Jornal
de Angola, editorial
A
segurança na África Central constitui prioridade da diplomacia africana
numa altura em que o continente se debate com constantes desafios,
desde a instabilidade política à violência de grupos terroristas
e expansão das redes de tráfico de seres humanos e de drogas.
O
mapa geopolítico africano mudou consideravelmente e reduziram substancialmente
os conflitos entre Estados, assistindo-se agora a actividades armadas que
ameaçam a integridade territorial e a soberania de vários países.
Lidar com grupos rebeldes que tendem a alargar a actuação a várias regiões do continente deixou de ser um desafio circunscrito a um ou dois Estados. Terminou ontem, em Luanda, a reunião de peritos do Comité Consultivo Permanente das Nações Unidas para África Central, na qual foi discutida a situação de segurança na África Central, particularmente na República Democrática do Congo, Burundi e República Centro Africana.
Depois da reunião dos Chefes de Estado e de Governo da Região dos Grandes Lagos, aquela iniciativa do Comité Consultivo Permanente das Nações Unidas constitui um passo importante, na medida que a situação geopolítica na África Central continua a inspirar cuidados.
Devido às fragilidades nas fronteiras africanas é crescente a ameaça de grupos terroristas, redes de contrabando de drogas, órgãos e seres humanos.
Os que geram instabilidade aproveitam-se da grande mobilidade humana em África, onde se verifica enorme a circulação de pessoas e bens, o que constitui um vantagem que deve ser preservada para não resvalar para perigosas situações de instabilidade.
Em muitas zonas, por causa dos esforços de integração regional e de outros processos de aproximação económica, foram subestimadas questões burocráticas relativas à entrada e saída de pessoas e bens.
Devido às deficiências no controlo dos fluxos migratórios cresceu o nível de vulnerabilidade das fronteiras, razão pela qual se justifica a concertação permanente a nível continental ou regional entre as lideranças africanas.
Face à situação tornou-se imperioso o reforço da cooperação, bem como a troca de informações e a criação de mecanismos que melhorem o controlo das fronteiras, a par de iniciativas de natureza jurídica que permitam garantir segurança, estabilidade e paz.
O papel de Angola neste particular é de dupla responsabilidade, pois, além de membro activo na África Central, é membro não permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas e detém a presidência rotativa da Conferência Internacional sobre a Região dos Grandes Lagos.
O papel político e diplomático de Angola tem sido activo na procura de soluções para os problemas actuais, designadamente a situação na República Democrática do Congo, Burundi, República Centro Africana e no Sudão do Sul.
Angola assegura a participação com apoio ao processo de transição na RCA, baseada na reconciliação e estabilização do por via do diálogo inclusivo e alargado entre todas as forças políticas daquele país.
No Sudão do Sul, a necessidade das partes retomarem a via negocial constitui o caminho conveniente para evitar mortes de inocentes e deslocados, bem como a destruição de infra-estruturas, pilhagem dos recursos e uso de crianças como soldados. Na República Democrática do Congo, o apoio de Angola para a materialização das resoluções do Conselho de Segurança para o desarmamento dos rebeldes da FDLR é total após se terem esgotado todas as saídas pacíficas para a crise.
Em resumo, são países que ainda vivem infelizmente situações que preocupam a região e o continente, pelo que faz todo o sentido que as lideranças africanos se empenhem para evitar que as crises assumam maiores proporções.
Tratando-se da região central do continente e atendendo à instabilidade política e militar, não se podem minimizar factores que tendem a alimentar tensões e conflitos entre os Estados, Por essa razão são precisas iniciativas que permitam o reforço da unidade e da concertação.
O facto dos países da sub-região terem criado instrumentos de concertação e meios para a tomada de decisões políticas e militares destinadas a fazer face a desafios comuns é positivo.
Os especialistas reunidos em Luanda, conhecedores da verdadeira situação na sub-região, não temos dúvidas que vão contribuições valiosas para ajudar na preparação do processo de tomada de decisões com soluções duradouras para os problemas.
Que as resoluções e recomendações do Comité Consultivo Permanente das Nações Unidas venham a constituir uma importante fonte de superação das crises que apenas servem para atrasar o desenvolvimento de África e agravar os problemas do nosso continente.
Sem comentários:
Enviar um comentário