Navegantes/SC –
Um grupo de 10 jovens racistas espancou até a morte o haitiano Fetiere Sterlin,
33, na noite do último sábado (17/10) em Navegantes Santa Catarina – cidade a
78 Km da capital Florianópolis. O haitiano, que vivia na cidade foi atacado com
pedaços de ferro e levou várias facadas no peito. Antes do ataque, a vítima foi
chamada de “macici”, termo que significa homossexual na língua nativa dos
haitianos, o crioulo.
“Macici
é a única palavra que eles [jovens] aprendem e começam a xingar [os haitianos],
afirmou João Edson Fagundes, diretor da Associação de Haitianos de Navegantes,
para quem o assassinato foi um crime de ódio.
Segundo
ele, o grupo era formado por jovens entre 16 e 19 anos, que moram no bairro
Nossa Senhora das Graças, conhecido por ser um reduto de tráfico de drogas.
"Quando
não tem formação humana acontece isso. Tiram muito sarro. Passam pelos
haitianos falando 'E aí, macici?'. Também os chamam de 'macici black', relata
Fagundes.
Impunidade
De
acordo com o comandante do Corpo de Bombeiros Ricardo Luís da Silva, chamado
por um morador que presenciou as agressões, Sterlin não resistiu ao
espancamento e já chegou morto ao hospital. Até o momento ninguém foi preso e o
delegado Rodrigo Coronha, disse estar ouvindo testemunhas para identificar os
assassinos.
Sterlin
estava no Brasil há pelo menos cinco anos. Há dois, passou a morar em
Navegantes, cidade com 73 mil habitantes que atrai imigrantes para o trabalho
na construção naval e civil. O haitiano trabalhava como isolador em uma dessas
empresas.
De
acordo com a companheira de Sterlin, a brasileira Vanessa Nery Pantoja, 27,
ambos participavam de uma confraternização de haitianos, que foi interrompida
pela Polícia por falta de alvará. O casal voltou ao local depois das 23h, na
expectativa de que a festa recomeçasse.
Foi
a essa altura que o grupo de assassinos passou de bicicleta e passou a
ofendê-lo: “Macici são vocês”, teria respondido. Foi o bastante para que o
grupo voltasse armado com facas e ferramentas para atacá-lo e a sua
companheira.
"Fui
atacada por apenas um deles, que parecia ser menor de idade. Consegui me
defender e atacar de volta, ele fugiu. Foi aí que corri para encontrar meu
marido, que estava mais adiante. Eles já tinham fugido e não pude fazer nada.
Foi muito rápido", disse Vanessa.
Corpo
não foi liberado
Segundo
a mulher, a dificuldade agora é retirar o corpo do companheiro do Instituto
Médico Legal (IML), de Itajaí, cidade vizinha. Ela foi informada por
funcionários que a Embaixada do Haiti no Brasil os orientou a autorizar a
retirada do corpo apenas por parentes de primeiro grau.
Segundo
ela, os funcionários informaram que a embaixada do Haiti no Brasil os orientou
para que o corpo fosse liberado apenas para parentes de primeiro grau. Mesmo a
apresentação de uma declaração de união estável, emitida pelo cartório da
cidade nesta terça-feira (20/10), não bastou. O IML continua a não aceitar o
documento
O
diretor da Associação dos Haitianos disse que a discriminação é comum na
cidade, mas casos de ataques como o de que foi vítima Sterling, não. “Falam
muito que os haitianos vieram tirar emprego dos brasileiros, mas não é verdade.
Eles preenchem vagas com salários de R$ 800 a R$ 1.200, que os brasileiros não
aceitam. Com a crise, a situação piorou", explica Fagundes.
Até
julho do ano passado, Navegantes tinha cerca de 600 haitianos, número que caiu
para 250 este ano. A maioria dos estrangeiros voltou ao Haiti ou mudou para
outras cidades do país.
Afropress,
com informações da Folha de S. Paulo
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