domingo, 30 de agosto de 2015

Cabo Verde. A desgovernação do PAICV e o assalto à Comunicação Social do Estado!




Luís Eduardo Nobre Leite* - Expresso das Ilhas (cv), opinião

Há já algum tempo, tinha prometido (a mim mesmo) direccionar os meus artigos de opinião, mais na perspectiva de demonstrar a razão pela qual o Movimento para a Democracia (MpD), liderado pelo próximo Primeiro-ministro de Cabo Verde, Ulisses Correia e Silva (UCS), deveria merecer a confiança dos cabo-verdianos no ciclo eleitoral de 2016, do que em reiteradas críticas ao PAICV e respectivo Governo, mais não seja pelo estado de agonia em que ambos se encontram.

Fi-lo com um primeiro texto, publicado nos finais de Junho, intitulado “Ganhar os Desafios da Próxima Década”, que deveria ser seguido por outros com enfoque nas soluções preconizadas por UCS para vencer os desafios de desenvolvimento de Cabo Verde, até em contraponto com a narrativa falaciosa (mais uma) do MpD não ser portador de alternativas programáticas à actual governação.

Devo confessar, contudo, que na qualidade de cidadão não resisti a fazer um compasso nos meus propósitos, para manifestar a minha indignação em relação à desgovernação actual do país e lavrar, por palavras escritas, o consequente protesto pela forma escandalosa como o Governo suportado pelo (partido) PAICV resolveu «tomar de assalto» a Comunicação Social do Estado, principalmente a (nossa?!) TCV.

No concernente ao primeiro aspecto, creio que os sinais e os factos são por demais evidentes, a começar pelas ausências cada vez mais regulares e prolongadas, no tempo e no espaço, do primeiro dos ministros, José Maria Neves (JMN), que tem estado muito mais preocupado com a sua agenda presidencial do que em coordenar, efectivamente, o Governo, que deveria ser da República!

Qual «rusga de fina corte» o homem faz-se de convidado de tudo que seja evento público pelos vários concelhos do país e além-fronteiras, não tendo qualquer pejo em participar, mesmo na recta final da sua governação, em lançamento de primeiras pedras, sempre na lógica de deixar o «país marcado».

Por outro lado, com o mesmo desplante que deu total primazia às comemorações do 4º aniversário do (seu) Governo da 8ª legislatura, em detrimento das comemorações (de todos) do 40º de Independência, aproveita-se deste último para fazer campanha junto da nossa comunidade emigrada. Foi assim em Portugal, com um programa de fazer inveja aos cabo-verdianos residentes; será assim em Setembro, nos EUA, em que fará condecorações, num total de #40, em nome do Estado de Cabo Verde?!

Com o primeiro dos ministros entretido com a sua agenda pessoal, os restantes ministros também vão tratando da sua saúde e dos seus projectos. Fontes Lima, que tinha colocado o lugar à disposição, e Tolentino, que manifestara vontade de “descer na próxima estação”, lá continuam no Governo, aparentemente muito mais por lealdade e amizade para com o amigo premier, do que por vontade própria e engajamento político.

A outrora «Duarte de ferro» – jamais voltou a ser a mesma – após quase ter conquistado o BAD, o que constituiria uma saída, antecipada e airosa, para a herança que vai deixar às gerações futuras, em termos de endividamento público, pouco sinal tem dado de si. Ainda para mais agora que passou a ocupar uma posição subalterna no relacionamento com o empresariado nacional e a economia real, fruto das suas políticas erradas, principalmente em matéria fiscal.

O Rui Se(m)edo, continuou a mostrar uma certa inaptidão para jogar à defesa, privilegiando mais a componente parlamentar, no qual se posiciona ao ataque, com declarações públicas e «jogos de palavras» pouco consentâneas para um titular do Governo com os níveis de responsabilidades que tem, ou deveria ter.

Os Ministros da Justiça e da Administração Interna, principalmente a que se ocupa dos Polícias, em condições normais e numa democracia com efectiva responsabilização política, há muito tinham sido demitidos do Governo, situação que poderia ser aplicada, também, à Ministra Lopes!

Os Ministros – já putativos candidatos autárquicos – da “Casa para Todos” e da RTC(i), continuam a sua campanha, sendo que, no caso deste último, para além de algumas situações insólitas relatadas pelos próprios jornalistas e do facto de já ter «barba rija», não se sente incomodado de ser «levado ao colo» pela Ministra da Educação e Desporto (MED), em entregas de equipamentos e materiais desportivos, na ilha (Sal) que ambiciona governar.

Ministra que, diga-se em abono de verdade, vai conseguindo resistir-se a muitos imbróglios na esfera da Educação, muito por força do aproveitamento mediático do sucesso desportivo de algumas das nossas selecções, quando é (re)conhecido por quem anda nos meandros do fenómeno desportivo, um certo divórcio entre a tutela dos desportos e as Federações Nacionais… que só vem conhecendo algumas melhorias, muito recentemente, tal como acontece com a gestão política da pasta da Economia!

Finalmente, temos a Ministra Hopffer Almada que, respondendo de entre outras pelas pastas do (Des)Emprego e da Juventude, vem tentando assumir-se como uma espécie de Vice primeira-ministra, condição que lhe foi (terminantemente) recusada por aquele que ela considerou o (seu) “Grande Mestre”…e tido como «compadre» da actual liderança (bicéfala) do PAICV, provavelmente no sentido do «compadrio político».

Dúvidas houvesse, a intervenção da referida Ministra no último Estado da Nação foi deveras confrangedora e demonstrativa de uma imaturidade política sem precedentes – diria um momento político verdadeiramente surrealista – ao fugir da responsabilidade das pastas acima mencionadas, principalmente a do Emprego, para ensaiar um discurso para o futuro, porém encalhado entre o elogio fácil ao (seu) líder supremo e a flagrante contradição de ter que apontar novos rumos e caminhos!

Aliás, a imagem que se vai ficando da actual Presidente do PAICV no seu relacionamento com JMN, assemelha-se aos «pedintes chorões», tamanha tem sido a «festa», sempre que este último, na sequência do retiro do Partido em altas atitudes, passou a presentear à sua chefe partidária e subordinada no Governo com as «migalhas» em actos de inauguração e lançamento de primeiras pedras de obras do Governo.

Caso para dizer que quem com «caridade» quer ganhar o País, mesmo contra os valores e princípios cristãos, sempre acaba por ser recompensado!

Para terminar este primeiro ponto, devo recordar para aqueles que têm memória selectiva que, já no Estado da Nação de 2014, a referida ministra – na altura candidata a Presidente do Partido – tinha-se remetido a um conveniente e sepulcral silêncio, recusando-se a dar a cara e a assumir o falhanço dela e do seu Governo, em matéria de Emprego e dos problemas que afligem a Juventude@CV, numa atitude que mostra não estar em condições de ambicionar a voos mais altos.

Fazendo a ponte com o segundo ponto deste texto, diria que é, precisamente, em resultado desta desgovernação e da falta clamorosa de resultados para os cabo-verdianos, suas famílias e empresas, que este Governo, no quadro da sua habitual estratégia de propaganda decidiu «assaltar» a comunicação social do Estado, com tendência para o agravamento se, entretanto, medidas não forem tomadas para por cobro a esta afronta!

Efectivamente, não se tratando de uma prática nova, a situação está a assumir contornos para lá de preocupantes, quão grande é a desfaçatez e o desnorte deste Governo, tanto em relação aos «jogos de poder» dentro do partido, como no concernente aos dados na sua posse que apontam para uma derrota eleitoral, em toda a linha, em 2016.

Assim, não estranha que o que dantes estava confinado à figura do primeiro dos ministros – quem não se lembra da (grande) entrevista em pleno sábado à noite – e à defesa da sua propalada “Agenda de Transformação”, com publi-reportagens pagas (?!) pelo Governo para publicitar os sectores estratégicos correspondentes aos tais “clusters”, esteja a transformar-se numa autêntica vergonha nacional!

Quem pensava já ter visto de tudo, com os sucessivos anúncios governamentais no âmbito do Projecto Casa para Todos – sequer vou referir à publicidade da IFH pela autonomia empresarial desta (?!) – passando pela teatralização dos convites aos cabo-verdianos para assistirem a inaugurações, terá ficado de “queixo caído” com a transmissão em directo da “Gala da Juventude”, no passado sábado, dia 15 de Agosto, que coincidiu com o Festival Baía das Gatas!

Tal demonstração de poder por parte do «novo poder» no PAICV e a total subserviência da RTC/TCV afigurou-se como o cúmulo do ridículo e a prova provada da forma como a liderança actual do partido, e a sua entourge, encarnam o exercício do poder, em clara confusão de papéis, entre Partido e Estado, e total falta de respeito para com os contribuintes cabo-verdianos.

É, pois, hora de dizer BASTA e momento, mais do que certo e oportuno, para os cabo-verdianos resgatarem, uma vez mais, o país, libertando-se das amarras aos quais muitos continuam presos.

Esta luta (mais do que partidária) é por Cabo Verde!

PS: Este artigo é dedicado àqueles que julgam que com reiteradas inverdades, calúnias e o ataque ignóbil ao bom nome das pessoas e de famílias honradas e honestas, poderão condicionar-me no exercício livre da minha cidadania política e militância partidária!

*www.palavradolho.blogspot.com

Na foto: Luís Eduardo Nobre Leite

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