domingo, 6 de dezembro de 2015

A HORA DA ÁFRICA E DA CHINA



Jornal de Angola, editorial

Na capital económica da África do Sul teve lugar o denominado Fórum de Cooperação de Joanesburgo, sob o lema "África-China Progredindo Juntos: Uma cooperação de ganhos mútuos para um desenvolvimento comum", que constituiu uma grande oportunidade para ambos os lados.

Numa altura em que a moeda chinesa yuan, também denominada de renmimbi, vai passar a fazer parte do buquê de moedas internacionais, os países africanos que forjam parcerias e alianças com a China terão muito a ganhar. Ao lado de outras moedas para a transacção internacional, o recurso à moeda chinesa como reserva de valor em todo o mundo, constitui, em termos económicos, financeiros e monetários, uma vantagem acrescida nas relações bilaterais.

Para espelhar bem a relevância do evento em Joanesburgo, que reúne não apenas governantes, mas também homens de negócios, Angola faz-se representar pelo Presidente da República, José Eduardo dos Santos que, à margem do encontro, teve já um tête-à-tête com o seu homólogo chinês, Xi Jinping.

Além da cooperação bilateral ao nível do desenvolvimento económico e o fortalecimento dos laços de amizade, os dois estadistas passaram em revista questões actuais relacionadas com a paz, a segurança, as alterações climáticas, entre outros temas.

A China tem sido um parceiro cuja disponibilidade para acompanhar Angola, desde os primórdios do alcance da paz, na reabilitação e recuperação das infra-estruturas, muitas delas de raiz, aos tempos actuais, contribuiu para as realizações que o país apresenta hoje. Tivesse o país ficado refém de uma série de condicionalismos impostos pelos parceiros ocidentais, tidos como tradicionais doadores, não teríamos as realizações que o país conheceu ao longo de pouco mais de 10 anos de paz.

Além das condições bonificadas em que são concedidos os empréstimos vindos da segunda maior economia do mundo, é de enaltecer a forma equidistante como o país mais populoso do planeta se mantém dos assuntos internos dos seus parceiros.

A parceria e cooperação entre Estados independentes e soberanos não se estabelecem por via de relações bilaterais verticais, em que enquanto uns impõem a partir de cima, outros são supostos a cumprir a partir de baixo, sob pena da rejeição das ajudas ou empréstimos.
Contrariando a Carta da ONU e demais legislação internacional, muitos Estados viram as suas soberanias "diminuídas" e os seus ordenamentos jurídicos gravemente "afectados" por causa das condições em que se processa(va)m as ajudas ou empréstimos.

A República Popular da China mudou o paradigma e promove com todos os países do continente relações económicas e comerciais baseadas no respeito pela soberania dos Estados, na não ingerência nos assuntos internos com reciprocidade de vantagens. Acreditamos que, numa altura em que a maioria dos países africanos ensaia medidas de diversificação económica, acederam rapidamente ao Fórum de Cooperação de Joanesburgo para fazer jus ao velho ditado segundo o qual "é no aproveitar que está o ganho". Os países africanos estão a tirar proveito do avanço económico da China, a negociar a transferência de tecnologia para acelerar o processo de industrialização do continente. Não temos dúvidas quanto ao potencial agrícola do continente e, como parte vital do processo de diversificação económica, a transformação da agricultura como aliada da indústria constitui uma saída vantajosa para combater indicadores que ainda nos preocupam a todos, como africanos. É preciso que os esforços de erradicação da fome, da pobreza extrema e do desemprego tenham continuidade com políticas agrícolas e industriais ali onde as condições são propícias.

É bem-vinda em todo o continente a predisposição chinesa para contribuir para o desenvolvimento do continente, através de investimento directo e financiamento de projectos, entre outras iniciativas.

Grande parte dos desafios para se retirarem os melhores benefícios da cooperação com a China depende largamente dos seus parceiros africanos, que deverão ser capazes e decisivos na identificação das suas prioridades.

Como disse o embaixador angolano na China, citado pela Rádio Nacional de Angola, a partir de Joanesburgo, "o dinheiro da parte chinesa existe, são os parceiros da China que têm de identificar os projectos para os investimentos que se impõem". Garcia Bires disse que “estamos a nível interno a observar quais são as nossas reais prioridades para, no próximo ano, apresentarmos à China para execução”.

Segundo dados avançados pelo Ministério do Comércio da China, mais de 2.000 empresas chinesas encontram-se em África, dando emprego a perto de cem mil africanos, numa altura em que as autoridades chinesas pretendem continuar a ver crescer os laços de cooperação e comércio. De facto, esperamos que o Fórum de Cooperação de Joanesburgo, que termina hoje na pátria de Nelson Mandela, constitua uma oportunidade para que os países africanos e a China progridam juntos. Não há dúvidas de que chegou, definitivamente, a hora da África e da China.

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