terça-feira, 27 de outubro de 2015

PRESOS POLÍTICOS DESTAPAM “DITADURA” ENCOBERTA DE ANGOLA



POLÍTICOS E ACADÉMICOS CRITICAM REGIME DE DOS SANTOS

A casmurrice e cegueira das autoridades presidencial, política e judicial angolanas, primeiro com o massacre de mais de 750 crentes da congregação religiosa de José Julino Kalupeteka (ilegalmente preso), no Monte Sumi, Huambo, a detenção e condenação de Arão Tempo e José Marcos Mavungo, em Cabinda, este último, julgado e condenado à seis anos de prisão, por advogar a realização de uma manifestação pacífica (constitucionalmente consagrada, art.º47.º), para denunciar a má governação e as prisões arbitrárias dos 15+1 jovens presos politicos, acusados de tentativa de golpe de Estado, por estarem a ler um livro, sobre a forma de combater a ditadura, portando 3 blocos, 12 lapiseiras, um lápis de carvão e uma pen drive, numa livraria, denunciam, como nunca, a verdadeira natureza anti-democrática do executivo angolano.

As motiva­ções das detenções, principal­mente dos jovens pre­sos politicos, são indubitavelmente de indole política, tanto que o regime, assumiu ser uma ditadura, em função do livro de Gene Sharp, que inspirou o de Domingos da Cruz. “Não fosse o regime ditatorial e estariam em li­berdade e não em prisão, os jovens 15+1, por estarem a cultivar a leitura e os co­nhecimentos históricos e académicos”, disse Nzola Mendenzy.

Na Europa e outras par­tes do mundo, até mesmo em tribunas onde o MPLA tinha alianças e solidarie­dades políticas, como a Internacional Socialista, calcorreia um movimento de condenação a perver­são das liberdades e dos direitos humanos, num país onde a “Constituição Jessiana” titula como sendo democrática.

“Nós estamos muito preo­cupados com a realidade em Angola e a Casa Branca tem estado a acompanhar o processo com apreensão e indignação, principal­mente com a prisão dos jovens políticos e de um que está em greve de fome, correndo risco de morrer, porque o Presidente Dos Santos, quer voltar a im­plantar o comunismo em Angola. A América e o Ocidente, estão atentos e no devido tempo, tomarão uma posição concertada e contundente”, disse ao F8, por telephone, à partir de Washington, o assessor di­plomático americano John Lee.

A política do bastão adop­tada pelo Titular do Poder Executivo, que autoriza a Polícia Nacional, os Ser­viços de Segurança do Estado e Militar e as For­ças Armadas, a espancar, prender e assassinar, todos que clamam por mais li­berdade e democracia, tor­na o regime uma autêntica monarquia ditatorial, onde o Presidente, face a este tipo de políticas, se compara a um monarca da Idade Média.

Isto pelo facto de sempre que os cidadãos (que não se­jam do MPLA, partido no po­der), pretendam fazer recurso a uma nor­ma da Constituição, como o art.º 47.º, que permite a liberdade de reunião e manifestação pacífica, sem necessidade de autoriza­ção, o regime com medo, ordena a intervenção poli­cial ou militar, contra po­pulares indefesos, numa clara demonstração de vio­lação da constituição e da lei, bem como dos direitos humanos.

“O que tem ocorrido é uma clara demonstração de estarmos diante de um regime de cariz colonial, fascista e ditatorial que supera, inclusive, um ou­tro que muitos angolanos conheceram no tempo colonial; o de Salazar”, as­segurou ao F8, o analista político e professor uni­versitário, Martins Manuel acrescentando, no entanto, haver uma grande diferen­ça entre o regime de Antó­nio de Oliveira Salazar e o de José Eduardo dos Santos. “O primeiro (Salazar) como fascista e ditador, ti­nha o condão de cumprir e respeitar a maioria das leis que fazia aprovar, o presi­dente de Angola (Eduardo dos Santos) não. E, mais grave, viola a constituição feita para agradar o seu próprio umbigo, para além de dar asas a institu­cionalização da violência, da discrimina­ção, das arbitra­riedades, do as­sassinato dos oposi­tores e alta corrupção, só compatível com a mais abjecta ditadura pessoal e partido­crata”.

Hoje, quem sai a rua, nos táxis, nos restaurantes, nos serviços, nas escolas e universidades, o tema de conversa é o avolumar das injustiças e a cegueira da decisão do Titular do Poder Executivo em apri­sionar os 15+1, jovens, que se tornaram presos politicos, por terem, diz a acusa­ção, sido apanhados, a ler um livro de Gene Sharp e Domingos da Cruz, sobre ditadura, portando ainda; 12 lapiseiras, um lápis de carvão e três blocos.

“Esta gente é demente e não parece ter sentido de Estado, pois só assim se assiste a insensibilidade de um presidente da Re­pública a agir pior que o colonialista Salazar, que concedia habeas corpus e não assassinavam tanto os nacionalistas angolanos que eram considerados terroristas”, denunciou o nacionalista e economista Matondo Konda.

E não se contendo foi de­bitando mais exemplos do que viveu e pensa. “Basta verificar o número dos so­breviventes do “Processo 50”, dos do “4 de Feverei­ro” e dos da “Clandestini­dade”, no período colonial, que chegaram até a inde­pendência e, em contraposição, veja o volume dos assassinatos de opositores do regime de Eduardo dos Santos e do MPLA, tendo apenas como referência o 27 de Maio de 1977, para contabilizar quantos che­garam aos tempos desta democracia de fachada. Eles são assassinos! São piores que os colonialistas portugueses e muitas vezes que os nazistas, sem querer ser muito duro. E com toda esta violência contra os jovens me pergunto: José Eduardo não é mesmo estrangeiro e por esta razão, nos está a colonizar, com toda esta insensibilidade”, concluiu Matondo Konda.

Pelo volume de lamenta­ções, das opiniões e tensão que se vive, a situação em Angola inspira cuidados, muitos cuidados mesmo e, numa hora, minuto ou es­quina qualquer, tudo pode acontecer, por nada apon­tar que uma atitude ou me­dida de bom senso, vinda do Presidente da Repíubli­ca, salvo o de mandar para as fedorentas masmorras do regime, mais cidadãos que pensem diferente, pos­sa descomprimir o clima.

Folha 8 digital


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