Abusos
contra uma reclusa na cadeia angolana de Viana na semana passada levaram hoje a
Associação Justiça, Paz e Democracia a pedir medidas judiciais e mesmo a
intervenção da Assembleia Nacional sobre os serviços prisionais em Angola.
“Além
das medidas já tomadas pelo ministro do Interior, urge, pois, ao titular do
poder Executivo mandar abrir um inquérito para apurar responsabilidades, ou
mesmo, a Assembleia Nacional constituir uma Comissão Parlamentar de Inquérito
para que se possa inverter o ‘modus operandí’ dos Serviços Penitenciários da
República de Angola e que a Procuradoria-Geral da República responsabilize, nos
termos da lei, as autoras morais e materiais de tais violações”, diz a
Associação Justiça, Paz e Democracia (AJPD) em comunicado.
Segundo
uma fonte da AJPD, uma reclusa que cumpre pena na cadela de Viana, arredores de
Luanda, foi “brutalmente espancada, tendo mesmo sido submetida a choques
eléctricos” pelos guardas prisionais depois de ter sido surpreendida na posse
de dois telemóveis na cela onde se encontrava.
O
Ministério do Interior suspendeu a directora da cadeia feminina de Viana na
sequência das agressões físicas à reclusa.
Num
comunicado de imprensa do Ministério do Interior, referia-se que além da
directora foram também suspensas e proibidas de se ausentarem de Luanda as três
agentes prisionais envolvidas nos actos de violência, medidas que para a AJPD
não são suficientes.
“Esse
incidente não é apenas mais um caso estatisticamente isolado. Trata-se de um
incidente que se enquadra na sequência de vários casos cuja frequência
demonstra que a actual Direcção Geral dos Serviços Penitenciários não consegue
inverter a cultura do abuso de poder e de violação dos direitos humanos dos
reclusos instalada no sistema penitenciário angolano”, refere o mesmo documento
da organização não-governamental angolana.
“O
abuso de poder começa ao mais alto nível, ao nível dos directores dos
estabelecimentos prisionais, incluindo funcionários hierarquicamente abaixo
daqueles que, frequentemente, alegando o cumprimento de ‘ordens superiores’ ou,
em alguns casos, numa atitude de solidariedade institucional, subvertem a
Constituição e os direitos a que os detidos e presos têm à luz dos tratados e
convenções de Direitos Humanos ratificados pelo Estado angolano”, considera a
associação.
Por
outro lado, a AJPD acompanha também o caso dos 15 jovens detidos desde Junho
acusados de tentativa de golpe de Estado na altura em que discutiam o conteúdo
de um livro sobre política.
“Estamos
em contacto com as famílias dos presos e continuamos a tentar visitar os jovens
mas os serviços prisionais continuam ilegalmente a proibir as visitas”,
acrescentou a fonte da AJPS.
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