sexta-feira, 9 de outubro de 2015

A VOLATILIDADE


Rui Peralta, Luanda

A economia-mundo encontra-se num momento incerto, refletido nos mercados financeiros, que sofreram o pior trimestre dos últimos 4 anos. A combinação de factores económicos como a moderação do crescimento na China e a instabilidade monetária nos USA são dois dos principais factores que geram a actual elevada volatilidade no mercado. Em paralelo assiste-se a uma quebra no comércio mundial e á desvalorização dos preços das matérias-primas, o que causa graves problemas nos países produtores. A estes factores adicionam-se a crise dos refugiados de guerra e económicos (só refugiados são cerca de 60 milhões), a crescente migração e os mais de 200 milhões de desempregados que vagueiam pela economia-mundo. O crescimento global será, pois, inferior ao do ano passado e os mais optimistas creem numa recuperação muito ligeira em 2016 (optimismo nunca foi realismo…é como a fé). As economias mais avançadas poderão gozar de um crescimento extremamente moderado, mas as economias ditas “emergentes” atravessarão serias dificuldades – em particular o Brasil, o B da primeira letra dos BRICS - e uma brusca desaceleração.

O potencial de crescimento está “abafado” pela baixa produtividade, pelo envelhecimento e pela crise financeira persistente e já tornada “herança”. Assiste-se, também, a uma alteração do padrão de crescimento. As economias ditas “emergentes” foram as que mais contribuíram para a economia-mundo, no padrão assumido nos últimos dois decénios, mas actualmente são os baixos crescimentos das economias desenvolvidas que permitem maior consistência ao crescimento global, enquanto os “emergentes” entram em recessão (que nem sempre gostam de reconhecer e que apenas é timidamente assumida quando já se torna impossível de esconder, como as jovens que engravidam e tentam esconder o facto á família). A América Latina, por exemplo, experimentou uma profunda transformação nos últimos 25 anos, mas os progressos efectuados encontram-se ameaçados. O crescimento da região é decepcionante e profundamente desigual e as perspectivas são medíocres. E o mesmo acontece noutras economias como a Rússia e a Africa do Sul (isto nos BRICS) ou na Nigéria (uma das economias mais promissoras da ultraperiférica economia regional africana).

A grande questão é decidir se esta situação é estrutural ou cíclica. E para isso ainda não existe resposta certa. Aparentemente o recurso a politicas adequadas e realistas poderão conduzir as “embarcações” para águas tranquilas. Mas (e é mesmo um grande “mas”) …Se, por exemplo, a reserva federal dos USA decidir-se pela súbita subida do dólar criará um círculo vicioso que refletir-se-á de forma negativa nas economias “emergentes”, que não se encontram suficientemente protegidas nem tão pouco irão a tempo de reduzir os riscos para as suas empresas, contas públicas e bancos.

E assim os actuais 200 milhões de desempregados que vagabundeiam pela economia-mundo, transformar-se-ão em 300 milhões e os refugiados chegarão aos 100 milhões e teremos o próximo trimestre como “o pior dos trimestres” dos últimos 4 anos. Mas não se precipitem os apressados. Não é a “catástrofe iminente”, pela qual anseiam á mais de um seculo algumas almas inquietas que ainda não arranjaram lugar ao sol. É apenas uma alteração nos padrões de produção e de riqueza, que possivelmente irá sacudir muita da ineficiência que reside na economia-mundo. 

A normalidade voltará dentro de alguns anos. Ou, pelo menos, uma nova normalidade…

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