O
crescimento económico em Angola não se tem feito acompanhar do respetivo
desenvolvimento social, sublinhou hoje o investigador angolano Nelson Pestana,
que falou à Lusa à margem de uma conferência na Fundação Calouste Gulbenkian
(FCG), em Lisboa.
"Após
27 anos de guerra civil, os angolanos puseram-se de acordo sobre os modelos
político e económico e entrámos num período de paz, que deveria ser de
desenvolvimento, mas os números estão aí para mostrar que, apesar do
crescimento económico que se verificou em Angola, não houve o correspondente
desenvolvimento social", declarou o conferencista à agência Lusa.
Nelson
Pestana, investigador-coordenador no Centro de Estudos e Investigação
Científica da Universidade Católica de Angola, apresentou a palestra
"Angola nos 40 Anos de Independência: ruturas e continuidades" no
âmbito da iniciativa "40 Anos de Independências", promovida pela FCG.
"Quando
comparamos os indicadores do desenvolvimento económico com os do índice de
desenvolvimento humano, vê-se perfeitamente que perdemos mais do que uma
década. Se a década de 70 foi perdida em função da própria independência e da
guerra civil, a década de 80 perdeu-se pela opção de centralismo económico que
foi feito e a década de 90 perdemo-la pelo facto de um grupo se ter apoderado
da riqueza e a ter tornado exclusiva desse grupo", afirmou.
Para
o também professor do Instituto Superior de Ciências da Educação, "neste
momento, Angola não tem condições de crescimento económico para fazer mais do
que manter ou melhorar minimamente os níveis sociais do país".
"O
acordo de independência de Angola tinha três componentes: uma componente
política, uma componente social e uma componente psicológica. Havia a
libertação política, a libertação social e a libertação psicológica. Nós apenas
fizemos a libertação política e, mesmo assim, fizemo-la pela metade. As outras
foram abandonadas", criticou Nelson Pestana.
"A
libertação psicológica terá sido mesmo recuperada a favor do novo poder,
criando novas sujeições e recuperando instrumentos que a própria potência
colonial utilizava", com claro impacto na participação cívica, adiantou.
Criou-se,
ou repôs-se, "um desenvolvimento separado, entre o espaço de cidadania --
agora não a 'civitas' colonial mas uma 'civitas' nacional restrita -- e o
daquele que não tem direitos, que está excluído da 'civitas' nacional",
explicou o investigador.
"De
qualquer forma, estamos aqui para continuar a lutar para que a libertação
social e a libertação psicológica se façam", concluiu.
Nelson
Pestana licenciou-se em Direito pela Faculdade de Direito de Angola e
doutorou-se em
Ciência Política pela Universidade de Montepellier I,
participando da vida académica e cultural angolana, na medida em que é autor de
artigos científicos mas também de trabalhos literários (que assina como E.
Bonavena) publicados em Angola, Moçambique, Portugal, Brasil, Senegal, França,
Itália e Estados Unidos.
Lusa,
em Notícias ao Minuto
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