Público,
editorial
Já
passou mais de um ano da adesão da Guiné Equatorial à CPLP. E as coisas não
melhoraram. Pioraram
A
adesão da Guiné Equatorial como membro de pleno direito da Comunidade dos
Países de Língua Portuguesa (CPLP) ocorreu durante a cimeira de Díli no Verão
passado. Mais de um ano volvido, qual é o balanço? Oficialmente, Murade
Murargy, secretário executivo da CPLP, faz um balanço positivo e, confrontado
com tudo o que não está a correr bem, nomeadamente o facto de Teodoro Obiang
ter dissolvido o poder judicial em Maio, responde com uma frase que se fosse
traduzida por gestos seria um grande encolher de ombros: “Temos de ter paciência com
a Guiné Equatorial.” E o que diz Rui Machete? O ministro dos Negócios
Estrangeiros reconhece
que a vigilância não tem sido eficaz, mas diz que “temos de dar tempo ao
tempo”. Não se percebe se é um encolher de ombros ou se é um deixar cair os
braços. E o que dizem os restantes chefes da diplomacia da CPLP que no mês
passado regressaram a Timor para fazer o balanço da adesão, numa cimeira em que
a Guiné Equatorial nem sequer se deu ao trabalho de aparecer? Dizem que
estão satisfeitos com os progressos do país de Obiang.
Mas
à pergunta quais são os progressos concretos que se verificaram no último ano,
as respostas são evasivas, diplomáticas e envergonhadas. E chegámos à
conclusão, a mesma de há um ano, de que a adesão de Malabo à CPLP foi um
grande equívoco. Comecemos pela questão da língua. Como nos contava há dias a
jornalista Ana Dias Cordeiro, um ano depois da adesão, o
ensino do português chegou apenas a sete funcionários. Sete. E se
formos aosite da CPLP, encontramos lá uma ligação para a página do
Governo da Guiné Equatorial. Aí, os conteúdos estão todos em espanhol, mas para
quem não domine a língua, o site oferece ainda a possibilidade de se
ler os conteúdos em inglês e em
francês. Do português, nem um rasto.
Mas
deixemos a língua de lado e regressemos à página da CPLP, onde se lê que a
Comunidade é regida pelos seguintes princípios: “Primado da paz, da democracia,
do Estado de direito, dos direitos humanos e da justiça social.” Um ano depois,
a Guiné Equatorial cumpre, ou pelo menos caminha para cumprir, esses
objectivos? Não. Afasta-se. Em 20 de Maio, Obiang, há mais de 35 anos no poder, dissolveu o poder judicial.
É um enorme retrocesso? “É
uma questão interna da governação”, responde o secretário executivo da
CPLP.
Um
ano depois, segundo relatos de várias ONG, os direitos humanos e a liberdade de
imprensa continuam a não ser respeitados na Guiné Equatorial, a prometida
legalização dos partidos não aconteceu, os exilados não regressaram a casa e
continuam os maus tratos às minorias étnicas. A transformação da moratória
sobre a pena de morte em legislação definitiva não aconteceu. Um ano depois, há
que perguntar se haverá alguma porta de saída da CPLP.
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