Representantes
da associação Mãos Livres vão à província para assegurar a defesa do líder da
seita Luz no Mundo.
Advogados
da associação Mãos Livres regressam na segunda-feira ao Huambo para tentar
contactar Julino
Kalupeteka,
líder da seita “A luz do mundo”, cujos fiéis se envolveram em confrontos
mortais com a polícia, estando detido há um mês.
A
informação foi confirmada hoje à Lusa pelo advogado e dirigente
daquela associação cívica, David Mendes, que pretende assegurar a defesa de
Kalupeteka e que escreveu ao secretário-geral da Organização das Nações Unidas
(ONU), Ban Ki-moon, pedindo uma investigação independente a este caso, face aos
números díspares de mortos nos confrontos entre fiéis e polícia.
“Na
segunda-feira, vou estar outra vez no Huambo e espero ter autorização para
estar com ele [Kalupeteka]. Quem ordena o acesso a um preso, nos termos da
nossa lei, é quem está a dirigir a investigação [Ministério Público] e não os
serviços prisionais, isto é uma aberração”, afirmou David Mendes, aludindo à
falta de consenso, entre as autoridades, sobre quem pode autorizar o acesso dos
advogados ao líder daquela seita.
Em
causa estão os confrontos de 16 de Abril, na Serra Sumé, província do Huambo,
entre a polícia, que tentava dar cumprimento a um mandado de captura de
Kalupeteka e outros dirigentes daquela seita ilegal em Angola, e alguns fiéis
que estavam concentrados no acampamento daquela igreja.
A
polícia contabilizou, na versão oficial, nove agentes e 13 fiéis mortos nestes
confrontos, enquanto outras versões, nomeadamente da oposição angolana, apontam
para “várias centenas” de mortos entre os seguidores da seita, cujo líder foi
detido no dia seguinte, permanecendo desde então em prisão preventiva.
“Não
compreendemos quais são as razões por que até hoje não nos permitem estar com o
senhor Kalupeteka. Na segunda-feira vamos estar no Huambo porque gostaríamos de
falar com ele e de saber qual o crime de que está acusado”, apontou David
Mendes.
“Ele
ordenou estas mortes? Como aconteceu? Ele, pelo que sabemos, não teve nenhuma
participação directa”, disse ainda o advogado e dirigente da Mãos Livres, que
pretende assegurar a defesa em tribunal do fundador desta seita, conhecida por
advogar o fim do mundo em 2015 ou por travar a vacinação e escolarização dos
fiéis.
Face
à mediatização deste caso, que motivou mesmo a condenação, por mais do que uma
vez, do presidente José Eduardo dos Santos, a Mãos Livres afirma que
dificilmente Kalupeteka terá um julgamento “justo”.
“Para
ser sincero, não acredito. E não acredito pela intervenção do Presidente da
República, que foi extemporânea. Como é que, numa questão que ainda estava numa
fase inicial, o Presidente já tinha tomado um posicionamento? Influenciou
diretamente naquilo que poderá acontecer”, criticou.
“Esse
é o nosso receio, que não haja um julgamento justo, que as pessoas sejam
condenadas sem que tenham direito a uma defesa condigna, porque publicamente já
estão condenados”, concluiu David Mendes.
Lusa,
em Rede Angola
O Rede
Angola esteve no acampamento da seita. Leia a Grande Reportagem.
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