Apesar
dos “progressos na luta contra o racismo” dos últimos 50 anos, “a discriminação
racial ainda representa um perigo claro para pessoas e comunidades” em todo o
mundo. Quem o diz é o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon.
Na
mensagem a propósito do Dia Internacional para a Eliminação da Discriminação
Racial, o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon,
recordou que, “todos os dias, pessoas de todas as idades suportam ódios,
injustiças e humilhação devido à sua cor de pele, origem nacional ou étnica”.
Intitulada
“Aprender com as tragédias do passado para combater o racismo hoje”, a mensagem
reafirma o “compromisso” das Nações Unidas “em construir um mundo de justiça e
igualdade onde a xenofobia e a intolerância não existem”.
Ban
Ki-moon apela a que se aprenda com os “erros históricos”, como é o caso do
colonialismo ou de regimes segregacionista como o do apartheid, na África do
Sul, para que se possa “erradicar o preconceito”.
No
ano em que a Convenção Internacional para a Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação Racial celebra meio século, ainda falta conquistar “a premissa de
que todas as pessoas usufruem de direitos iguais e dignidade –
independentemente da sua etnia”.
Para
que isso aconteça, o secretário-geral da ONU apela às nações que ratifiquem a
convenção internacional e adoptem “leis e políticas fortes que acabem com todas
as formas de discriminação”.
Num
depoimento à revista Visão, Hélder Amaral, deputado do CDS, partido que integra
a coligação que governa Portugal, diz que lhe “aconteceram episódios de
racismo”. “Acontecem sempre. Basta sair à rua para sentir que somos
diferentes”, acrescenta.
Conta
Hélder Amaral que cresceu na “na Beira, a minha cultura é toda portuguesa e,
apesar de ter a minha mãe em Angola, só conheço um hino e uma bandeira. Passei
por várias fases. Fiz a primária numa aldeia simpática, acho que nos meios
pequenos a integração é mais fácil. Mas depois fui estudar para Viseu, onde um
professor de música, um padre, me disse que, para preto, eu até era muito
inteligente”.
“Aos
18 anos, quando já era líder de instituições, recebi várias cartas engraçadas,
endereçadas ao Dr. Savimbi, e outras coisas do género. Depois, tive mais um ou
outro episódio na cidade, mas consegui nunca perder a elevação. O meu pai
convenceu-me de que devia ser mais paciente, tolerante, pedagógico. Às vezes, a
[questão da] cor pode ser atenuada pelo estatuto. A imprensa nunca fez nada com
o único luso-africano no Parlamento. Já escreveram sobre o deputado mais novo,
o deputado operário… mas, sobre mim, nada. Terem-me chamado Obama das Beiras
não me choca. Não falar do assunto também é uma forma de racismo. Ter de fazer
de branco é uma coisa que me incomoda”, relata Hélder Amaral.
À
mesma revista, Cláudia Semedo, actriz e apresentadora, disse: “Felizmente,
nunca senti discriminação de forma directa, mas não sou uma pessoa alheada da
realidade. Sei que existe muito racismo. Veja-se o discurso sobre o fecho das
fronteiras, em tempos de crise. ‘Só queremos cá os nossos’, dizem. É um racismo
encapotado porque as pessoas têm a noção de que é uma vergonha. Somos um povo
que vive a miscigenação de uma forma muito calorosa”.
E
acrescentou: “Saímos à rua, em Lisboa, e cruzamo-nos com um indiano, um
paquistanês, um africano. Mas, depois ligamos a televisão e não temos isso.
Claro que estamos num país em que a maioria é caucasiana, mas há toda uma
paleta de cores que não tem essa representação. Acho muito bem que as pessoas
se unam contra um acto errado, de ignorância, e adiram ao movimento #somostodosmacacos,
mas acharia mais interessante a frase ‘Somos todos humanos’”.
Entretanto,
ainda em Portugal, o professor Pedro Cosme Vieira, da Faculdade de Economia da
Universidade do Porto, resolveu mostrar que o racismo e outras teses
energúmenas continuam a proliferar pelo país.
O
número de mortes relacionadas com a Sida desceu de dois milhões em 2004 para
1,2 milhões em 2014. No entanto, segundo Pedro Cosme Vieira, com o “abate
sanitário de todos os infectados com Sida, a doença desapareceria da face da
terra”.
Mais
vai mais longe. Diz ele que “a pretalhada que atravessa o Mediterrâneo devia
ser abatida a tiro”.
Contactado
pelo Folha 8, o director da Faculdade de Economia da Universidade do Porto,
José Varejão, afirma que “este processo está a ser analisado segundo os
mecanismos instituídos na Universidade, que dispõe de órgãos que se ocupam da
observância de padrões éticos em todas as actividades académicas da
Universidade e na conduta dos seus membros (docentes, funcionários ou alunos)”,
acrescentando que “neste momento, apenas podemos acrescentar que o processo
segue os trâmites normais, aguardando-se a sua conclusão”.
Folha
8
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