considerada suicídio, uma tese que a família nunca aceitou e
que foi refutada por uma segunda autópsia feita em Portugal já depois de o caso
ter sido arquivado.
Um
a um, amigos da família e professores de Luís Amorim foram perentórios ao
rejeitar que o jovem possa ter tirado a própria vida. Descreveram-no como
alguém com perspetivas para o futuro, uma personalidade forte, bom estudante,
integrado, com muitos amigos, equilibrado, feliz, inteligente, enérgico, com
vontade de viver, sorridente.
"O
Luís que conheci não se suicidaria nunca. Era algo que não fazia o mínimo de
sentido para alguém com a personalidade dele", afirmou António Aguiar,
amigo da família e quem acompanhou o pai no reconhecimento do corpo.
Duas
professoras do jovem recordam mesmo como o Luís manifestou planos para um
futuro próximo. "Lembro-me de ele ter insistido muito para que eu fosse à
Tailândia com eles na viagem de finalistas. Isso seria em abril, havia
expectativas de vida", salientou.
Outra
professora, Maria Antónia Costa, recordou que lhe comprou um bilhete para a
festa de finalistas, na véspera da morte do jovem. A docente lembrou que o
aluno ficou "sensibilizado" e lhe disse "Só por me ter comprado
o bilhete, vai ver que na segunda-feira lhe trago os trabalhos de casa e vou
ser o aluno que quer que eu seja". "Mas na segunda-feira já não tinha
o Luís", lamentou.
Todas
as testemunhas, que incluíram um dos jornalistas que acompanhou o caso,
repetiram as mesmas ideias-chave: que o suicídio era a tese veiculada e que
isso causou nos pais uma grande revolta, já que sentiam que os indícios de
homicídio não eram investigados. Todos recordam também um aviso da Polícia
Judiciária (PJ) aos pais, que foi entendido como uma ameaça.
Margarida
Conde, antiga colega da mãe de Luís Amorim, declarou mesmo que foi a própria
Judiciária a dizer-lhe que o jovem se tinha suicidado, uma afirmação que
contradiz os depoimentos anteriores de inspetores que garantiram que o suicídio
nunca foi ponto de partida.
A
professora recebeu uma chamada da amiga na manhã de dia 01 de outubro (Luís
Amorim foi encontrado morto a 30 de setembro), dizendo-lhe que "uma
desgraça" havia acontecido ao filho e pedindo-lhe que viesse ter com ela à
PJ. Quando chegou às instalações perguntou o que se tinha passado: "Estava
um senhor ao balcão que disse 'O seu filho suicidou-se, atirou-se da ponte'.
Isso foi dito para a mãe e para as pessoas que estavam lá".
Todas
as testemunhas recordaram também relatos da mãe sobre a forma como soube da
morte do filho. "Às seis ou sete da manhã, a mãe foi chamada à PJ. A
primeira coisa que lhe perguntaram foi 'O seu filho era feliz?
Suicidou-se'", contou o jornalista João Varela.
Outro
relato comum foi de como a família terá recebido uma mensagem das autoridades.
"Lembro-me de o [José] Amorim ter ido à PJ e terem-lhe dito que era melhor
eles irem embora porque tinham uma filha", descreveu João Travassos da
Costa, amigo da família. Esta mensagem foi entendida como uma "ameaça
velada".
Foi
descrito um sentimento de grande revolta por parte dos pais, que foi crescendo
com o passar do tempo. "Os pais iam sugerindo diligências que consideravam
importantes para esgotar a tese de homicídio. Isso não era feito. Diziam-me 'O
que é que o Ministério Público tem a esconder para fazer isto?", lembrou
João Varela.
ISG
// VM
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