Além
do Presidente sul-africano Jacob Zuma, o principal partido da oposição em
Moçambique também sugere a Igreja Católica para a mediação do diferendo
político-militar. Analista fala numa "manobra dilatória" da RENAMO.
A
Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) evoca A "experiência de
sucesso" de ambos: Jacob Zuma foi bem sucedido na mediação do conflito
pós-eleitoral no Zimbabué e a Igreja Católica na guerra civil em Moçambique.
O
partido liderado por Afonso Dlhakama diz que já manifestou este desejo em
outubro último ao Governo, mas até agora não obteve uma resposta.
António
Muchanga, porta-voz da RENAMO, considera que os anteriores mediadores "já
deram o que tinham a dar". Eram "aprendizes" e"resultou
naquilo que todos vimos", afirmou em conferência de imprensa na
segunda-feira (21.12).
Na
semana passada (18.12), o Presidente Filipe Nyusi disse estar a usar todas as
vias possíveis para alcançar a paz em Moçambique e teceu críticas aos
"intermediários, que devido à importância que pretendem ganhar neste
processo, por vezes, não transmitem fielmente as mensagens emitidas pelas
partes".
"Continuaremos
a encurtar o caudal dos intermediários para conseguirmos encontros diretos com
as lideranças envolvidas", declarou num encontro com diplomatas
acreditados em Maputo, sem apontar nomes nem mencionar diretamente a crise
política.
"Manobras"
para ganhar tempo
O
analista político Gustavo Mavie considera a atitude da RENAMO como uma
"manobra dilatória" para ganhar tempo a fim de justificar à população
o seu fracasso. Mavie entende que os anteriores mediadores eram "capazes,
idóneos e competentes" para resolver a tensão político-militar em
Moçambique.
"A
verdade é que a RENAMO quer um diálogo cujo desfecho não é aceitável para a
parte com quem está a negociar. Como quando pretende dividir o país, por
exemplo. Ou quando quer que o Governo entregue o comando do Exército",
explica. Exigências que, para o analista, "nenhum negociador pode
conseguir levar a outra parte aceitar".
Na
semana passada, Afonso Dhlakama ameaçou governar no centro e norte do país, a
partir de março de 2016, face ao impasse que se verifica no processo político.
"Vamos ocupar politicamente e democraticamente Sofala, Nampula, Zambézia e
Manica. Iremos ocupar Tete e Niassa", anunciou o líder da RENAMO aos
jornalistas por telefone.
O
caso do Zimbabué
Gustavo
Mavie explica que há diferenças entre o que aconteceu no Zimbabué e o que está
a acontecer em Moçambique. Em Moçambique, a RENAMO pretende dividir o país,
enquanto no Zimbabué, Morgan Tsvangirai exigia a partilha de poder,
"alegando que também tinha tido votos que justificavam que fizesse parte
do Governo".
Segundo
o analista, "viu-se que havia alguma consistência nessa exigência" e
Tsvangirai acabaria por ser nomeado primeiro-ministro. "Mas não se dividiu
o Zimbabué", lembra. A RENAMO tem estado a reivindicar vitória eleitoral
em seis províncias, no centro e norte de Moçambique. Mavie lembra que
"isso não estava previsto": as eleições de 2014 "eram para
escolher o Presidente da República, a Assembleia da República e os órgãos
provinciais".
Sublinha
ainda que "a lei eleitoral moçambicana estima que o vencedor é aquele que
obtiver votos acima de 50%" e não foi esse o resultado que a RENAMO
conseguiu nas províncias onde reclama vitória.
O
analista para assuntos económicos António Francisco considera que o diálogo, da
forma como tem sido conduzido, não chega a lugar nenhum. "Afonso Dhlakama
disse que não há qualquer contacto, não há diálogo. Claramente, há um
distanciamento e, nesse sentido, os aspectos sobre a tal unidade nacional e a
paz são preocupantes".
A
contestação da RENAMO resulta do facto de ter proposto a revisão pontual da
Constituição que visava acomodar o projeto de criação das autarquias
provinciais, que foi chumbado, a 7 de dezembro, pela bancada maioritária da
Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO, no poder).
Romeu
da Silva (Maputo) / Lusa – Deutsche Welle
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