O
“querido líder”, o “escolhido de Deus”, o mais alto representante de Deus na
terra, José Eduardo dos Santos, faz 73 anos de vida no próximo dia 28. No dia
21 de Setembro comemora 36 anos como Presidente da República. O mundo rende-se.
Orlando
Castro – Folha 8, em Mukandas
Omundo
não só se rende como se curva perante uma tal envergadura. A Coreia do Norte
prepara-se para instituir o dia 28 de Agosto como “Dia Internacional Eduardo
dos Santos”. Homenagens similares estão previstas para as maiores democracias
do mundo, começando no Zimbabué, passando pela Arábia Saudita, China, Cuba,
Irão e terminando na Síria. Por confirmar está o Estado Islâmico.
O
Financial Times explicou recentemente, tal como o Folha 8 tem feito ao longo
dos últimos 19 anos, as razões que justificam que Eduardo dos Santos seja o
paradigma dos paradigmas da política internacional. Nunca é demais
relembrá-las, numa humilde contribuição da nossa parte enaltecer a efeméride.
1
– Angola é uma cleptocracia (regime político corrupto) e os seus dirigentes são
uma elite indiferente ao resto da população. É por isso que, como escreve
Ricardo Soares de Oliveira no livro “Magnificent and Beggar Land: Angola Since
the Civil War”, o Ocidente adora um cleptocrata.
2
– Mesmo pelos padrões dos Estados petrolíferos, Angola é quase risivelmente
injusta. Os oligarcas deixam gorjetas de 500 euros nos restaurantes da moda em
Lisboa, enquanto cerca de uma em cada seis crianças angolanas morrem antes de
terem cinco anos.
3
– Esta pequena, mas poderosa, cleptocracia é aceite como uma parte integrante
do sistema ocidental, sendo os expatriados que fazem a economia angolana mexer,
desde as consultoras que ajudam a definir a política económica até aos bancos
que financiam os negócios do clã Eduardo dos Santos.
4
– Os oligarcas angolanos habitam a economia do luxo global das escolas públicas
britânicas, dos gestores de activos suíços, das lojas Hermès, etc..
5
– A clique dirigente consiste largamente numas poucas famílias de raça mista da
capital, que considera que os cerca de 21 milhões de angolanos negros no mato
ou musseques são imperfeitamente civilizados, e com pouco desejo para os
educar.
6
– Por trás de cada magnata angolano há uma equipa de gestão maioritariamente
portuguesa que não se preocupa com as consequências da sua gestão. Por isso os
estrangeiros bombam petróleo, fazem luxuosos vestidos e constroem aeroportos
sem sentido no meio do nada.
7
– Os membros do clã Eduardo dos Santos fazem luxuosas viagens à Europa e
passeios entre capitais europeias recorrendo a aviões a jacto.
8
– O dinheiro dos governantes e o dinheiro do Estado é a mesma coisa. Todo ele é
roubado ao Povo. Mas como o dinheiro não fala, empilham-no nos bancos da Europa
(e não só) e gastam-no como lhes dá na real gana: compram quadros, cirurgias
plásticas, casas de praia e empresas.
9
– O perfil do cliente de elite angolano em Portugal, que representa mais de 40%
do mercado de luxo português, revela que se trata sobretudo de homens,
empresários do ramo da construção, ex-generais ou com ligações ao governo.
Vestem Hugo Boss ou Ermenegildo Zegna. Compram relógios de ouro Patek Phillipe
e Rolex. Do outro lado estão 70% de angolanos. O seu perfil é: pé descalço,
barriga vazia, (sobre)vive nos bairros de lata.
10
– Esses angolanos de primeira não olham a preços. Procuram qualidade e peças
com o logo visível. É comum uma loja de luxo facturar, numa só venda, entre 150
e 300 mil euros, pagos por transferência bancária ou cartão de crédito.
11
– Por outro lado, no país dos angolanos de segunda, 45% das crianças sofrem de
má nutrição crónica e uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco
anos.
12
– Na joalharia de luxo, os angolanos de primeira (todos afectos ao regime)
também se destacam, tanto pelo valor dos artigos que compram como pela
facilidade com que os pagam. Chaumet, Dior e H. Stern? Sim, pois claro. O preço
não é problema. Quanto mais caro melhor. Comprar uma pulseira por 200 mil euros
é como comer um pires de tremoços.
13
– Em Angola o acesso à boa educação, aos condomínios, ao capital accionista dos
bancos e das seguradoras, aos grandes negócios, às licitações dos blocos
petrolíferos, está limitado a um grupo muito restrito de famílias ligadas ao
regime no poder.
14
– Refeições? Que tal trufas pretas, caranguejos gigantes, cordeiro assado com
cogumelos, bolbos de lírio de Inverno, supremos de galinha com espuma de raiz
de beterraba e uma selecção de queijos acompanhados de mel e amêndoas
caramelizadas, com cinco vinhos diferentes, entre os quais um Château-Grillet
2005?
15
– Quanto ao Povo, a ementa dessa subespécie é fuba podre, peixe podre, panos
ruins, 50 angolares e porrada se refilarem.
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