Carvalho
da Silva – Jornal de Notícias, opinião
Debaixo
do chapéu da "crise", exposta ao Mundo em 2007/ 2008, esconde-se, sem
dúvida, o maior roubo organizado da história da Humanidade, sendo que em grande
medida é feito de forma "legal". Em Portugal, as políticas
prosseguidas em quase todo este período têm dado, também, um significativo
contributo a essa maldade.
Nos
últimos tempos, o Governo PSD/CDS anda num frenesim a "transferir"
para interesses particulares dominantes, estrangeiros e nacionais, a riqueza
coletiva e os bens dos portugueses, debilitando a sociedade nas suas condições
de vida e retirando capacidades para o país construir um futuro de progresso e
de justiça.
O
sistema financeiro, atuando sem controlo, produz continuamente novos processos
de atuação especulativa, de negociatas que sacam a favor de uma ínfima minoria
a riqueza existente, gerando pobreza, sofrimento, guerras e miséria. Os
governos, como o de Passos Coelho e Portas, meros executantes da agenda
neoliberal dominante, vão colocando os orçamentos do Estado ao serviço do
saque, seja através dos cortes nos direitos - à saúde, ao ensino, à segurança e
proteção social -, seja privatizando tudo o que pode dar lucro.
As
cadeias de valor da economia de hoje - estruturadas à escala global, mas
influenciando e agindo, direta e indiretamente, sobre a organização económica
de qualquer país e setor de atividade - têm sempre no comando o sistema
financeiro. Geram-se grandes ganhos de produtividade e lucros, mas não para os
trabalhadores. As multinacionais fazem opções que provocam desemprego em massa,
desastres sociais e humanos, e os custos da reparação desses danos ficam depois
entregues aos sistemas públicos de proteção social e às frágeis capacidades dos
estados depauperados. Os sistemas de justiça vão-se deixando seduzir e
colocam-se de forma crescente do lado dos poderes que imperam, ajudando a
submeter e a explorar os povos.
O
FMI é objetivamente um instrumento ativo deste processo de exploração e
aprisionamento de povos. É uma instituição de várias faces: organiza-se
propositadamente com expressão de dissidências e críticas internas, utilizando
essa "sabedoria" milenar para poder agir hipocritamente com toda a
desfaçatez. No mesmo período em que, conjuntamente com o BCE e a Comissão
Europeia, procura humilhar os gregos e impor-lhes ainda mais sacrifícios
estúpidos, ou vem a Portugal deixar receitas desse tipo (mais discretamente
porque se aproximam eleições), publica um relatório denunciando a flexibilidade
dos mercados laborais e os sistemas fiscais duros e menos progressivos como
grandes causas de desigualdades e fator impeditivo do crescimento económico.
Com que direito Christine Lagarde insulta os governantes gregos, quando o FMI
esteve por detrás de movimentos financeiros e negócios que delapidaram o erário
público grego em muitos milhares de milhões de euros, como hoje está
sobejamente provado?
É
ignóbil que se juntem ao coro daqueles que, levianamente, querem derrotar a
democracia grega, fazendo de conta que o povo grego não fez enormíssimos
sacrifícios que nada resolveram e dizendo que "a bola está do lado da
Grécia", quando o que efetivamente lançam para o lado grego é uma potente
granada que pretendem fazer explodir nas mãos do povo.
Face
a um complexo processo político (com tensões de guerra) à escala europeia e
mundial, Cavaco Silva reduz o problema a "erros diplomáticos", a uma
questão de "linguagem" desadaptada e "falta de experiência"
do Governo grego, a quem acusa de ter alimentado "sonhos". E Passos
Coelho limita a apreciação do que pode acontecer a Portugal a uma perspetiva contabilística
da gestão do país nos próximos seis meses, enquanto prossegue com as
privatizações da TAP ou das empresas dos transportes como se fossem propriedade
sua.
Perante
a força avassaladora das políticas neoliberais em curso e das campanhas de
intoxicação da opinião pública quanto às inevitabilidades e à função
libertadora da austeridade, ou se cria uma forte dinâmica de contestação e
afirmação de alternativas à esquerda e o Partido Socialista descola do cerne
daquelas políticas, ou o país ficará por longo tempo entregue ao banditismo
financeiro e político.
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