quarta-feira, 3 de junho de 2015

Moçambique. KING FRANGO USURPA MACHAMBAS DE 300 CAMPONESES EM NAMPULA



Luís Rodrigues – Verdade (mz)

Trezentos e vinte e oito camponeses que se dedicam à produção de diversas culturas na chamada cintura verde da cidade de Nampula, mas concretamente no posto administrativo urbano de Namicopo, ameaçam marchar até aos edifícios do governo da província e do Conselho Municipal para pressionar as autoridades competentes a reverem o projecto de atribuição de mais de 500 hectares à King frango, uma das maiores empresas de produção de aves.

A disputa de terra continua a ser um dos problemas sem solução à vista na cidade de Nampula. Em Namicopo, os camponeses, alguns dos quais com mais de 50 anos de ocupação da parcela em disputa, alegam estar a ser vítimas de chantagem por parte dos funcionários daquela empresa e do pessoal que compõe a comissão dos produtores de Namicopo.

A alegada falta de transparência no processo de levantamento dos camponeses com direito a compensações constitui uma das principais causas do litígio. Outra razão prende-se com a exiguidade dos valores propostos pela empresa e com a coercividade na retirada dos camponeses que ainda continuam com as algumas culturas ainda por colher.

Na semana passada, a empresa anunciou o arranque dos pagamentos das referidas compensações a alguns camponeses para a sua retirada imediata da área, mas os critérios usados estão a ser contestados devido a uma alegada falta de justiça.

De acordo com os denunciantes, alguns produtores, a exemplo de Dionísio Maurício, Isac Armando, Eduardo Mutali, Eusébio Jamal e Pastola Cocola (naturais da zona e agora com idades que variam entre 50 e 70 anos) e que começaram a explorar a área na década de 90, não constam da lista dos que deverão beneficiar das compensações.

Aliás, em 2003, aqueles cidadãos chegaram a ser detidos na Primeira Esquadra da Policia da República de Moçambique, naquela província, indicados de desobedecerem as autoridades governamentais depois de uma queixa formal apresentada ao governo e que não surtiu resultados.

Eusébio Jamal, que participou dos primeiros contactos com o então governador de Nampula para a cedência do espaço, sente-se excluído das indeminizações e, na companhia de outros tantos, decidiu recorrer à imprensa e à Liga Moçambicana dos Direitos Humanos para denunciar todas as falcatruas e exigir a reposição da justiça. Esta semana, o grupo decidiu recorrer a outras entidades para exigir a legalidade.

Arofina Omar, líder comunitária do bairro de Carrupeia e uma das produtoras de Namicopo, acusa a comissão dos camponeses, na pessoa do seu responsável, identificado pelo nome de José dos Santos Cololo, de estar manipular os factos para seu benefício e da empresa.

Cololo é ainda indiciado de ter alistado os seus familiares e amigos e que nem se quer possuem machambas na referida parcela para se beneficiarem das indemnizações. O assunto está a criar polémica no seio dos moradores de Carrupeia, Namicopo e Rex que viam na agricultura de subsistência a sua fonte alimentar e de rendimento.

Instado a pronunciar-se à volta do assunto, José Cololo negou qualquer tentativa de usurpação da terra dos camponeses. A nossa fonte disse que o levantamento do número real dos possíveis beneficiários das compensações obedeceu a critérios aceitáveis, não havendo, por isso, espaço para tanto alarme, uma vez que foram realizadas várias reuniões de consulta nas quais a empresa King Frango se comprometera a cumprir as suas obrigações.

Segundo Tafadzwa Moyo, representante da empresa, diz que esta vai cumprir a sua promessa de pagar a todos os camponeses abrangidos e sem recurso à violência. Para ressarcir os lesados, a King Frango diz que vai despender cerca de dois milhões de meticais.

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