sexta-feira, 15 de maio de 2015

Angola. SOS HABITAT DENUNCIA PERSEGUIÇÕES




Rafael Morais garante que o escritório esteve cercado todo o dia de ontem e o automóvel em que seguiam foi seguido.

Borralho Ndomba.- Rede Angola

O coordenador da SOS Habitat Rafael Morais denunciou que o escritório da organização não governamental foi cercado ontem por pessoas desconhecidas, que também terão perseguido os membros da associação que defende os direitos de habitação no país. Em declarações ao Rede Angola, Morais afirmou que, pelo menos, cinco indivíduos, repartidos por duas viaturas e uma motorizada, ficaram das 9h às 16h a vigiar as instalações da SOS Habitat, localizadas no bairro Calemba II, município de Belas.

“Ontem o nosso escritório estava cercado. Essas pessoas, suponho, queriam fazer-nos mal, porque passaram todo dia a vigiar-nos. E no fim do dia, nos perseguiram mesmo”, disse Rafael Morais, informando que os membros da organização acabaram por conseguir escapar da suposta emboscada, armada no fim do expediente, após a saída do escritório.

Durante a perseguição, de acordo com activista, as duas viaturas de cor preta que transportavam quatro dos homens, terão perdido o alvo de vista devido ao mau estado da via. Somente o homem da motorizada se manteve próximo do automóvel onde estavam os membros da SOS Habitat e da Christian Aid, organização britânica que financia a ONG angolana há mais de dez anos.

“Eles não conseguiram entrar no meu bairro [na zona do Avó Kumbi, bairro do Golf I], porque passámos em zonas de difícil acesso para os modelos da viatura que os transportavam. O nosso carro, um Land Cruiser, conseguiu passar. O homem da mota conseguiu também passar e nos seguiu, sempre a telefonar aos colegas, para quem passava orientações. Dirigimo-nos até a uma unidade da polícia e conseguimos [fazer] deter o mesmo indivíduo”.

Segundo Rafael Morais, o comportamento do “perseguidor” – que não identificou – foi suspeito. “O que vimos lá na esquadra dá a entender que ele também é um policia, porque ele esteve relaxado ao lado do investigador. Parecia-nos que já se conheciam e quem deixou os dados fui eu e não ele”, lamentou.

O coordenador da SOS Habitat explicou ainda que, no passado dia 30 de Abril, os membros da sua organização já tinham sido perseguidos. Rafael denunciou que o carro que os perseguiu ontem tem as mesmas características das do outro do mês passado. O activista supõe que o cerco pode está relacionado com casos de expropriação de terrenos no município do Ícolo e Bengo e também devido ao facto de a ONG ter contrariado, em Genebra, a posição do Estado quanto à defesa dos direitos humanos em Angola.

“Nos últimos dias estamos a seguir casos críticos, que envolvem polícia, forças armadas, e é claro que isso pode motivar esta perseguição. E não só, no dia 19 de Março a SOS Habitat esteve em Genebra, quando o governo angolano apresentou a sua posição quanto à situações dos direitos humanos no país, mas nós apresentámos um documento que dizia o contrário do apresentado pelos representantes angolanos”, adiantou Rafael Morais.

“E o Ministro da Justiça ficou consternado com aquilo que apresentámos. Ele nos chamou, conversámos e houve uma discussão muito séria Eu sei que isso pode estar também na base dessas perseguições”. Rafael Morais garantiu, no entanto, que o trabalho da ONG continuará. “Quem acha que o trabalho da SOS Habitat está a ferir o seu direito ou a sua sensibilidade que vá à Policia e que nos coloquem em julgamento. Nós vamos responder”, avisou.

Foto Ampe Rogério

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