sábado, 10 de outubro de 2015

Líder da oposição moçambicana diz que entregou armas para evitar banho de sangue



O líder da Renamo, Afonso Dhlakama, disse hoje que mandou entregar armas da sua guarda para evitar um banho de sangue junto da sua casa na Beira, centro de Moçambique, e exigiu a libertação imediata dos seus homens detidos.

"Estou a pedir que sejam libertados incondicionalmente agora. Porque não quero fazer aproveitamento político, chamar a população, fazer manifestações, destruir a Beira", afirmou o presidente da Renamo (Resistência Nacional Moçambicana) aos jornalistas ao fim da tarde na sua residência, que hoje foi invadida por forças policiais alegadamente para reclamar a entrega de armamento, numa operação que resultou na detenção de elementos da guarda do dirigente de oposição.

Afonso Dhlakama confirmou a entrega de 16 armas aos mediadores do processo de diálogo entre Governo e Renamo, que por sua vez o deixaram à responsabilidade da polícia, mas admitiu que hoje esteve perto de dar ordem de retaliação.

"Subiu a tensão. Queria mesmo dar ordem para rebentar com isto tudo, ocupar isto tudo, porque temos capacidade para isso", declarou, acrescentando que depois acabou por se conter: "Como cristão, arrefeci e comecei a rir-me".

Segundo o presidente da Renamo, "não há guerra, não há confusão", mas uma ordem de fogo podia ter deixado dezenas de mortos, sublinhando que hoje proibiu uma suposta intenção da população local de iniciar ações violentas com paus e machados.

O líder da oposição disse que os incidentes de hoje começaram com uma alegada intenção da polícia de recuperar três armas que terão sido capturadas pelos homens da Renamo, no incidente com as forças de defesa e segurança no passado dia 25 em Gondola, província de Manica.

A Renamo disse na ocasião que foi emboscada pelas forças de defesa e segurança, que, por sua vez, negaram qualquer ataque e indicaram que apenas se dirigiram ao local para repor a ordem pública, após a morte de um motorista civil e pela qual responsabilizam os homens de Dhlakama.

"Confirmo que no dia 25 capturámos armas em Amatongas [Gondola]. Afinal foi o Ministério [do Interior] que nos atacou. Ainda bem, pensava que tinham sido bandidos. Fiquei mesmo satisfeito", ironizou hoje Dhlakama, que reapareceu na quinta-feira na Gorongosa, ao fim de quase duas semanas em lugar desconhecido, na sequência daquele episódio.

Hoje na Beira, segundo Dhlakama, houve empurrões entre os seus homens e agentes da polícia, que, nessa altura já tinha cercado a sua casa com um forte dispositivo, e que um dos militares da Renamo se preparava para disparar com uma arma Ak-47.

"Eu gritei `não faça isso`, não arranje problemas, a guerra acabou há muito tempo`", descreveu o líder da Renamo, insistindo que não quer retaliações nem "banho de sangue".

Ainda na sua narração dos acontecimentos, Afonso Dhlakama afirmou que a reivindicação das armas dos homens da Renamo foi posterior e que recebeu também a ordem de dispensar a sua guarda pessoal e aceitar a proteção da polícia.

Ao fim da manhã, Dhlakama estava reunido na sua residência com os mediadores e com a governadora da província de Sofala e ficou decidido que as armas eram entregues aos observadores, enquanto a oferta de proteção policial ficava ignorada.

O líder da Renamo frisou que se recusava a entregar as armas à polícia, acusando-a de servir a Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique), partido no poder, e que rejeita igualmente "ser guarnecido em casa como um prisioneiro".

Remetendo uma posição de fundo para uma conferência de imprensa em breve, Dhlakama sinalizou que o próximo passo deverá ser a reintegração dos homens armados do movimento nas forças de defesa e segurança.

"Para mim, [o incidente de hoje] é o começo da reintegração. Estamos a insistir que, depois disto, o passo seguinte, já para a semana, haja unidades da Renamo e da Frelimo a serem treinadas na polícia", assinalou.

Moçambique vive novos momentos de incerteza política, provocada pela recusa da Renamo em reconhecer os resultados das eleições gerais de 15 de outubro do ano passado e pela sua proposta de governar nas seis províncias onde reclama vitória, sob ameaça de tomar o poder pela força.

Lusa, em RTP

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