O
ex-Presidente timorense José Ramos-Horta considera que a política de pensões
para veteranos, aplicada pelo Governo, é um "exagero" que minimiza o
trabalho dos que, de facto, deram grande parte da sua vida pela independência.
"Minimiza
os verdadeiros veteranos, aqueles que em 1999 com a chegada da Interfet
desceram a Díli e no seu historial estavam 24 anos de luta. E todos sabem quem
são. Esses merecem todas as nossas homenagens", afirmou em entrevista à
Lusa.
A
Força Internacional para Timor-Leste (Interfet) foi um contingente
multinacional de manutenção da paz das Nações Unidas, organizada e dirigida
pela Austrália, em conformidade com as resoluções das Nações Unidas para
enfrentar a crise humanitária e de segurança em Timor-Leste, entre 1999 e 2000,
até à chegada das forças de paz da ONU.
"Para
eles sobreviverem muitos milhares de funcionários do Estado, jovens, padres e
madres que os apoiaram. Esses têm que ser conhecidos mas daí a todos receberem
uma pensão de veterano, banaliza a contribuição dos que combateram que não
sabiam quando iam morrer, se estavam vivos daqui a meia hora, para a
semana", considerou.
Na
entrevista à Lusa, o ex-Presidente timorense disse que a ideia inicial foi a
correta, partindo da convicção dos líderes timorenses de que "aqueles que
mais contribuíram para a luta, aqueles que combateram 24 anos, que abandonaram
tudo, que perderam familiares, devem ser reconhecidos e compensados
materialmente para poderem vier.
Isso
começou, nota, com o processo de "reconhecimento dos veteranos" que
passou depois para a fase de atribuição de condecorações e homenagens que foram
feitas exaustivamente, desde 2006, "em Díli e pelo país fora".
"Depois
passou-se para outra fase, das pensões. Aí é que foi um exagero. E então
minimiza a contribuição daqueles que pegaram em armas, verdadeiramente. Hoje
temos dezenas de milhares de ditos veteranos", afirmou.
"E
aí é que foi um erro político e que custa muito ao tesouro do Estado",
sublinhou.
Desde
que arrancou em 2008, o programa de pensões para veteranos já totalizou mais de
425 milhões de dólares (397 milhões de euros), com um aumento progressivo desde
os cerca de 3,58 milhões de dólares nesse ano para os mais de 129 milhões que
serão pagos este ano.
Em
2016 o Governo timorense tem previsto e orçamentados 104 milhões de dólares
para o programa que, no total, já beneficiou 47.078 pessoas dos quais 18.225
receberam um único pagamento e os restantes passaram a receber pensões mensais.
Desse
total há quase 36 mil homens e cerca de 11.280 mulheres, 23 beneficiários com
menos de 10 anos e 14 com mais de 95, sendo o grosso dos beneficiários pessoas
entre os 35 e os 70 anos. Ermera é a região com mais beneficiários: 5.510.
O
pagamento de pensões mensal atinge mais de 33 mil pessoas, com um valor total
por mês de 6,6 milhões de dólares.
Em
declarações recentes à Lusa o primeiro-ministro timorense, Rui Maria de Araújo,
considerou que este é um programa que "não só injeta dinheiro na economia
mas também ajuda a distribuir um pouco a riqueza do país para diferentes
camadas sociais".
"Esse
valor é agregado, vai ser injetado na economia e claro vai ter o seu efeito. É
dinheiro que circula na economia, vai incentivar mais comércio mais
transações", disse.
"Mas
espera-se também que este montante seja utilizado para os setores produtivos,
especialmente a nível de pequena e média escala", sublinhou, esperançado
que o programa ajuda os veteranos a terem um papel mais ativo na economia
nacional.
O
valor inicial do primeiro pagamento a cada beneficiário abrange retroativos
desde o início do ano em que foi validado e adquiriu o direito à pensão.
As
quantias que são determinadas pelos anos de luta, pela idade ou pelo grau de
parentesco, no caso de viúvos, órfãos ou irmãos e que variam entre os 230 e os
575 dólares mensais a que se somam pagamentos únicos de 1.380 dólares para
algumas categorias.
O
critério para ser validado como combatente, ou mártir da Libertação Nacional,
depende das validações de pelo menos seis pessoas da antiga estrutura do
comando da luta, a nível municipal, com base numa lei aprovada em 2006 (e
revista em 2009).
Para
adquirir pensão como combatente, este tem de ter mais de oito anos de dedicação
exclusiva à luta, que é considerado "o tempo de frente armada, prisão preventiva
ou prolongada, desterro e tempo de frente clandestina quando determinada por
ordem superior da luta, não acumulada com serviço remunerado ou atividade
estudantil".
ASP
// EL - Lusa
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