Isabel
Moreira – Expresso, opinião
Remontemos
à génese ideológica dos Partidos. O PS tem na sua génese a prossecução do
socialismo democrático e a solução dos problemas nacionais e a resposta às
exigências sociopolíticas do mundo contemporâneo.
A
história do PS confunde-se com o grande movimento social e político que, a
partir dos meados do século XIX, conduziu a luta por sociedades mais justas e
solidárias. É bom não esquecer quem, nesse momento, traçou uma linha de
desenvolvimento na frente ideológica, sindical e política, determinante para a
fundação e a consolidação das democracias contemporâneas e para a consagração e
a concretização dos direitos sociais.
Também,
em Portugal, o pensamento e a ação socialista acompanharam o movimento
internacionalista referido, iniciado na segunda metade do século XIX.
Essa
matriz inicial é a de hoje, está vestida de modernidade - mais do que nunca
perante uma direita repressiva do Estado social - e é irrenunciável.
A
luta contra o fascismo inscreve-se no ideal de luta pela justiça de uma
sociedade livre em termos cívicos e de uma sociedade com democracia social.
A
formalização do PS em 1973, através da transformação da Ação Socialista
Portuguesa, que havia sido criada em 1964, tem, assim, uma base ideológica e de
ação anteriores; não surge do vazio. O antifascismo, a luta por uma sociedade
democrática e socialmente avançada têm raízes no século XIX. Há, portanto,
repito, uma herança acumulada de reivindicações universais.
A
herança é de esquerda. Um compromisso político, ontológico e até biológico com
o povo, com os trabalhadores, com os pobres, sabendo que só serviços universais
garantem um lugar digno para todos.
A
herança tem, ideologicamente, essências comuns com outros, independentemente de
caminhos diversos traçados após a revolução de Abril.
O
PCP tem, na sua génese, um compromisso irrenunciável com a classe operária e
com os trabalhadores, inteiramente na linha com o referido grande movimento
social e político do século XIX.
O
PCP tem na sua génese a luta por aquilo que precisamente era negado - uma sociedade
nova liberta da exploração do homem pelo homem, da opressão, de desigualdades,
de injustiças e flagelos sociais, uma sociedade em que o aprofundamento da
democracia económica, social, política e cultural assegurassem aos
trabalhadores e ao povo liberdade, igualdade e elevadas condições de vida.
Tal
como o PS, o PCP tem a mesma perspetiva do Estado novo: é uma história de
perseguições, de prisões, de torturas, de condenações, de assassinatos daqueles
que ousavam defender os direitos do povo, protestar, lutar pela liberdade e por
melhores condições de vida e de trabalho.
Tal
como o PS, o PCP tem na sua génese a luta contra o fascismo e o colonialismo, a
luta vincada por direitos sociais, a defesa da ideia de progresso contra a
ideologia da lei da natureza, da lei docada um por si.
Muito
mais poderia ser acrescentado.
Sabemos
das divergências que PS e PCP tiveram no PREC e depois dele.
Por
mim, mais importante do que a insistência nas divergências democráticas numa
das revoluções mais pacíficas de que há memória, num dos períodos
pós-revolucionários mais normaisdentro da sua complexidade inevitável que
conheço, é recordar não só o que agora nos une – e isso tem sido feito contra a
histeria descontrolada da direita - mas a génese ideológica e de luta que nos
une em termos fundacionais.
É
bom não esquecer. Porque o momento de hoje é ideológico e de génese. Porque os
nossos adversários mostraram estar prontos para acabar com objetivos comuns irrenunciáveis,
como a natureza universal do Estado social.
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