sexta-feira, 2 de outubro de 2015

A LIBERTAÇÃO DO EURO – João Oliveira



João Oliveira*

Desde a adesão ao euro, Portugal é um dos países que menos cresce na Europa e no mundo. Produz hoje menos riqueza do que quando se introduziram as notas de euro. Quase década e meia perdida.

O euro é uma moeda ajustada às necessidades e aos interesses da alta finança europeia, à capacidade produtiva e exportadora da Alemanha. Que contrai o investimento e condiciona o nosso crescimento. Que encarece as nossas exportações, substitui as nossas produções por importações, arruína a nossa indústria e a nossa agricultura. Que promove o desemprego, a precariedade, o empobrecimento, a emigração, a desertificação. Que estimula o endividamento externo, a saída de capitais e a especulação financeira. Que submete o país ou à chantagem dos "mercados", isto é dos especuladores, ou à chantagem do BCE, isto é da troika.

Não podemos fazer de conta que o problema não existe. Em termos substanciais, dentro do euro, o país não cresce, não se desenvolve, não recupera o emprego. Por isso afirmamos que foi um desastre para Portugal e que não temos alternativa, a prazo, senão abandoná-lo. Idealmente em concertação com outros povos europeus, mas sem ficar dependentes dessa possibilidade.

O exemplo grego

Há quem nos diga para aprender com o que se passou na Grécia. Mas isso é virar o bico ao prego. O que vimos é o que pode suceder, e o que de facto sucedeu, a um país periférico dentro do euro. Porque a Grécia está no euro, não é como a Inglaterra, a Suécia ou a Dinamarca, que pertencem à UE mas que estão fora do euro.

A destruição em mais de um quarto da riqueza que produzia por ano, o desemprego oficial de mais de um quarto da sua população ativa (e mais de metade no caso da juventude), o risco de pobreza de mais de um terço da população, o corte do financiamento dos bancos pelo BCE, as filas à porta dos bancos e dos multibancos, a chantagem permanente da troika, a destruição de qualquer veleidade de praticar uma política de esquerda ou tão somente de responder às necessidades mais prementes da população.

Este é o retrato da Grécia no euro. O grande erro do governo grego não foi querer sair do euro, foi, ao contrário, ter alimentado ilusões de que era possível eliminar a austeridade e desenvolver o país dentro do euro e não se ter preparado para se libertar dele. Uma grande lição para todos os povos europeus.

O verdadeiro aventureirismo 

São aqueles mesmos que nos meteram na aventura desastrosa do euro que vêm agora descaradamente acusar o PCP de defender a aventura da saída. Bem podem novamente virar o bico ao prego, que os irresponsáveis não somos nós, foram eles!

À enorme irresponsabilidade da entrada, o PCP opõe a grande responsabilidade do reconhecimento da necessidade estrutural nacional da saída.

À irresponsabilidade da precipitação da adesão, o PCP opõe a responsabilidade de uma cuidadosa preparação do abandono.

À irresponsabilidade com que menosprezaram os salários, as pensões, as prestações sociais e os níveis de vida no cumprimento das regras do euro, o PCP opõe a defesa dos rendimentos e das poupanças da população na libertação do euro.

Na nossa conceção, a libertação do euro é uma necessidade profunda do país, mas que tem que ser um processo preparado, democrático e que proteja os meios, os recursos e os direitos da generalidade da população.

[*] Deputado do PCP. 

O original encontra-se em blogues.publico.pt/... 

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/
 

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