quarta-feira, 23 de setembro de 2015

A “DESEUROPEIZAÇÃO”



Rui Peralta, Port Louis

Milhares de imigrantes atravessam uma Europa que carece de conceitos unitários, formada por governos nacionais que não chegam a acordo. Uma Europa que não é Europa, mas uma manta de retalhos, composta por Estados nacionais que não se mostram dispostas a ceder Poder às instituições europeias (será que existem?).

O centro do Poder da U.E. é o Conselho Europeu, uma entidade formada por Estados nacionais da Europa, onde se reúnem ministros, primeiros-ministros, chanceleres, chefes de Estado e outras figuras das nomenclaturas do Estado-Nação. De fora ficam a Comissão Europeia, o outro órgão executivo. O Poder Legislativo Europeu, o Parlamento Europeu, é uma instituição de meio-termo, entre as posições das burocracias nacionais que lideram os dois principais partidos europeus e que dominam a grande maioria do espectro parlamentar e os anseios europeus. De vez em quando o Poder Legislativo Europeu emana a frescura europeia, outras vezes exala o bafo pestilento das burocracias nacionais e das respectivas burguesias, que agarram-se com unhas e dentes aos cabelos das pátrias, porque sentem-se inseguras se perderem as pátrias de origem que lhes atura a pedinchice e as coligações com os Estados e tornarem-se dinamicamente europeias, sem viverem á conta das negociatas dos governos nacionais.

Os imigrantes, refugiados de guerra e refugiados económicos, atravessam a Europa Ocidental, que não conhece guerra já lá vão 70 anos e que converteu-se numa região de relativo bem-estar (para eles, deserdados do mundo, a Europa é uma zona de incomparável bem-estar, uma utopia do bem viver), mas que não conseguiu criar efectivas políticas europeias, objectivos europeus, cidadãos europeus. Uma U.E. que poderia ter evitado as hordas de refugiados e imigrantes, fugidos á guerra, á fome e á falta de perspectiva de vida nos seus respectivos países se assistisse aos campos de refugiados na Jordânia, Líbano e Turquia, criando escolas paras as crianças, preocupando-se com a alimentação e efectuando uma política de actividade e emprego através das estruturas do ACNUR, abrindo as portas de contratação ao sector privado e apoiando projectos cooperativos e empreendedores dos refugiados. Uma Europa que não conseguiu abandonar as políticas neocolónias para África, que se associou às elites africanas que vendem os seus a quem quer que seja e que compactuou com as políticas da fome e da miséria em nome do desenvolvimento, que criaram uma África ultraperiférica.

Esta é a morte de Schengen, algo que estes imigrantes africanos e que os refugiados económicos da Somália e os refugiados de guerra da Síria poderão contar aos netos, que chegaram no fim de uma Europa sem fronteiras. Muito provavelmente ainda se recordarão da Europa democrática dos valores liberais e dos Direitos do Homem e talvez possam transmitir essas memórias aos netos.

Muito provavelmente, os netos, reduzidos a uma vida em campos de concentração, acharão que isso são alucinações dos mais velhos….

Port Louis, Maurícias, 2015, Setembro

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