Ana
Alexandra Gonçalves*
Uma
eventual solução governativa de esquerda terá de contar, invariavelmente, com a
comunicação social mais ideologicamente comprometida de que há memória. Esse
comprometimento é visível há muito tempo, mas tornou-se escandaloso quer na
campanha eleitoral, quer nos dias que se seguiram à desilusão de não ver uma
maioria absoluta da direita.
Se
dúvidas persistem, recomenda-se alguma atenção a Francisco Assis. Este
"socialista" tem todo o direito a discordar do rumo seguido por
António Costa - o pluralismo, de resto, é apanágio das democracias -, mas
existe também alguma dificuldade em compreender toda a atenção que o senhor em
questão tem merecido. Francisco Assis, uma figura pouco relevante na cena
política portuguesa, é agora o menino mais do que querido de boa parte da
comunicação social.
É
escusado relembrar a multiplicidade de jornalistas, comentadores e afins que
estão comprometidos com o ainda governo. Mas será uma opinião diversa da
manifestada pela direcção dos partidos de esquerda que contará com todas as
atenções da comunicação social. Chegámos ao ponto de ter um país em que Presidente
da República e comunicação social anseiam e promovem a cisões internas dos
partidos de esquerda.
A
democracia enfraquece perante uma comunicação social deslumbrada
ideologicamente. Mas o facto é que a democracia tem sido enfraquecida por
aqueles que juram defendê-la. Por conseguinte, resta muito pouco a dizer.
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