A
democracia em Angola é um edifício que se está a construir paulatinamente, num
esforço de aprendizagem constante, afirmou ontem o embaixador angolano em
Espanha, durante o 54º curso monográfico de Defesa Nacional, dirigido a
políticos, altas patentes das Forças Armadas e da Guarda Civil de Espanha, bem
como a personalidades da sociedade civil.
Victor
Lima, que falava na qualidade de convidado do Centro Superior de Estudos de
Defesa Nacional, dissertou sobre o tema “Angola e a sua importância
geoestratégica na África Austral e Central: uma experiência nacional com
repercussões internacionais”. O diplomata defendeu o envolvimento de todos e
que todas as forças políticas se eduquem no sentido de distinguirem os actos de
oposição dos de subversão.
“Pelas suas especificidades, às quais ainda acrescem factores potencialmente perturbadores associados aos resquícios de guerra, os angolanos sabem que a estabilidade constitui o principal valor político nacional, antes de qualquer outro. Sem ela nada mais é realizável com sucesso, por melhores que sejam as intenções”, frisou.
No acto, igualmente enquadrado no programa dos 40 anos da Independência, Victor Lima referiu que Angola é uma realidade complexa que dificilmente é compreendida nos dias de hoje por quem a observa de longe e a espaços, muito particularmente se desconhece os aspectos fundamentais da sua história recente e a idiossincrasia do seu povo. O diplomata falou das diversas etapas de luta do povo angolano, desde a sua independência aos diversos cenários que a caracterizam, até à implementação da democracia. “Depois de ensaiadas várias soluções para o conflito angolano sob a égide da ONU, a única fórmula que conduziu realmente à Paz residiu na fragilização ou derrota de uma das partes em confronto: a que usou armas contra a democracia. Ficou muito claro para os angolanos que não havia outro caminho. Nos conflitos militares em África, não se alcança a Paz em circunstância de match nulo”, precisou.
“Além disso, as soluções inclusivas - aquelas que não excluem os vencidos no campo de batalha, mesmo encerrando riscos - são, pelo seu profundo sentido humanista, as que se revelam mais consistentes como base de solução dos conflitos em África e talvez não só. Esta é uma experiência genuinamente angolana, que não tem paralelo na história das guerras recentes deste mundo, pois o Presidente da Republica de Angola sempre considerou que não há expressão maior de respeito pelos direitos humanos do que preservar a vida e a dignidade de combatentes inimigos em situação crítica”, realçou o embaixador.
Lições da guerra
Victor Lima afirmou que os angolanos aprenderam “lições muito duras” com a guerra, ao mesmo tempo que acumularam um “vasto capital de experiência” sobre como lidar com conflitos regionais e internos em África, que hoje se tem revelado de grande utilidade no quadro dos esforços que se realizam no continente, com vista a equacionarem-se fórmulas capazes de garantir a estabilidade do Golfo da Guiné, da Região dos Grandes Lagos e da África Central no geral. Angola é uma Nação com enormes potencialidades, dotada de abundantes e variados recursos naturais em que o petróleo e os diamantes são os mais conhecidos a nível internacional e constituem a sua principal fonte de receitas, mas Victor Lima sublinhou que não são suficientes por enquanto para atender as imensas necessidades de reconstrução de um País que estava totalmente destruído ao fim da guerra em 2002, e onde, por paradoxal que pareça, o mais difícil era definir a ordem das prioridades dentro de um universo vasto de realizações a serem levadas a cabo em que todas são prioritárias.
Num contexto de tão grandes desafios, o Governo angolano estabeleceu como tarefas fundamentais o cumprimento das metas estabelecidas pelas Nações Unidas nos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio até 2015, no âmbito das quais delineou programas que têm por finalidade fundamental resolver o grave problema da pobreza e proporcionar uma vida digna a todos os angolanos.
“Os resultados desta acção do Governo angolano são vistos em África e referidos por prestigiadas organizações internacionais como um modelo de sucesso na construção das bases sobre as quais deve assentar o desenvolvimento humano, económico e social no continente africano”, precisou.
Victor Lima reafirmou o empenho e determinação dos angolanos, do Governo e das instituições que conformam o Estado na construção de uma Nação forte e unida na diversidade cultural, religiosa e outras que a caracterizam, sobre uma base em que têm total relevância todos os pressupostos das democracias modernas, pelos quais se rege o país há mais de duas décadas.
“Em Angola não há nenhum equívoco sobre o rumo a seguir, pois a prática tem demonstrado que o respeito e a observância de todos os fundamentos da democracia é uma escolha acertada e a única capaz de acomodar os diferentes interesses de todos os actores políticos nacionais que encaram o presente e o futuro de Angola com seriedade e responsabilidade”, acrescentou.
Esta é uma questão fundamental que deriva da realidade concreta angolana e não da que se constrói virtualmente e desvirtua a verdade sobre Angola, onde cada passo na edificação dos pilares sobre os quais assentam o desenvolvimento e a democracia devem ser dados de forma segura, para evitar perigosas posturas fracturantes.
Jornal
de Angola
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