quarta-feira, 18 de novembro de 2015

JULGAMENTO DE ATIVISTAS ANGOLANOS, AMEAÇAS A JORNALISTAS E QUEIXAS DE AGRESSÕES



Advogados queixam-se da lentidão do julgamento

O segundo activista, Hitler Chiconda, foi ouvido hoje. Advogado de defesa vai fazer uma participação por ofensas corporais a Mbanza Hamza.

O julgamento dos 17 activistas, acusados de actos preparatórios de rebelião, continuou esta quarta-feira com a audição do arguido Hitler Chiconda na 14.ª secção do Tribunal Provincial de Luanda, no Benfica.

Durante o intervalo de 30 minutos, Walter Tondela, advogado dos activistas, lamentou a lentidão do processo.

“Notem que são 17 activistas e até ao momento estamos ainda no segundo arguido. A Constituição prevê que tem de haver celeridade. Não sabemos por que é que o julgamento está lento”, disse em declarações à imprensa.

O advogado acredita que as sessões do julgamento dos activistas não vão terminar na sexta-feira, 20 de Novembro, como previsto. Por isso, defende que os seus constituintes sejam julgados em liberdade.

“O problema é que eles encontram-se privados de liberdade. Eles deviam ser postos em liberdade e assim o julgamento devia demorar mais tempo”, defendeu.

Sobre o caso da suposta agressão das autoridades a Afonso Matia “Mbanza Hamza”, negado pelo porta-voz dos Serviços Prisionais, Menezes Kassoma, Walter Tondela garante que vai fazer uma participação por crime de ofensa corporal, uma vez que alega que o activista chegou a ser ferido com choques eléctricos.

“Apresentámos esta preocupação em tribunal, que um dos agentes penitenciários teria agredido o activista Mbanza Hamza, portanto vamos proceder a uma participação por crime de ofensa corporal”, referiu o advogado.

Grupo Justiça sem Pressão intimida e ameaça jornalistas

Durante a manhã desta quarta-feira, o grupo Justiça sem Pressão, reunido a cerca de três ruas do Tribunal de Luanda onde está a acontecer a terceira sessão de julgamento, intimidou e ameaçou fisicamente a equipa de jornalistas do Rede Angola, presente no local para fazer a cobertura do julgamento.

A equipa de reportagem do RA foi impedida de continuar a fotografar as acções do grupo, cuja origem se desconhece, tendo sido cercados por cerca de 50 pessoas e conduzidos por quatro indivíduos que a obrigaram a eliminar as imagens captadas. Depois de algumas ameaças físicas e questionados sobre a autoridade para tal interpelação, os mesmos indicaram que tinham autoridade para actuar daquela forma.

Em declarações anteriormente prestadas ao RA, o grupo havia afirmado não pertencer a qualquer partido político, estando apenas a manifestar-se em nome da sociedade civil.

Rede Angola - Borralho Ndomba (texto), Ampe Rogério (fotos). – Na foto: Walter Tondela[ Ampe Rogério/RA ]

Porta-voz dos Serviços Prisionais nega agressões aos activistas

Segundo Menezes Kassoma, ferimentos ligeiros de Mbanza Hamza devem-se ao efeito das algemas.

O porta-voz dos Serviços Prisionais, Menezes Kassoma, negou hoje a denúncia apresentada ontem pelos advogados de defesa dos 17 activistas, que estão a ser julgados desde segunda-feira, de que os jovens teriam sido agredidos no Tribunal do Benfica. Segundo o porta-voz tudo não passou de uma simulação do arguido Mbanza Hanza que pretendia levar para o tribunal um dos colchões da cadeia.

“O que se deu é que no principio da manhã, o recluso Mbanza Hanza tentou trazer uma parte do colchão da prisão para esta instituição que é o Tribunal e, felizmente, ele foi impedido. Em função desta situação, negava-se a descer da viatura para entrar para cela e foi persuadido a entrar”, explicou Menezes Kassoma. “Instantes depois, quando um outro recluso foi levado para cela, ele tentou sair à força e foi travado na porta para que não saísse e ficou no chão a gritar dizendo que foi torturado, mas não foi agredido fisicamente”, esclareceu o responsável em declarações ao Rede Angola.

Para acalmar os ânimos, o responsável diz ter sido obrigado a conversar com o arguido. Segundo Menezes Kassoma, os ferimentos que o activista Mbanza Hanza apresentou ontem em tribunal estão relacionados com os esforços que foi fazendo quando se encontrava algemado.

“Os ferimentos não são resultado da agressão, são resultado dos esforços que estava a fazer com as algemas. Sabemos que as algemas são metálicas e na medida que alguém estiver algemado, a medida que for esforçada, elas apertam ainda mais. Razão pela qual ele apareceu com ferimentos ligeiros”, justificou.

Denúncia de agressões

As denúncias de agressões dentro do tribunal foram feitas ontem pelo advogado de defesa Zola Ferreira, em declarações à Voz da América (VOA).

“Quando estávamos à espera de entrar na sala, vimos chegar os réus e depois sentimos gritos que nos preocuparam e os agentes da ordem disseram que eles se tinham portado mal”, afirmou o advogado à VOA.

Evangelista, primo de Nito Alves que falou com o RA no fim da sessão, esclareceu que um dos agredidos tinha sido Mbanza Hamza. “Houve tumultos, sim, quando os reclusos entraram. A activista Rosa Conde disse-me que foi entre o Mbanza e os polícias”, explicou.

Indignado, Zola Ferreira mostrou a intenção de apresentar o seu protesto junto ao juiz da Causa, Domingos Januário.

Na origem dos tumultos, parecia estar o pedido dos activistas de mais condições para a cela onde devem aguardar no Tribunal quando não estão na sala de audiências.

A entrada foi também marcada por recomendações expressas por parte da polícia sobre o comportamento que devem ter aqueles que se encontram a assistir às audiências. Entre outras, está a proibição de tomar notas, de bater palmas aquando da entrada dos activistas, a proibição do uso de telemóveis ou a de cruzar os braços.

Dentro do Tribunal e área circundante, nenhum dispositivo móvel ou modem portátil apresentam qual sinal de rede, o que tem dificultado a celeridade da cobertura jornalística.

Rede Angola - Borralho Ndomba

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