Rui Peralta, Luanda
A
economia-mundo encontra-se num momento incerto, refletido nos mercados
financeiros, que sofreram o pior trimestre dos últimos 4 anos. A combinação de
factores económicos como a moderação do crescimento na China e a instabilidade
monetária nos USA são dois dos principais factores que geram a actual elevada
volatilidade no mercado. Em paralelo assiste-se a uma quebra no comércio
mundial e á desvalorização dos preços das matérias-primas, o que causa graves
problemas nos países produtores. A estes factores adicionam-se a crise dos
refugiados de guerra e económicos (só refugiados são cerca de 60 milhões), a
crescente migração e os mais de 200 milhões de desempregados que vagueiam pela
economia-mundo. O crescimento global será, pois, inferior ao do ano passado e
os mais optimistas creem numa recuperação muito ligeira em 2016 (optimismo
nunca foi realismo…é como a fé). As economias mais avançadas poderão gozar de
um crescimento extremamente moderado, mas as economias ditas “emergentes”
atravessarão serias dificuldades – em particular o Brasil, o B da primeira
letra dos BRICS - e uma brusca desaceleração.
O
potencial de crescimento está “abafado” pela baixa produtividade, pelo
envelhecimento e pela crise financeira persistente e já tornada “herança”.
Assiste-se, também, a uma alteração do padrão de crescimento. As economias
ditas “emergentes” foram as que mais contribuíram para a economia-mundo, no
padrão assumido nos últimos dois decénios, mas actualmente são os baixos
crescimentos das economias desenvolvidas que permitem maior consistência ao
crescimento global, enquanto os “emergentes” entram em recessão (que nem sempre
gostam de reconhecer e que apenas é timidamente assumida quando já se torna
impossível de esconder, como as jovens que engravidam e tentam esconder o facto
á família). A América Latina, por exemplo, experimentou uma profunda
transformação nos últimos 25 anos, mas os progressos efectuados encontram-se
ameaçados. O crescimento da região é decepcionante e profundamente desigual e
as perspectivas são medíocres. E o mesmo acontece noutras economias como a
Rússia e a Africa do Sul (isto nos BRICS) ou na Nigéria (uma das economias mais
promissoras da ultraperiférica economia regional africana).
A
grande questão é decidir se esta situação é estrutural ou cíclica. E para isso
ainda não existe resposta certa. Aparentemente o recurso a politicas adequadas
e realistas poderão conduzir as “embarcações” para águas tranquilas. Mas (e é
mesmo um grande “mas”) …Se, por exemplo, a reserva federal dos USA decidir-se
pela súbita subida do dólar criará um círculo vicioso que refletir-se-á de
forma negativa nas economias “emergentes”, que não se encontram suficientemente
protegidas nem tão pouco irão a tempo de reduzir os riscos para as suas empresas,
contas públicas e bancos.
E
assim os actuais 200 milhões de desempregados que vagabundeiam pela
economia-mundo, transformar-se-ão em 300 milhões e os refugiados chegarão aos
100 milhões e teremos o próximo trimestre como “o pior dos trimestres” dos últimos
4 anos. Mas não se precipitem os apressados. Não é a “catástrofe iminente”,
pela qual anseiam á mais de um seculo algumas almas inquietas que ainda não
arranjaram lugar ao sol. É apenas uma alteração nos padrões de produção e de
riqueza, que possivelmente irá sacudir muita da ineficiência que reside na
economia-mundo.
A
normalidade voltará dentro de alguns anos. Ou, pelo menos, uma nova
normalidade…
Leituras
aconselhadas
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