Luís
Eduardo Nobre Leite* - Expresso das Ilhas (cv), opinião
Há
já algum tempo, tinha prometido (a mim mesmo) direccionar os meus artigos de
opinião, mais na perspectiva de demonstrar a razão pela qual o Movimento para a
Democracia (MpD), liderado pelo próximo Primeiro-ministro de Cabo Verde,
Ulisses Correia e Silva (UCS), deveria merecer a confiança dos cabo-verdianos
no ciclo eleitoral de 2016, do que em reiteradas críticas ao PAICV e respectivo
Governo, mais não seja pelo estado de agonia em que ambos se encontram.
Fi-lo
com um primeiro texto, publicado nos finais de Junho, intitulado “Ganhar os
Desafios da Próxima Década”, que deveria ser seguido por outros com enfoque nas
soluções preconizadas por UCS para vencer os desafios de desenvolvimento de
Cabo Verde, até em contraponto com a narrativa falaciosa (mais uma) do MpD não
ser portador de alternativas programáticas à actual governação.
Devo
confessar, contudo, que na qualidade de cidadão não resisti a fazer um compasso
nos meus propósitos, para manifestar a minha indignação em relação à
desgovernação actual do país e lavrar, por palavras escritas, o consequente
protesto pela forma escandalosa como o Governo suportado pelo (partido) PAICV
resolveu «tomar de assalto» a Comunicação Social do Estado, principalmente a
(nossa?!) TCV.
No
concernente ao primeiro aspecto, creio que os sinais e os factos são por demais
evidentes, a começar pelas ausências cada vez mais regulares e prolongadas, no
tempo e no espaço, do primeiro dos ministros, José Maria Neves (JMN), que tem
estado muito mais preocupado com a sua agenda presidencial do que em coordenar,
efectivamente, o Governo, que deveria ser da República!
Qual
«rusga de fina corte» o homem faz-se de convidado de tudo que seja evento
público pelos vários concelhos do país e além-fronteiras, não tendo qualquer
pejo em participar, mesmo na recta final da sua governação, em lançamento de
primeiras pedras, sempre na lógica de deixar o «país marcado».
Por
outro lado, com o mesmo desplante que deu total primazia às comemorações do 4º
aniversário do (seu) Governo da 8ª legislatura, em detrimento das comemorações
(de todos) do 40º de Independência, aproveita-se deste último para fazer
campanha junto da nossa comunidade emigrada. Foi assim em Portugal, com um
programa de fazer inveja aos cabo-verdianos residentes; será assim em Setembro,
nos EUA, em que fará condecorações, num total de #40, em nome do Estado de Cabo
Verde?!
Com
o primeiro dos ministros entretido com a sua agenda pessoal, os restantes
ministros também vão tratando da sua saúde e dos seus projectos. Fontes Lima,
que tinha colocado o lugar à disposição, e Tolentino, que manifestara vontade
de “descer na próxima estação”, lá continuam no Governo, aparentemente muito
mais por lealdade e amizade para com o amigo premier, do que por vontade
própria e engajamento político.
A
outrora «Duarte de ferro» – jamais voltou a ser a mesma – após quase ter
conquistado o BAD, o que constituiria uma saída, antecipada e airosa, para a
herança que vai deixar às gerações futuras, em termos de endividamento público,
pouco sinal tem dado de si. Ainda para mais agora que passou a ocupar uma
posição subalterna no relacionamento com o empresariado nacional e a economia
real, fruto das suas políticas erradas, principalmente em matéria fiscal.
O
Rui Se(m)edo, continuou a mostrar uma certa inaptidão para jogar à defesa,
privilegiando mais a componente parlamentar, no qual se posiciona ao ataque,
com declarações públicas e «jogos de palavras» pouco consentâneas para um
titular do Governo com os níveis de responsabilidades que tem, ou deveria ter.
Os
Ministros da Justiça e da Administração Interna, principalmente a que se ocupa
dos Polícias, em condições normais e numa democracia com efectiva
responsabilização política, há muito tinham sido demitidos do Governo, situação
que poderia ser aplicada, também, à Ministra Lopes!
Os
Ministros – já putativos candidatos autárquicos – da “Casa para Todos” e da
RTC(i), continuam a sua campanha, sendo que, no caso deste último, para além de
algumas situações insólitas relatadas pelos próprios jornalistas e do facto de
já ter «barba rija», não se sente incomodado de ser «levado ao colo» pela
Ministra da Educação e Desporto (MED), em entregas de equipamentos e materiais
desportivos, na ilha (Sal) que ambiciona governar.
Ministra
que, diga-se em abono de verdade, vai conseguindo resistir-se a muitos
imbróglios na esfera da Educação, muito por força do aproveitamento mediático
do sucesso desportivo de algumas das nossas selecções, quando é (re)conhecido
por quem anda nos meandros do fenómeno desportivo, um certo divórcio entre a
tutela dos desportos e as Federações Nacionais… que só vem conhecendo algumas
melhorias, muito recentemente, tal como acontece com a gestão política da pasta
da Economia!
Finalmente,
temos a Ministra Hopffer Almada que, respondendo de entre outras pelas pastas
do (Des)Emprego e da Juventude, vem tentando assumir-se como uma espécie de
Vice primeira-ministra, condição que lhe foi (terminantemente) recusada por
aquele que ela considerou o (seu) “Grande Mestre”…e tido como «compadre» da
actual liderança (bicéfala) do PAICV, provavelmente no sentido do «compadrio
político».
Dúvidas
houvesse, a intervenção da referida Ministra no último Estado da Nação foi
deveras confrangedora e demonstrativa de uma imaturidade política sem
precedentes – diria um momento político verdadeiramente surrealista – ao fugir
da responsabilidade das pastas acima mencionadas, principalmente a do Emprego,
para ensaiar um discurso para o futuro, porém encalhado entre o elogio fácil ao
(seu) líder supremo e a flagrante contradição de ter que apontar novos rumos e
caminhos!
Aliás,
a imagem que se vai ficando da actual Presidente do PAICV no seu relacionamento
com JMN, assemelha-se aos «pedintes chorões», tamanha tem sido a «festa»,
sempre que este último, na sequência do retiro do Partido em altas atitudes,
passou a presentear à sua chefe partidária e subordinada no Governo com as
«migalhas» em actos de inauguração e lançamento de primeiras pedras de obras do
Governo.
Caso
para dizer que quem com «caridade» quer ganhar o País, mesmo contra os valores
e princípios cristãos, sempre acaba por ser recompensado!
Para
terminar este primeiro ponto, devo recordar para aqueles que têm memória
selectiva que, já no Estado da Nação de 2014, a referida ministra – na altura
candidata a Presidente do Partido – tinha-se remetido a um conveniente e
sepulcral silêncio, recusando-se a dar a cara e a assumir o falhanço dela e do
seu Governo, em matéria de Emprego e dos problemas que afligem a Juventude@CV,
numa atitude que mostra não estar em condições de ambicionar a voos mais altos.
Fazendo
a ponte com o segundo ponto deste texto, diria que é, precisamente, em
resultado desta desgovernação e da falta clamorosa de resultados para os
cabo-verdianos, suas famílias e empresas, que este Governo, no quadro da sua
habitual estratégia de propaganda decidiu «assaltar» a comunicação social do
Estado, com tendência para o agravamento se, entretanto, medidas não forem
tomadas para por cobro a esta afronta!
Efectivamente,
não se tratando de uma prática nova, a situação está a assumir contornos para
lá de preocupantes, quão grande é a desfaçatez e o desnorte deste Governo,
tanto em relação aos «jogos de poder» dentro do partido, como no concernente
aos dados na sua posse que apontam para uma derrota eleitoral, em toda a linha,
em 2016.
Assim,
não estranha que o que dantes estava confinado à figura do primeiro dos
ministros – quem não se lembra da (grande) entrevista em pleno sábado à noite –
e à defesa da sua propalada “Agenda de Transformação”, com publi-reportagens
pagas (?!) pelo Governo para publicitar os sectores estratégicos correspondentes
aos tais “clusters”, esteja a transformar-se numa autêntica vergonha nacional!
Quem
pensava já ter visto de tudo, com os sucessivos anúncios governamentais no
âmbito do Projecto Casa para Todos – sequer vou referir à publicidade da IFH
pela autonomia empresarial desta (?!) – passando pela teatralização dos
convites aos cabo-verdianos para assistirem a inaugurações, terá ficado de
“queixo caído” com a transmissão em directo da “Gala da Juventude”, no passado
sábado, dia 15 de Agosto, que coincidiu com o Festival Baía das Gatas!
Tal
demonstração de poder por parte do «novo poder» no PAICV e a total
subserviência da RTC/TCV afigurou-se como o cúmulo do ridículo e a prova
provada da forma como a liderança actual do partido, e a sua entourge, encarnam
o exercício do poder, em clara confusão de papéis, entre Partido e Estado, e
total falta de respeito para com os contribuintes cabo-verdianos.
É,
pois, hora de dizer BASTA e momento, mais do que certo e oportuno, para os
cabo-verdianos resgatarem, uma vez mais, o país, libertando-se das amarras aos
quais muitos continuam presos.
Esta
luta (mais do que partidária) é por Cabo Verde!
PS:
Este artigo é dedicado àqueles que julgam que com reiteradas inverdades,
calúnias e o ataque ignóbil ao bom nome das pessoas e de famílias honradas e
honestas, poderão condicionar-me no exercício livre da minha cidadania política
e militância partidária!
*www.palavradolho.blogspot.com
Na
foto: Luís Eduardo Nobre Leite
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