quarta-feira, 3 de junho de 2015

A SEGURANÇA EM ÁFRICA



Jornal de Angola, editorial

A segurança na África Central constitui prioridade da  diplomacia africana numa altura em que o continente se debate com  constantes  desafios, desde a instabilidade política  à violência  de grupos terroristas e  expansão das redes de tráfico de seres humanos e de drogas.

O mapa geopolítico africano mudou consideravelmente e reduziram substancialmente os conflitos entre Estados, assistindo-se agora a actividades armadas que ameaçam a integridade territorial e a soberania de vários países. 

Lidar com grupos rebeldes que tendem a alargar a actuação a várias regiões do continente deixou de ser um desafio circunscrito a um ou dois Estados. Terminou ontem, em Luanda, a reunião de peritos  do Comité Consultivo Permanente das Nações Unidas  para África Central, na qual foi discutida a situação de segurança na África Central, particularmente na República Democrática do Congo, Burundi e República Centro Africana. 

Depois da reunião dos Chefes de Estado e de Governo da Região dos Grandes Lagos, aquela iniciativa do Comité Consultivo Permanente das Nações Unidas constitui um passo importante, na medida que a situação geopolítica na África Central continua a inspirar cuidados.

Devido às fragilidades nas fronteiras africanas é crescente a ameaça de grupos terroristas, redes de contrabando de drogas, órgãos e seres humanos.  

Os  que geram  instabilidade aproveitam-se da grande  mobilidade humana em África, onde se verifica enorme a circulação de pessoas e bens, o que constitui um vantagem que deve ser preservada para não resvalar para perigosas situações de instabilidade. 

Em muitas zonas, por causa dos  esforços de integração regional e de outros processos de aproximação económica, foram subestimadas questões burocráticas relativas à entrada e saída de pessoas e bens. 

Devido às deficiências no controlo dos fluxos migratórios cresceu o nível de vulnerabilidade das fronteiras, razão pela qual se justifica a concertação permanente a nível continental ou regional entre as lideranças africanas.

Face à situação tornou-se imperioso o reforço da cooperação, bem como a troca de informações e a criação de mecanismos que melhorem o controlo das fronteiras, a par de iniciativas de natureza jurídica que permitam garantir segurança, estabilidade e paz. 

O papel de Angola neste particular é de dupla responsabilidade, pois, além de membro activo na África Central, é membro não permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas e detém a presidência rotativa da Conferência Internacional sobre a Região dos Grandes Lagos. 

O papel político e diplomático de Angola tem sido activo na procura de soluções para os problemas actuais, designadamente a situação na República Democrática do Congo, Burundi,  República Centro Africana e no Sudão do Sul. 

Angola assegura a participação com apoio ao processo de transição na RCA, baseada na reconciliação e estabilização do por via do diálogo inclusivo e alargado entre todas as forças políticas daquele país. 

No Sudão do Sul, a necessidade das partes retomarem a via negocial constitui o caminho conveniente para evitar  mortes de inocentes e deslocados, bem como a  destruição de infra-estruturas, pilhagem dos recursos e uso de crianças como soldados. Na República Democrática do Congo, o apoio de Angola para a materialização das resoluções do Conselho de Segurança para o desarmamento dos rebeldes da FDLR é total após se terem esgotado todas as saídas pacíficas para a crise.
 
Em resumo, são países que ainda vivem infelizmente situações que preocupam a região e o continente, pelo que faz todo o sentido que as lideranças africanos se  empenhem para  evitar que as crises  assumam  maiores proporções. 

Tratando-se da região central do continente e atendendo à  instabilidade política e militar, não se podem minimizar factores que tendem a alimentar tensões e conflitos entre os Estados, Por essa razão são precisas iniciativas que permitam o reforço da unidade e da concertação.

O facto dos países da sub-região terem criado instrumentos de concertação e meios para a tomada de decisões políticas e militares destinadas a fazer face a desafios comuns é positivo. 

Os especialistas reunidos em Luanda, conhecedores da verdadeira situação na sub-região, não temos dúvidas que vão contribuições valiosas para ajudar  na preparação do processo de tomada de decisões com  soluções duradouras para os  problemas.

Que   as resoluções e recomendações do  Comité Consultivo Permanente das Nações Unidas venham a constituir  uma importante fonte  de superação das crises  que  apenas servem para atrasar o desenvolvimento de África e agravar os problemas do nosso continente.

Sem comentários:

Mais lidas da semana