Mariana
Mortágua – Jornal de Notícias, opinião
O
debate do Programa do Governo apresentado pelo PSD/CDS pode parecer um momento
anedótico da situação política, o fruto de um capricho de Cavaco. Parece-me, no
entanto, que o debate parlamentar de ontem e hoje será útil. Na hora da
despedida, a Direita exibe o seu extremismo, saindo do palco a celebrar,
derrotada e fanática, a desgraça em que deixam o país.
Mas
o que mudou para que a situação se transformasse tão bruscamente? É olhar para
o desespero de Cavaco: o que mudou foi a opção de um milhão de eleitores pelo
Bloco de Esquerda e pela CDU. Foi esse voto que foi verdadeiramente útil a uma
mudança que rompe com o centrão. Sem essa força, sem esse milhão de votos,
estaríamos onde estivemos sempre, depois de cada eleição, no campo do centrão
conformado, no campo dos arranjos maioritários que trouxeram o país até aqui.
Hoje
é o dia de despedir Passos e Portas. A novidade é que não se segue um Governo
de mais do mesmo a alternar com a coligação. É hoje possível uma mudança
política essencial, garantida por este milhão de votos: em cada ano, em cada
orçamento do Estado, haverá uma maioria que está comprometida com políticas de
urgência. A estabilidade deixará de ser a da chantagem contra os pobres. Haverá
estabilidade porque, em vez de cortes, haverá devolução de salários e pensões;
nenhuma carga suplementar nos impostos sobre o trabalho e os bens essenciais;
fim do ataque ao Estado social, saúde, educação, segurança social.
Não
é tudo, é certo. Mas é muito para um país que perdeu tanto nos últimos anos. É
a esperança que renasce. Respeitá-la, fazê-la crescer e alimentar uma sociedade
capaz de se mobilizar, de exigir e confrontar, é o maior dos desafios.
*Deputada
do BE
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1 comentário:
Nesta sua crónica utiliza a expressão "Felizmente há luar", para se referir ao derrube pelos partidos da esquerda do governo PSD/CDS. E diz: "É a esperança que renasce. Respeitá-la, fazê-la crescer e alimentar uma sociedade capaz de se mobilizar, de exigir e confrontar, é o maior dos desafios".
Era difícil ter usado uma analogia mais apropriada. A expressão "Felizmente há luar", que depois deu título a uma peça de Luís de Sttau Monteiro, remete-nos para um período negro da História de Portugal, mais precisamente o 18 de Outubro de 1817, em que, no lugar que é hoje o Campo dos Mártires da Pátria, foram enforcados onze companheiros de Gomes Freire de Andrade por se terem revoltado contra o General Beresford, que então governava Portugal.
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