O
líder da Renamo, Afonso Dhlakama, disse hoje que mandou entregar armas da sua
guarda para evitar um banho de sangue junto da sua casa na Beira, centro de
Moçambique, e exigiu a libertação imediata dos seus homens detidos.
"Estou
a pedir que sejam libertados incondicionalmente agora. Porque não quero fazer
aproveitamento político, chamar a população, fazer manifestações, destruir a
Beira", afirmou o presidente da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana)
aos jornalistas ao fim da tarde na sua residência, que hoje foi invadida por
forças policiais alegadamente para reclamar a entrega de armamento, numa
operação que resultou na detenção de elementos da guarda do dirigente de
oposição.
Afonso
Dhlakama confirmou a entrega de 16 armas aos mediadores do processo de diálogo
entre Governo e Renamo, que por sua vez o deixaram à responsabilidade da
polícia, mas admitiu que hoje esteve perto de dar ordem de retaliação.
"Subiu
a tensão. Queria mesmo dar ordem para rebentar com isto tudo, ocupar isto tudo,
porque temos capacidade para isso", declarou, acrescentando que depois
acabou por se conter: "Como cristão, arrefeci e comecei a rir-me".
Segundo
o presidente da Renamo, "não há guerra, não há confusão", mas uma
ordem de fogo podia ter deixado dezenas de mortos, sublinhando que hoje proibiu
uma suposta intenção da população local de iniciar ações violentas com paus e
machados.
O
líder da oposição disse que os incidentes de hoje começaram com uma alegada
intenção da polícia de recuperar três armas que terão sido capturadas pelos
homens da Renamo, no incidente com as forças de defesa e segurança no passado
dia 25 em Gondola, província de Manica.
A
Renamo disse na ocasião que foi emboscada pelas forças de defesa e segurança,
que, por sua vez, negaram qualquer ataque e indicaram que apenas se dirigiram
ao local para repor a ordem pública, após a morte de um motorista civil e pela
qual responsabilizam os homens de Dhlakama.
"Confirmo
que no dia 25 capturámos armas em Amatongas [Gondola]. Afinal foi o Ministério
[do Interior] que nos atacou. Ainda bem, pensava que tinham sido bandidos. Fiquei mesmo satisfeito", ironizou hoje Dhlakama, que reapareceu na
quinta-feira na Gorongosa, ao fim de quase duas semanas em lugar desconhecido,
na sequência daquele episódio.
Hoje
na Beira, segundo Dhlakama, houve empurrões entre os seus homens e agentes da
polícia, que, nessa altura já tinha cercado a sua casa com um forte
dispositivo, e que um dos militares da Renamo se preparava para disparar com
uma arma Ak-47.
"Eu
gritei `não faça isso`, não arranje problemas, a guerra acabou há muito
tempo`", descreveu o líder da Renamo, insistindo que não quer retaliações
nem "banho de sangue".
Ainda
na sua narração dos acontecimentos, Afonso Dhlakama afirmou que a reivindicação
das armas dos homens da Renamo foi posterior e que recebeu também a ordem de
dispensar a sua guarda pessoal e aceitar a proteção da polícia.
Ao
fim da manhã, Dhlakama estava reunido na sua residência com os mediadores e com
a governadora da província de Sofala e ficou decidido que as armas eram
entregues aos observadores, enquanto a oferta de proteção policial ficava
ignorada.
O
líder da Renamo frisou que se recusava a entregar as armas à polícia,
acusando-a de servir a Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique), partido no
poder, e que rejeita igualmente "ser guarnecido em casa como um
prisioneiro".
Remetendo
uma posição de fundo para uma conferência de imprensa em breve, Dhlakama
sinalizou que o próximo passo deverá ser a reintegração dos homens armados do
movimento nas forças de defesa e segurança.
"Para
mim, [o incidente de hoje] é o começo da reintegração. Estamos a insistir que,
depois disto, o passo seguinte, já para a semana, haja unidades da Renamo e da
Frelimo a serem treinadas na polícia", assinalou.
Moçambique
vive novos momentos de incerteza política, provocada pela recusa da Renamo em
reconhecer os resultados das eleições gerais de 15 de outubro do ano passado e
pela sua proposta de governar nas seis províncias onde reclama vitória, sob
ameaça de tomar o poder pela força.
Lusa,
em RTP
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