terça-feira, 10 de novembro de 2015

Portugal. Costa assume que novo quadro político é exigente para PS e restante esquerda



O secretário-geral do PS criticou hoje o "revanchismo" da coligação PSD/CDS e assumiu que o novo quadro político, com a formação de um Governo alternativo, será particularmente "exigente" para os socialistas e restante esquerda parlamentar.

"Nós não somos, como a coligação PSD/CDS já demonstrou ser, incapazes de construir uma solução de maioria, mas não somos mesmo uma oposição como o PSD e o CDS já anunciaram ir ser, animada pelo revanchismo e focada na obstrução", afirmou António Costa no seu discurso na sessão de encerramento do debate do programa do Governo - uma intervenção que recebeu palmas de todas as bancadas da esquerda parlamentar.

Em linhas gerais, António Costa defendeu que um Governo do PS, suportado por PCP, Bloco de Esquerda e "Os Verdes", - apesar das diferenças ideológicas entre os partidos que o apoiam - oferece condições de estabilidade em torno de um caminho comum e que esse executivo alternativo cumprirá os compromissos internacionais de Portugal.

Neste ponto, em concreto, porém, António Costa deixou um recado claro: "Este novo quadro político é também particularmente exigente e responsabilizante para o PS e todas as outras forças políticas, que, opondo-se à coligação PSD/CDS, têm de assumir o ónus que o PSD se revelou incapaz de satisfazer", disse.

Nestas circunstâncias, segundo o líder socialista, os portugueses interpelam o conjunto das bancadas que se opõem à coligação PSD/CDS com as seguintes questões:

"Estão em condições de viabilizar a formação de outro Governo no atual quadro parlamentar? Pode esse governo ter a consistência que só um programa de Governo coerente assegura? Pode esse governo beneficiar de condições de governabilidade contra moções de rejeição ou censura? Pode esse governo ter perspetivas de estabilidade para a Legislatura, porque a maioria que o viabiliza também se dispõe a apreciar conjuntamente os instrumentos fundamentais da ação governativa, como os Orçamentos de Estado de cada ano?"

Para António Costa, as bancadas parlamentares do PS, do Bloco de Esquerda, do PCP e "Os Verdes" "garantem esse suporte parlamentar maioritário que permite a formação de um Governo do PS, na coerência do seu programa de Governo, com condições de governação estável no horizonte da legislatura".

"Pela parte do PS sabemos que não ganhámos as eleições, mas sabemos também que não temos o direito de nos furtar à responsabilidade de procurar assegurar a Portugal a estabilidade que Portugal precisa, nem de trair a vontade de mudança daqueles que em nós votaram", sustentou.

Na sequência acordo entre as forças da esquerda parlamentar, o secretário-geral do PS "saudou o sentido de responsabilidade patriótica" destes partidos e considerou que "acabou um tabu, derrubou-se um muro, venceu-se mais um preconceito".

"Aqui, nesta Assembleia, somos todos diferentes nas nossas ideias, mas todos iguais na nossa legitimidade. Ninguém desconhece a identidade plural desta base parlamentar, nem nenhuma destas bancadas se dispõe a abdicar ou a disfarçar as diferenças doutrinárias e programáticas que as diferenciam, de que se orgulham, porque se batem e que não são redutíveis num mercado de jogo político, trocando convicções por lugares na mesa do poder. A esquerda é e deseja continuar a ser plural e diversa", afirmou António Costa, recebendo palmas de todas as bancada da esquerda.

Na parte final da sua intervenção, o líder socialista referiu-se às diferenças entre os partidos de esquerda, mas considerou que é possível um caminho comum.

"É possível aliviar a asfixia fiscal da classe média, não obstante divergirmos sobre a nacionalização do setor energético; sim, é possível defender o Estado social, malgrado termos diferentes visões sobre a nossa participação no euro; sim, é possível combater a precariedade laboral, apesar de pensarmos diferentemente sobre a União Europeia", acrescentou.

PMF // SMA

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