quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Repórteres Sem Fronteiras condena julgamento de jornalistas ingleses na Indonésia



Díli, 30 set (Lusa) - A organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) condenou hoje o julgamento de dois jornalistas ingleses, Rebecca Prosser e Neil Bonner, detidos pela marinha indonésia no estreito de Malaca, em maio, quando estavam a fazer um documentário sobre pirataria.

"A RSF apela às autoridades indonésias para que deixem de abusar da sua legislação de imigração draconiana e suspenda de imediato o julgamento dos dois jornalistas", que começou na terça-feira e deve continuar esta semana, disse a organização.

Prosser e Bonner, que foram detidos por estarem a filmar sem visto de jornalista, estiveram presos 125 dias na ilha de Batam, tendo sido apresentados ao tribunal acusados de violar a lei da imigração, cuja pena pode ir até cinco anos de prisão.

Nove indonésios estão igualmente a ser julgados por crimes punidos com penas máximas de dois anos e multas de até 600 mil euros por apoiarem na realização do documentário.

"É inaceitável que os jornalistas sejam privados da sua liberdade e da sua família durante mais de quatro meses simplesmente por uma mera irregularidade burocrática", afirmou Benjamim Ismail, responsável da RSF na Ásia e Pacífico.

"O julgamento que começou ontem não deveria ocorrer. A única coisa sensata é o juiz ilibar rapidamente os jornalistas e quem estava a trabalhar com eles. Simplesmente estavam a fazer o seu trabalho numa zona de grande pirataria no Sudeste Asiático", sublinhou.

A RSF recorda que, no passado, os jornalistas que eram encontrados a trabalhar sem visto eram deportados do país.

Prosser e Bonner trabalham com a produtora inglesa Wall to Wall e foram para a Indonésia em maio para realizar um documentário financiado pela National Geographic sobre pirataria no estreito de Malaca, próximo de Singapura.

A marinha indonésia deteve os jornalistas na ilha de Balakang Padang quando estavam a filmar uma reconstrução de um ataque de piratas a um petroleiro.

Na altura da detenção, o almirante indonésio Taufiqurrahman disse que o que o grupo estava a filmar "poderia danificar a imagem do estreito de Malaca como uma zona de crime".

Em 2004, os jornalistas franceses Valentine Bourrat e Thomas Dandois foram detidos quando estavam a realizar um documentário para o canal franco-alemão Arte sobre a ilha de Papua.

O casal, que entrou na Indonésia com visto de turista, esteve detido durante dois meses e meio e os dois foram condenados a uma pena equivalente ao tempo que estiveram presos à espera do julgamento.

Este caso foi visto como estabelecendo precedente para a posição das autoridades indonésias relativamente a jornalistas estrangeiros no país.

ASP // MP

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