@Verdade,
Editorial
Querido
empregado,
É
com uma mescla de nostalgia, estupefação e desapontamento que lhe escrevo esta
missiva. Mas, antes de tudo, perdoe-me pelo português tosco usado para lavrar a
carta. É, na verdade, o reflexo desse nosso sistema de Educação desestruturado
e desactualizado cujo papel é produzir, em massa, seres ignorantes e sem
nenhuma emoção crítica. Deixemos a Educação à parte, vamos ao essencial.
Quando
o prezado empregado assumiu a nau dos destinos desta nação, cinicamente
considerada “Pátria Amada”, jurou servir fielmente o teu patrão. De pés juntos
e de viva voz, lembro-me de lhe ter ouvido a pronunciar-se nos seguintes
termos: “O povo é meu patrão. O meu compromisso é de servir o povo moçambicano
como meu único e exclusivo patrão”.
Volvido
aproximadamente um ano, pouco ou quase nada foi feito. Pelo contrário, tudo
piorou, desde o acesso aos cuidados sanitários e ao ensino, passando pela
carestia de vida e até à situação político-militar. Como posso ter dignidade
nessas condições? Na verdade, no seu primeiro ano de trabalho, não esperava
muito de si. Apenas queria que me devolvesse a dignidade, sobretudo a dignidade
de continuar a acreditar em si e os seus bobos da corte. A dignidade de
acreditar num país comprometido com o desenvolvimento humano do seu povo.
Porém,
o seu o informe, preparado para mim, deixou-me preocupado, pois, para além de
incapacidade, no seu discurso, o estimado empregado demonstrou tamanha
incompetência. Confesso que, por um lado, fiquei emocianado com a sua
sinceridade ao afirmar que “está insatisfeito” com o curso que o país está a
tomar. É preciso ter as coisas no seu devido lugar para assumir com veemência
tamanha vergonha. E, por outro, lembrei-me de que parte da responsabilidade de
mudar o rumo das coisas é sua. Portanto, não me faça de uma besta de carga, se
faz favor!
No
seu informe, proferido naquele tom de falsa intimidade, eu esperava que me
falasse que se está a preparar uma proposta de corte de despesas públicas.
Esperava ouvir de si o que está a ser feito para estancar a inflação que
caminha para os dois digitos. Queria ouvi-lo dizer o que está a ser feito para
combater a fome que se prepara para torturar a barriga de milhares de
moçambicanos espalhados por este extenso território. Esperava que me falasse da
estratégia para travar a escalada galopante dos produtos de primeira
necessidade. Gostaria de ter ouvido a falar dessa trapaça chamada EMATUM que
colocou o país num abismo sem precedentes. Mas, enfim! O querido empregado
limitou-se aos lugares-comuns de sempre.
Portanto,
é, no mínimo, vergonhoso que, em 40 anos de independência, continuamos no
“Top+” dos países mais pobres do mundo. Continuamos com défices notáveis em
produtos que podemos produzir para o consumo interno. Continuamos de mão
estendida para o exterior, não obstante a imensidão de recursos que o país
dispõe.
Até
quando continuará a conduzir-me à desgraça?
Um
abraço do teu patrão decepcionado, Povo.
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