A
PIDE foi criada há 70 anos e durante 24 anos a Policia Internacional e de
Defesa do Estado esteve ao serviço do regime de Salazar. Por esses anos, muitos
dos que lutavam contra o regime foram presos e viveram na clandestinidade.
António
Vilarigues é filho de dois históricos comunistas: Sérgio Vilarigues e Maria
Alda Nogueira. Tem memórias curtas, de apenas quatro anos e meio de vida em
família.
Lembra-se
que morava na Parede com os pais e que foi uma birra que ditou a separação:
queria brincar com um amigo com uma edição clandestina do jornal "O
Avante". Por segurança, conta, os pais não tiveram outra opção a não ser
entregá-lo à avó materna.
António
já vivia por isso em Alcântara quando a mãe e o pai foram presos. Sérgio passou
por três prisões: Peniche, Angra do Heroísmo e Tarrafal, depois esteve 32 anos
na clandestinidade. Maria Alda Nogueira esteve presa nove anos e dois meses.
António
Vilarigues recorda as visitas à mãe e descreve a relação entre os dois como o
convívio de Caxias. Só três vezes por ano podia abraçar a mãe, as outras visitas
tinham um corredor ou um vidro a separar as manifestações de afeto. António
lembra que numa dessas visitas saltou com tal entusiasmo para o colo da mãe que
lhe partiu o nariz. A visita acabou aí.
Com
o pai, o contacto foi ainda mais efémero. Chegaram a viver na mesma rua em
Alcântara mas António não sabia. Ao longo de 32 anos conta que esteve poucas
horas com o pai, o recorde foram dois dias em Paris. Só mais tarde soube que
Sérgio Vilarigues tinha vários pseudónimos, Amílcar é talvez o mais conhecido.
Amílcar
é o meu pai? Este é o retrato de memórias de um filho, que não sabia o que era
a PIDE e que foi criado para não ser nem igual ao pai nem igual à mãe.
Sofia
Morais – TSF – na foto Sérgio Vilarigues e Maria Alda Nogueira.
Sem comentários:
Enviar um comentário