João
Quadros – Jornal de Negócios, opinião
Eu
não festejo o Natal. O Natal é uma festa do consumismo. Uma espécie de sonho
húmido do ministro Centeno. Eu só festejo a austeridade. Mas festejo em grande.
Negócios: Em
tempo de balanços, pareceu-nos correcto entrevistar a mão que embala o berço da
humanidade. Connosco, para fazermos um resumo de 2015, temos, Deus.
Olá,
Deus. Obrigado por estar aqui hoje, quando, provavelmente, preferia estar a
fazer as compras de Natal.
Deus: Eu
não festejo o Natal. O Natal é uma festa do consumismo. Uma espécie de sonho
húmido do ministro Centeno. Eu só festejo a austeridade. Mas festejo em grande.
Negócios: Deus
é neoliberal?
Deus: Deus
me livre. Os neoliberais são péssimos na cama. Eu gosto da austeridade porque
aprecio sacrifícios. Já lá vai o tempo em que os Deuses eram presenteados
com sacríficos de virgens , virgens, virgens, etc. Agora, ninguém é capaz
de fazer um sacrifício aqui ao Deus. São capazes de fazer sacrifícios para não
engordar, mas para quem os fez gordos não há nada.
Negócios:
Se lhe pedíssemos para eleger uma figura do ano...
Deus: Tinham
que ir para uma fila. O que não faltam são pessoas a pedir-me para fazer tops.
O melhor de 2015 fica comigo, o pior é com o Diabo. Mas , como hoje é dia do
nascimento da minha mais nova, vou abrir uma excepção. Para mim, a pessoa feita
por mim do ano é... Carlos Costa, governador do banco de Portugal.
Negócios:
Jura?
Deus: Eu
gosto de coisas pequeninas. Podia escolher o Putin, a Merkel ou o Renato
Sanchez. Mas eu sou fascinado pelo Carlos Costa. Só não o levo para junto de
mim porque gosto da postura dele na Terra. O homem é um enigma, e eu
adoro enigmas feitos por mim.
Negócios: Um
enigma?
Deus: Sim.
Carlos Costa ou é diabólico ou é o maior anjinho que já vi, e eu sou
especialista.
Negócios: Como
viu as eleições no nosso país. Acha que Costa fez batota?
Deus: Eu
não quero mistura com políticos. Sou um bocado como deputado do
PAN. Estou lá, mas é como se não estivesse. Confesso que sei o que
se passa na vossa Assembleia da República mas, não é por querer, é porque a
Heloísa Apolónia fala muito alto.
Negócios: Mas
há pessoas mais sensíveis que dizem que ele quebrou uma tradição e não tinham
prometido...
Deus: Vocês
têm cá uma lata. E as coisas que vocês me prometem e depois népia?! – ai
se a minha mulher não me apanhar desta, eu prometo-te, Deus, que
nunca mais me visto de campino e me deito com a professora de equitação da
minha mais nova . Se me curares desta ressaca, Meu Deus, prometo que nunca mais
bebo bagaço pela bota da professora de equitação da minha mais nova. Se...
Negócios: Já
percebi. Ela agora já está na esgrima não vale a pena estarmos aqui a remexer
no passado numa entrevista sobre 2015.
Deus: Eu
estive para impedir a aliança de esquerda em Portugal. Não fosse o discurso de
vitória do Marco António Costa e agora o PàF era Governo. Mas aquilo
irritou-me. Ai, já ganhámos e vamos ser Governo – não é assim.
Negócios: O
futuro a Deus pertence.
Deus: Não
é isso. Detesto gente que maltrata a Matemática. O meu filho era péssimo.
Porque é que acha que o enviei à Terra?
Negócios:
Para nos salvar a todos?
Deus: Não.
Foi castigo por causa das notas a Matemática. É inadmissível que escrevam,
sobre o filho de um Deus perfeito: "Jesus Cristo que não sabia nada
de finanças". O meu filho só era bom com parábolas.
A
Matemática é a mãe do Universo. Andámos uns anos, mas ela fugiu com um
sociólogo. Por isso é que eu enviei o Crato à Terra: para que todas as
crianças do quarto ano soubessem cálculo integral e brincassem com integrais no
recreio.
Negócios: Houve
alguma coisa que tenha feito em 2015 de que se tenha arrependido
Deus: Nem
por isso. Até porque se eu quiser volto com o tempo atrás e faço outra vez. Mas
talvez tenha estado pouco atento ao drama dos refugiados. Confiei na Europa.
Não se pode. Para o ano estou a pensar fazer uma guerra mundial para ver
se voltam a recuperar os grandes princípios e ideais europeus. É matemático.
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