BORNITO
DE SOUSA BANALIZA A MORTE DE MILITARES E DESMOBILIZADOS ABANDONADOS
William
Tonet* – Folha 8 (ao)
O
ministro da Administração do Território, Bornito de Sousa fez um discurso
incendiário, à propósito da Batalha do Kuito Kuanavale. Senti-me envergonhado,
pois como canoa, partilhamos, em circunstâncias iguais, os muros e cerca da
cadeia de São Nicolau, no tempo colonial.
Bornito
não precisava de superar Pôncio Pilatos levando ao delírio uma cega e
bajuladora plateia, para idolatrar a arrogância e boçalidade do Barrabás institucional
angolano.
Enquanto
político, ex-comissário e professor universitário, tem capacidade técnica
bastante, para dispensar a bajulação, salvo se para obtenção fácil de
mordomias materiais e financeiras.
Mas,
será ter Bornito de Sousa conhecimento profundo do que realmente se passou, na
Batalha do Kuito Kwanavale, para cantarolar, aos quatro ventos, uma vitória,
quando a maioria dos militares das FAPLA, que estiveram no teatro das
operações, andam no mais puro abandono e indigência, por não se lhes atribuir
dignas e merecedoras pensões de reforma...
Logo,
a evocação do fim do período de graça, aos pretensos derrotados, ofende a
memória destes milhares e milhares de militares, mortos, mutilados e
sobreviventes que vegetam nas ruas da amargura e arrependimento, face ao
“criminoso” abandono, por parte de um governo que ontem defenderam.
Os
verdadeiros soldados do Kuito Kwanavale, nem conseguem orgulhar-se dos feitos
de heroísmo, pois calcorreiam calados e revoltados, as calçadas e carreiros da
fome, da humilhação e da discriminação, ante a ostentação de uns poucos que têm
enriquecido, ilicitamente, em seu nome...
Nesse
prisma, descavilhar uma granada, no meio de um batalhão esfomeado é muito
perigoso, logo é preciso ter noção da força dos conceitos. No caso, os ex-militares das FAPLA abandonados à sua sorte, podem, tal como Hermes, o pai da
hermenêutica, interpretar as afirmações de Bornito de Sousa, como sendo uma
clara incitação, ao surgimento de grandes manifestações dos batalhões
militares da fome, reivindicando direitos adquiridos, junto do governo que
defenderam, em nome de uma ideologia socialista, que os traiu...
Os
militares das FAPLA, neste prisma, do ponto de vista material e formal, foram
os grandes derrotados, pois vegetam sem honra nem glória, enquanto os chefes,
num toque de mágica passaram de proletários a proprietários vorazes,
enriquecendo à partir do sangue dos militares tombados e outros abandonados.
Será
que Bornito de Sousa poderia falar em nome dos militares da 47.ª Brigada das
FAPLA, ingloriamente tombados e cujas famílias, nem um saco de lentilhas ou
fuba de milho receberam? Não! Destes ele cala-se, preferindo lembrar-se de um
general cubano, Moracen, que contribuiu para a divisão e morte dos angolanos, pois
sendo cubano tem um título de reforma das FAA, negado a muitos autóctones angolanos.
Bornito
escondeu também as razões, pelas quais foi brutalmente assassinado o general
Ochoa, por ordem do ditador cubano, Fidel Castro, precisamente, devido à
batalha do Kuito Kwanavale.
O
meu amigo Bornito de Sousa, não deveria recordar, uma falsa glória, pois, na
verdade é uma vergonha, o que ocorreu na Batalha do Kuito Kwanavale, apenas
contada a uma só voz.
Se
de facto existe um vencedor, que tenha a coragem de reunir os altos comandos
das ex-FAPLA (MPLA), das ex-FALA (UNITA), e dos exércitos mercenários e
invasores de Cuba e do ex-regime do Apartheid, para que todos contem, com
mapas e factos o que realmente se passou.
Se
isso ocorrer, saberemos, porque tendo as FAPLA, ganho, não chegaram até a
Jamba e ainda tiveram de negociar com Savimbi, algo fora da sua cultura, pois
em nenhum momento, o MPLA negoceia, em estado de força.
Por
esta razão e com este subsídio de Bornito de Sousa, sendo vencedores, mas
despojados de regalias, concedidas aos cubanos e outros estrangeiros, os militares
das FAPLA, ao abrigo do quadro constitucional, devem manifestar-se e
perguntar como enriqueceram tanto, alguns poucos generais e na proporção
inversa, empobreceram milhares de soldados, que nem um prato de pirão têm
para comer, todos os dias.
O
fim do período de graça a que se refere Bornito de Sousa é pois um refrão ao
despertar de consciência dos ex- FAPLA na sua marcha reivindicativa de
direitos.
E
termino com uma citação de Aristóteles, para os meus amigos Bornito de Sousa e
Higino Carneiro, este último que apunhalou a nossa amizade: “sou muito teu
amigo, mas muito mais amigo da verdade”.
*William
Tonet é diretor do jornal Folha 8 – Saiba mais em Pitigrili
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