O
décimo réu, o professor José Gomes Hata, começou a ser interrogado. Certamente
frustrado por nada ter conseguido de Albano Bingo-Bingo, o juiz presidente
Januário José Domingos resolveu dizer ao que vinha e quem era o seu patrão.
Disse, com todas as palavras, que considera o Presidente da República um
símbolo nacional.
Que
se saiba, e ao contrário do insigne juiz Januário José Domingos, símbolos
nacionais são a bandeira (do país, não a do MPLA), o hino e a insígnia. É,
aliás, isso mesmo que se pode ler no Portal do Governo de Angola.
Fica,
no entanto, a dúvida: Será que o insigne juiz Januário José Domingos vai propor
a alteração legal para que seja acrescentadoa como símbolo nacional a figura de
José Eduardo dos Santos?
Mas
hoje o juiz Januário José Domingos estava imparável. O fim-de-semana fez-lhe
bem e as instruções recebidas ajudaram-no a carregar as baterias. Por não ter
gostado das explicações do escravo José Gomes Hata, o juiz castigou-o ali
mesmo. Obrigou-o a responder durante mais de duas horas… sempre de pé.
Entretanto,
o advogado Luís Nascimento, que defende dez dos activistas, reconhece os
argumentos dos 15 que estão detidos e que hoje – como o F8 noticiou – ameaçaram
com um grave de fome colectiva como forma de protesto pela morosidade da farsa
baptizada de julgamento.
Entre
outros aspectos, burocráticos, Luís Nascimento aponta o exemplo da determinação
do juiz da causa, que mandou ler na íntegra, durante o julgamento, o livro de
um dos réus, abordado pelo grupo de activistas nos encontros semanais, que
segundo acusação visavam preparar uma rebelião e um atentado contra o
Presidente angolano.
Por
esse motivo, e apesar de não ter sido informado da carta que os 15 em detenção
desde Junho enviaram ao Presidente José Eduardo dos Santos, ameaçando com uma
greve de fome caso o processo se continue a arrastar, o advogado compreende as
críticas à morosidade.
“Desde
o princípio. Imagine, a leitura de um livro, durante quase dois dias, para
depois não se fazer pergunta alguma relativamente ao que se leu. Parece haver
mais uma manobra dilatória para estender o julgamento por longo tempo”,
criticou Luís Nascimento.
A
apresentação de vídeos feitos com uma câmara escondida nas reuniões – descritas
como acções de formação de activistas -, com alegadas referências a acções
violentas para destituir o Presidente angolano, voltou hoje a ser criticada
pela defesa, que alega terem sido recolhidos sem qualquer autorização legal.
Também
para que é necessária a autorização legal num regime ditatorial que apenas
finge ser uma democracia? Mas a defesa pode ter calma. Se for necessária essa
autorização aparece, pouco importando que tenha sido dada à posteriori. Se,
neste caso, o suposto julgamento tem a sentença dada mesmo antes de começar,
sendo tudo o resto folclore, está tudo dito.
“De
resto, o Ministério Público, que demora tanto tempo, devia pelo menos sustentar
as perguntas que faz nas provas que tem, mas até agora não apresentou prova
alguma. Nós já pedimos inclusive a transcrição das conversas, dos vídeos, e
ainda não foi feito. Portanto, não há prova absolutamente alguma”, acusa o
advogado Luís Nascimento.
“Parece
que o grande objectivo da acusação é obter através das perguntas a confissão
dos réus, porque não têm prova absolutamente nenhuma. Não têm nada, é tudo
conversa”, insistiu.
Segundo
a acusação deduzida pelo MPR (Ministério Público do Regime), o caso remonta a
16 de Maio deste ano, quando se realizou a primeira sessão de um “curso de
formação para formadores de activistas”, em Luanda.
Folha
8
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