quarta-feira, 18 de março de 2015

Testemunhas negam suicídio no caso do jovem português encontrado morto em Macau




Macau, China, 18 mar (Lusa) - Cinco testemunhas próximas do jovem português Luís Amorim, encontrado morto em Macau em 2007, disseram hoje em tribunal considerar impossível que o adolescente se tivesse suicidado, ao contrário do que foi concluído pelas autoridades.

Hoje decorreu a segunda sessão do julgamento resultante da ação interposta pelos pais do jovem, que acusam o Governo de Macau de negligência nas investigações à morte do filho, considerada suicídio, uma tese que a família nunca aceitou e que foi refutada por uma segunda autópsia feita em Portugal já depois de o caso ter sido arquivado.

Um a um, amigos da família e professores de Luís Amorim foram perentórios ao rejeitar que o jovem possa ter tirado a própria vida. Descreveram-no como alguém com perspetivas para o futuro, uma personalidade forte, bom estudante, integrado, com muitos amigos, equilibrado, feliz, inteligente, enérgico, com vontade de viver, sorridente.
"O Luís que conheci não se suicidaria nunca. Era algo que não fazia o mínimo de sentido para alguém com a personalidade dele", afirmou António Aguiar, amigo da família e quem acompanhou o pai no reconhecimento do corpo.

Duas professoras do jovem recordam mesmo como o Luís manifestou planos para um futuro próximo. "Lembro-me de ele ter insistido muito para que eu fosse à Tailândia com eles na viagem de finalistas. Isso seria em abril, havia expectativas de vida", salientou.

Outra professora, Maria Antónia Costa, recordou que lhe comprou um bilhete para a festa de finalistas, na véspera da morte do jovem. A docente lembrou que o aluno ficou "sensibilizado" e lhe disse "Só por me ter comprado o bilhete, vai ver que na segunda-feira lhe trago os trabalhos de casa e vou ser o aluno que quer que eu seja". "Mas na segunda-feira já não tinha o Luís", lamentou.

Todas as testemunhas, que incluíram um dos jornalistas que acompanhou o caso, repetiram as mesmas ideias-chave: que o suicídio era a tese veiculada e que isso causou nos pais uma grande revolta, já que sentiam que os indícios de homicídio não eram investigados. Todos recordam também um aviso da Polícia Judiciária (PJ) aos pais, que foi entendido como uma ameaça.

Margarida Conde, antiga colega da mãe de Luís Amorim, declarou mesmo que foi a própria Judiciária a dizer-lhe que o jovem se tinha suicidado, uma afirmação que contradiz os depoimentos anteriores de inspetores que garantiram que o suicídio nunca foi ponto de partida.

A professora recebeu uma chamada da amiga na manhã de dia 01 de outubro (Luís Amorim foi encontrado morto a 30 de setembro), dizendo-lhe que "uma desgraça" havia acontecido ao filho e pedindo-lhe que viesse ter com ela à PJ. Quando chegou às instalações perguntou o que se tinha passado: "Estava um senhor ao balcão que disse 'O seu filho suicidou-se, atirou-se da ponte'. Isso foi dito para a mãe e para as pessoas que estavam lá".

Todas as testemunhas recordaram também relatos da mãe sobre a forma como soube da morte do filho. "Às seis ou sete da manhã, a mãe foi chamada à PJ. A primeira coisa que lhe perguntaram foi 'O seu filho era feliz? Suicidou-se'", contou o jornalista João Varela.

Outro relato comum foi de como a família terá recebido uma mensagem das autoridades. "Lembro-me de o [José] Amorim ter ido à PJ e terem-lhe dito que era melhor eles irem embora porque tinham uma filha", descreveu João Travassos da Costa, amigo da família. Esta mensagem foi entendida como uma "ameaça velada".

Foi descrito um sentimento de grande revolta por parte dos pais, que foi crescendo com o passar do tempo. "Os pais iam sugerindo diligências que consideravam importantes para esgotar a tese de homicídio. Isso não era feito. Diziam-me 'O que é que o Ministério Público tem a esconder para fazer isto?", lembrou João Varela.

ISG // VM

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