Após
dois meses de crise política, a Guiné-Bissau tem um novo Governo. É preciso
agora que o país volte a ter estabilidade para não danificar ainda mais a sua
reputação internacional, comenta Johannes Beck, da DW África.
Muitos
guineenses respiraram de alívio quando o Presidente José Mário Vaz divulgou por
decreto a lista do novo Governo, na noite da segunda-feira (12.10). A
Guiné-Bissau esteve dois meses sem Governo. Um vazio governamental tão
prolongado é motivo de preocupação para muitos num país com um longo historial
de golpes e intentonas militares.
O
chefe do novo Executivo será Carlos Correia, agrónomo de 81 anos formado na
extinta República Democrática da Alemanha (RDA). Encabeçará um Governo de 15
ministros e 14 secretários de Estado.
Carlos
Correia já foi três vezes primeiro-ministro: de 1991 a 1994, de 1997 a 1998 e
no ano de 2008. É um dos "pesos pesados" do antigo movimento de
independência PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo
Verde) e é tido como um negociador hábil nos contactos com doadores
internacionais como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Algo bastante útil num país que nem conseguiu financiar as últimas eleições sem
ajuda externa.
Líder
do maior partido não está no Governo
Ausente
do novo elenco governamental está o antigo primeiro-ministro Domingos Simões
Pereira, demitido há dois meses pelo Presidente José Mário Vaz na sequência de
diferendos pessoais. Isto apesar de ambos fazerem parte do PAIGC. E apesar de
juntos, em maio deste ano, terem conseguido mobilizar mil milhões de euros de
ajudas internacionais na "mesa redonda" dos doadores em Bruxelas.
Não
é um bom presságio para a estabilidade da Guiné que Domingos Simões Pereira, o
líder do PAIGC, não faça parte do novo Governo. Há pessoas da confiança de
Pereira no Executivo agora nomeado, como o novo ministro dos Negócios
Estrangeiros, Artur Silva. Mas quando o chefe do maior partido guineense, que
detém 57 dos 102 assentos no Parlamento, não está presente no Governo, deixa-se
a porta aberta para o surgimento de novas crises.
Sem
consenso para dois ministérios
Também
é mau sinal que o primeiro-ministro Carlos Correia e o Presidente
"Jomav", como José Mário Vaz também é apelidado, tenham demorado
tanto tempo a chegar a um consenso em relação à lista final dos ministros e
secretários de Estado. Dois ministérios estratégicos acabaram mesmo por ficar
sem titulares, porque não houve entendimento. Sendo assim, o primeiro-ministro
chefiará os ministérios da Administração Interna e dos Recursos Naturais.
Brigas
pessoais em vez de debates políticos
Nestes
dois meses de crise ficou claro que não existem diferenças políticas de maior
dentro do PAIGC. Pelo contrário, foram animosidades e acusações de natureza
pessoal que envenenaram o clima político.
Depois
do golpe de 2012, a Guiné-Bissau enveredou finalmente pelo caminho da
democracia e precisa agora de estabilidade política. Brigas entre famílias não
devem substituir debates sobre orientações políticas. Os três protagonistas
políticos do país – o Presidente José Mário Vaz, o primeiro-ministro Carlos
Correia e o líder do PAIGC, Domingos Simões Pereira – deveriam cessar
imediatamente as acusações de natureza pessoal.
Só
assim os doadores internacionais vão abrir os bolsos e transferir os fundos que
o país e a população tanto precisam. Só assim os investidores internacionais
regressarão ao país sedento de investimentos. Só assim os militares continuarão
a abster-se de intervir na política.
Johannes
Beck – Deutsche Welle, opinião
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