Rui Peralta, Port Louis
Milhares
de imigrantes atravessam uma Europa que carece de conceitos unitários, formada
por governos nacionais que não chegam a acordo. Uma Europa que não é Europa,
mas uma manta de retalhos, composta por Estados nacionais que não se mostram
dispostas a ceder Poder às instituições europeias (será que existem?).
O
centro do Poder da U.E. é o Conselho Europeu, uma entidade formada por Estados
nacionais da Europa, onde se reúnem ministros, primeiros-ministros,
chanceleres, chefes de Estado e outras figuras das nomenclaturas do
Estado-Nação. De fora ficam a Comissão Europeia, o outro órgão executivo. O
Poder Legislativo Europeu, o Parlamento Europeu, é uma instituição de
meio-termo, entre as posições das burocracias nacionais que lideram os dois
principais partidos europeus e que dominam a grande maioria do espectro
parlamentar e os anseios europeus. De vez em quando o Poder Legislativo Europeu
emana a frescura europeia, outras vezes exala o bafo pestilento das burocracias
nacionais e das respectivas burguesias, que agarram-se com unhas e dentes aos
cabelos das pátrias, porque sentem-se inseguras se perderem as pátrias de
origem que lhes atura a pedinchice e as coligações com os Estados e tornarem-se
dinamicamente europeias, sem viverem á conta das negociatas dos governos
nacionais.
Os
imigrantes, refugiados de guerra e refugiados económicos, atravessam a Europa
Ocidental, que não conhece guerra já lá vão 70 anos e que converteu-se numa
região de relativo bem-estar (para eles, deserdados do mundo, a Europa é uma
zona de incomparável bem-estar, uma utopia do bem viver), mas que não conseguiu
criar efectivas políticas europeias, objectivos europeus, cidadãos europeus.
Uma U.E. que poderia ter evitado as hordas de refugiados e imigrantes, fugidos á
guerra, á fome e á falta de perspectiva de vida nos seus respectivos países se
assistisse aos campos de refugiados na Jordânia, Líbano e Turquia, criando
escolas paras as crianças, preocupando-se com a alimentação e efectuando uma
política de actividade e emprego através das estruturas do ACNUR, abrindo as
portas de contratação ao sector privado e apoiando projectos cooperativos e
empreendedores dos refugiados. Uma Europa que não conseguiu abandonar as
políticas neocolónias para África, que se associou às elites africanas que
vendem os seus a quem quer que seja e que compactuou com as políticas da fome e
da miséria em nome do desenvolvimento, que criaram uma África ultraperiférica.
Esta
é a morte de Schengen, algo que estes imigrantes africanos e que os refugiados
económicos da Somália e os refugiados de guerra da Síria poderão contar aos
netos, que chegaram no fim de uma Europa sem fronteiras. Muito provavelmente
ainda se recordarão da Europa democrática dos valores liberais e dos Direitos
do Homem e talvez possam transmitir essas memórias aos netos.
Muito
provavelmente, os netos, reduzidos a uma vida em campos de concentração,
acharão que isso são alucinações dos mais velhos….
Port
Louis, Maurícias, 2015, Setembro
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