Jonathan
Metzl, especialista em violência armada e saúde mental, diz que lobby da
indústria armamentista impede mudança na legislação. Segundo ele, é a vontade
do povo contra a vontade de corporações poderosas.
O
massacre de nove pessoas numa faculdade comunitária na cidade de Roseburg, no
Oregon, voltou a chocar os americanos e a confrontá-los com uma velha
discussão: a controversa lei de armas dos Estados Unidos.
Segundo
dados da ONG Everytown for Gun Safety, que promove a segurança contra o uso de
armas de fogo, desde o massacre de Newtown, que deixou 20 mortos em dezembro de
2012, foram registrados ao menos 141 tiroteios em escolas americanas. Isso
corresponde a quase um tiroteio por semana em alguma escola do país.
Em
entrevista à Deutsche Welle, Jonathan Metzl, especialista em violência armada e
saúde mental da Universidade Vanderbilt, no Tennessee, diz que existem muitos
lobbies poderosos e interesses financeiros que fazem tudo para que a legislação
de armas de fogo não seja endurecida nos EUA.
"É
a vontade do povo contra a vontade de alguns lobbies e corporações muito
poderosas", afirma o psiquiatra. "Os americanos estão permitindo a
praga, a insanidade da violência armada massificada."
Deutsche
Welle: Tiroteios em escolas e universidades estão ficando mais comuns nos
EUA?
Jonathan
Metzl: Tiroteios em escolas estão se tornando cada vez mais frequentes e cada
vez mais horríveis. Se alguém estiver determinado, é praticamente impossível
impedi-lo de fazer isso, porque temos diferentes leis sobre armas de fogo em
cada estado, mesmo no que diz respeito à presença de armas de fogo em escolas.
Em minha opinião, precisamos de um referendo nacional sobre a questão.
Esses
tiroteios servem de modelo para outros massacres. Para chamar a atenção
nacional, é preciso superar o último aluno [atirador]. Vimos isso em Newtown.
Com todos esses tiroteios em escolas, é preciso criar realmente uma grande
confusão para que o nome do agressor fique conhecido.
No
geral, as escolas e particularmente as faculdades onde hoje ocorrem os
tiroteios estão entre os lugares mais seguros dos EUA. E tais lugares são
também os mais seguros para jovens em idade universitária, que formam, como
sabemos, a faixa etária mais propensa a atirar em outras pessoas ou a levar
tiros.
A
probabilidade de que alguém seja atingido por um tiro num campus universitário
é inferior a 1% para cada 100 mil pessoas. Entre o público em geral, essa cifra
gira em torno de 6% a 7% para cada 100 mil. O que observamos com frequência em
campi universitários é que o estabelecimento de zonas livres de armas é
altamente eficaz na proteção contra a violência armada. Campi universitários
são lugares particularmente seguros.
DW: Como
estes tiroteios continuam a acontecer em espaços supostamente seguros?
Campi
universitários refletem cada vez mais a sociedade. Como existem mais armas e
mais tiroteios, mais pessoas descontentes recorrem às armas como forma de
resolver uma série de problemas. As armas se tornam o instrumento de resolução
de conflitos. Tudo, desde problemas interpessoais, descontentamento com notas
escolares ou com alguns aspectos sociais da faculdade.
Vimos
um docente atirar em outro docente numa faculdade no Mississippi, há algumas
semanas. Parte desse problema se deve ao fato de haver mais armas disponíveis
ao redor.
DW: Depois
do massacre de Newtown, houve um estímulo para que se introduzisse uma
legislação de controle de armas mais acirrada em nível nacional. Esses esforços
falharam. O massacre no Oregon pode levar à implementação de um controle mais
forte de armas?
As
pessoas estão cada vez mais horrorizadas com o que está acontecendo por aqui.
Não se trata de um grande mistério. Tiroteios em massa são difíceis de prever
ou conter, mas, com eles acontecendo quase diariamente, pode-se ter uma ideia
de como acabar com isso.
Queremos
controles de antecedentes criminais. Queremos que sejam rastreadas pessoas com
histórico de violência e outros fatores. Deve haver um sistema de avaliação
como aquele que se faz para tirar a carteira de habilitação. Talvez isso não
teria evitado o último tiroteio, mas vai pôr um fim à violência e aos massacres
cotidianos. Nos EUA, anualmente, 32 mil pessoas morrem vítimas da violência
armada.
Existem
muitos lobbies poderosos e interesses financeiros que fazem tudo para que isso
não aconteça. É a vontade do povo contra a vontade de alguns lobbies e
corporações muito poderosas.
DW: Após
o tiroteio no Oregon, o presidente Obama disse que, permitir que massacres
assim aconteçam é uma escolha política. Isso é verdade?
Os
americanos estão permitindo a praga, a insanidade da violência armada
massificada ao facilitar que qualquer pessoa possa conseguir uma arma. Isso é
absolutamente verdade. Os estados com leis sensatas de armas de fogo são muito
eficazes em conter os tiroteios diários e é isso é o que temos de fazer.
Spencer
Kimball (ca) – Deutsche Welle
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