segunda-feira, 3 de agosto de 2015

PRINCIPADO OU CORTE?



Rui Sá – Jornal de Notícias, opinião

Esta semana, aqui no JN, Manuel Teixeira decidiu escrever dois artigos para enaltecer Rui Rio. Normal, até porque M. Teixeira foi, durante cerca de 10 anos, o todo-poderoso chefe de gabinete de Rui Rio na Câmara Municipal do Porto.

M. Teixeira procura matar dois coelhos com uma cajadada: manter Rio na "crista da onda", procurando minimizar o facto de este, preso nas suas habituais hesitações e contradições, ainda não ter apresentado formalmente a sua candidatura à Presidência da República; e tecer mais umas odes aos "talentos" do seu "ex-patrão"...

Em particular, M. Teixeira procura fazer-nos crer que Rio (à falta de melhor...) criou uma nova definição no léxico político nacional: o do "principado" que mais não é do que uma variação sobre a "corte", ou seja, todos aqueles que se movimentam na área do poder (no caso, lisboeta). E isto dá-me vontade de rir porque M. Teixeira foi um dos artífices e uma espécie de cardeal de Richelieu da "corte" que, no Porto, se criou em torno de Rio, e que, em grande parte, recebeu como prémio a colocação em lugares da administração pública municipal. E que, adaptando a sua própria definição, mais não é do que "aquele pequeno universo de algumas centenas de pessoas que, aconchegadas num microcosmos acantonado nos paços do concelho, se assumem como os genuínos intérpretes e decisores da vida local. Muitos deles nem sequer são naturais do Porto, mas deslumbram-se ao conviverem diariamente nos corredores da política, no mundo dos negócios, nos palcos da cultura, na roda da alta finança, e, claro está, nas tribunas dos jornais e das revistas, nos debates das televisões, e nos estúdios das rádios". Bem sei que os espaços da cultura eram as passadeiras vermelhas dos espetáculos de La Feria, onde os da "corte" posavam com as Lilis Caneças, ou o ambiente fervilhante dos paddocks onde uns capacetes debaixo do braço e umas voltas ao circuito davam um ar de imperador, à imagem de Putin, que também gosta de ser comparado a um grande e destemido desportista. Digamos que não é por serem provincianas que as "cortes" deixam de o ser...

Detesto o referido "principado" lisboeta. Mas Deus nos livre que esta "corte do Porto" se instale em Belém...

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