Em
Benguela, muitos criticam o Governo de os ter abandonado
João
Marcos – Voz da América
Em
Benguela, o recenseamento de antigos militares das extintas Forças Armadas do
MPLA volta a descortinar um ambiente de revolta devido à falta de pensões.
Vários
ex-guerrilheiros acorrem ao centro de recrutamento militar, em obediência a uma
orientação do Comandante em Chefe das FAA, José Eduardo dos Santos, mas não
deixam de acusar o Governo de falta de insensibilidade face à sua situação
social.
O
recenseamento, terceiro em menos de 10 anos, levou ao centro de recrutamento
militar de Benguela centenas de ex-militares das extintas FAPLAS.
Embora
haja quem não acredite na solução dos problemas, a julgar pelo contexto de
crise, a correria na manhã desta terça-feira, 29, mostrou que há gente
esperançada em dias melhores.
Foram
notórias, acima de tudo, muitas críticas ao Governo do MPLA, com o grupo de
cidadãos a lembrar que a chegada à vida militar não dependia de recenseamentos.
“Éramos
agarrados em qualquer sítio. Eu, por exemplo, fui ‘cangado’ (preso) quando ia à
escola. Não me formei, não tenho emprego, tudo porque lutámos por Angola. Os
nossos filhos também não podem prosperar. O Governo está sempre a pedir
recenseamento, mas não resolve o problema”, queixa-se um dos veteranos.
Este
antigo guerrilheiro, agora a ganhar a vida a transportar cidadãos na sua
motorizada, sente-se desrespeitado por certos jovens.
“Procurávamos
trabalhar como ‘kupapatas’, mas somos corridos das nossas paragens. Os jovens dizem
que ‘se vocês lutaram, não é connosco’. É essa a nossa vida, de muito
sofrimento”, denuncia.
Desmobilizado
em 1992, o cidadão que pediu o anonimato, de 53 anos de idade, diz que podia
ter perdido a vida em tempo de guerra.
Por
isso, prefere não acreditar que esteja a ser abandalhado.
“Fui
para a vida militar em 1978. Podia ter morrido, mas graças a Deus estou aqui, a
falar convosco. O que faço, serralharia e carpintaria, não serve para nada.
Estamos à espera da recompensa da Pátria”, disse.
A
VOA não conseguiu obter reacções da direcção do centro de recrutamento.
O
responsável do CRM encontra-se adoentado e o seu adjunto em gozo de férias.
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