O
primeiro-ministro português, Passos Coelho, considerou Cabo Verde um “caso
ímpar de sucesso” em África, que conseguiu sucessivamente a independência,
edificar o Estado, enraizar a democracia e aceder ao estatuto de país de
Rendimento Médio.
Embora
se trate de um elogio justo, torna-se perigoso. É que o regime de José Eduardo
dos Santos não tolera que os portugueses sejam, para além de pobres, mal
agradecidos. Isto porque, como bem sabe o governo português, Portugal está
proibido de elogiar casos de sucesso sem, antes, esclarecer que o maior
paradigma desse sucesso é Angola.
Pedro
Passos Coelho falava na Cidade da Praia numa conferência de imprensa conjunta
com o seu homólogo cabo-verdiano, José Maria Neves, após efectuar uma visita de
cortesia no âmbito do convite para assistir às celebrações do 40º aniversário
da independência de Cabo Verde, que hoje se celebra no arquipélago e na
diáspora.
“Não
há dúvida de que Cabo Verde é um caso ímpar de sucesso em África. Olhamos para
Cabo Verde e vemos hoje um país com rendimento médio, com uma democracia
constitucional pluralista enraizada, uma sociedade política respeitadora das
liberdades fundamentais e que coloca no topo das preocupações o desenvolvimento
sustentável de todo o território”, sublinhou Passos Coelho.
Ou
seja, tudo o que Passos Coelho citou como prova do desenvolvimento de Cabo
Verde não existe no reino de Eduardo dos Santos. Isso não significa, contudo,
que Angola não seja o caso mais ímpar de sucesso em África.
Realçando
o “grande respeito” pelo que Cabo Verde conseguiu em 40 anos de Estado
soberano, Passos Coelho reforçou a “admiração” pelo facto de o país ser um
arquipélago, destacando que tudo foi obtido sem a existência de recursos
naturais.
“Mas
creio que o resultado obtido nestes 40 anos nos merece não só respeito como
admiração. Cabo Verde é, de facto, um caso único de sucesso em África, de um
país que consegue elevar-se a país de rendimento médio e, ao mesmo tempo, dar
resposta à satisfação de anseios tão importantes como aqueles que uma Nação tão
jovem contém”, afirmou.
Destacando
o relacionamento político bilateral actual “muito intenso”, o chefe do
executivo português lembrou que a cooperação vem desde que o país acedeu à
independência, a 5 de Julho de 1975, ao ponto de, hoje em dia, ambos se
afirmarem como parceiros estratégicos do desenvolvimento.
No
plano económico, realçou, há a “satisfação” relacionada com a intensidade das
atuais relações e o “reconhecimento” da margem de progressão que se pode ainda
registar em múltiplos sectores, como infra-estruturas, energia, ambiente,
saúde, formação profissional, agronegócio, turismo, novas tecnologias e no
domínio do Mar.
“Cabo
Verde não pode deixar de ter uma relação íntima com o mar, tal como Portugal.
Os próximos anos serão, do ponto de vista económico, muito relevantes no
desenvolvimento de novos serviços e indústrias que irão explorar o potencial de
forma mais intensa”, disse Passos Coelho, aludindo ao Cluster do Mar que o país
está a desenvolver.
Por
outro lado, o primeiro-ministro português destacou também a disponibilidade de
Lisboa para reforçar a área da segurança marítima, que estão também a ser
desenvolvidos em parceria com países africanos e com a União Europeia (UE).
“Há
questões sobre a vizinhança a sul do Mediterrâneo, os problemas de segurança e
terrorismo, e Cabo Verde tem também tido uma importante acção para responder
aos desafios de segurança e de combate ao narcotráfico”, salientou, lembrando
que estão a ser já lançadas as novas bases de cooperação para o triénio 2016/19.
Folha
8 (ao), 5.6.2015
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