Inadmissível,
é como classifico a decisão e a declaração pública do Presidente da República
na semana passada
Paula
Santos – Expresso, opinião
Que
Cavaco Silva não era o Presidente de todos os portugueses, já nós sabíamos. Que
Cavaco Silva enquanto Presidente da República tomou decisões em benefício de
determinados partidos e de determinadas opções políticas também. Mas na sua
comunicação ao país deixou cair a máscara, ao tornar público que iria indigitar
Passos Coelho para Primeiro-Ministro, evidenciando para quem quisesse ouvir a
serviço de quem está o Presidente da República Cavaco Silva.
Numa
declaração inaceitável, intolerável e inadmissível, Cavaco Silva para
justificar a sua decisão, assumiu um conjunto de posições antidemocráticas e em
confronto com a Constituição da República Portuguesa, que relembre-se “jurou
cumprir e fazer cumprir”.
Em
primeiro lugar, a decisão do Presidente da República de indigitar Passos Coelho
para Primeiro-Ministro não corresponde à vontade expressa pelos portugueses nas
eleições legislativas, que impôs uma dura derrota ao retirar a maioria absoluta
à coligação PSD/CDS, nem às considerações da generalidade das forças políticas
auscultadas. Cavaco Silva atua não como Presidente da República, mas como
representante do PSD e CDS, que continuam sem aceitar a derrota que sofreram.
Em
segundo lugar, o Presidente da República não está acima da decisão do povo,
para dissertar sobre que forças políticas podem ou não podem exercer funções
governativas. Tais declarações constituem um autêntico abuso e revelam o seu
verdadeiro entendimento sobre a democracia. Quem é Cavaco Silva para determinar
que há forças políticas, como o PCP, que não podem desempenhar funções num
governo? Rapidamente se compreende que para a direita, a defesa da democracia
só é útil quando serve os interesses de que são porta-voz (dos grupos
económicos e financeiros), caso contrário é uma chatice.
E
em terceiro lugar, o Presidente da República deixou bem claro que o mais
importante não é defender os interesses dos trabalhadores, do povo e do país,
mas sim os interesses do grande capital, dos mercados financeiros e dos
especuladores, colocando Portugal numa vergonhosa posição de subalternização.
No
fim do mandato, o Presidente da República Cavaco Silva revelou com muita
evidência quem serviu durante todos estes anos. Teve sempre como preocupação
não beliscar os interesses dos grupos económicos e financeiros, sendo uma
espécie de “procurador” desses mesmos interesses, abdicando da soberania e
independência do nosso país. Isso foi visível nas diversas posições públicas
sobre o Pacto de Agressão e presença da troica em Portugal, mas também na
decisão que tomou na sequência da “irrevogável” demissão de Paulo Portas.
Contrariando
tudo o que disse anteriormente sobre a necessidade de estabilidade governativa
e os apelos que fez à maioria absoluta, Cavaco Silva indigita um governo
PSD/CDS que de estabilidade nada tem, tudo para tentar manter a política de
direita, de esbulho dos rendimentos do trabalho, de ataque aos direitos dos
trabalhadores, de desmantelamento das funções sociais do Estado e de
privatizações.
Já
agora quanto à composição do Governo anunciada ontem (27 de outubro), o que me
apraz dizer é que se trata do cumprimento de uma formalidade na sequência da
decisão do Presidente da República que optou por indigitar Passos Coelho
criando mais instabilidade e recusando retirar as devidas consequências da
vontade do povo expressa nas eleições de condenação do governo PSD/CDS e da sua
política. Este é um governo sem futuro. Assim como a sua política já foi
derrotada nas ruas e nas urnas, este governo também o será.
PSD
e CDS não têm legitimidade para formar governo e continuar a política de
empobrecimento, exploração e declínio nacional, havendo na Assembleia da
República uma maioria de deputados que é condição bastante para a formação de
um governo de iniciativa do PS, que permite a apresentação do programa, a sua entrada em
funções e a adoção de uma política que assegure uma solução duradoura.
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