terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Moçambique. RENAMO PROPÕE ZUMA COMO MEDIADOR DA CRISE MOÇAMBICANA



Além do Presidente sul-africano Jacob Zuma, o principal partido da oposição em Moçambique também sugere a Igreja Católica para a mediação do diferendo político-militar. Analista fala numa "manobra dilatória" da RENAMO.

A Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) evoca A "experiência de sucesso" de ambos: Jacob Zuma foi bem sucedido na mediação do conflito pós-eleitoral no Zimbabué e a Igreja Católica na guerra civil em Moçambique.

O partido liderado por Afonso Dlhakama diz que já manifestou este desejo em outubro último ao Governo, mas até agora não obteve uma resposta.

António Muchanga, porta-voz da RENAMO, considera que os anteriores mediadores "já deram o que tinham a dar". Eram "aprendizes" e"resultou naquilo que todos vimos", afirmou em conferência de imprensa na segunda-feira (21.12).

Na semana passada (18.12), o Presidente Filipe Nyusi disse estar a usar todas as vias possíveis para alcançar a paz em Moçambique e teceu críticas aos "intermediários, que devido à importância que pretendem ganhar neste processo, por vezes, não transmitem fielmente as mensagens emitidas pelas partes".

"Continuaremos a encurtar o caudal dos intermediários para conseguirmos encontros diretos com as lideranças envolvidas", declarou num encontro com diplomatas acreditados em Maputo, sem apontar nomes nem mencionar diretamente a crise política.

"Manobras" para ganhar tempo

O analista político Gustavo Mavie considera a atitude da RENAMO como uma "manobra dilatória" para ganhar tempo a fim de justificar à população o seu fracasso. Mavie entende que os anteriores mediadores eram "capazes, idóneos e competentes" para resolver a tensão político-militar em Moçambique.

"A verdade é que a RENAMO quer um diálogo cujo desfecho não é aceitável para a parte com quem está a negociar. Como quando pretende dividir o país, por exemplo. Ou quando quer que o Governo entregue o comando do Exército", explica. Exigências que, para o analista, "nenhum negociador pode conseguir levar a outra parte aceitar".

Na semana passada, Afonso Dhlakama ameaçou governar no centro e norte do país, a partir de março de 2016, face ao impasse que se verifica no processo político. "Vamos ocupar politicamente e democraticamente Sofala, Nampula, Zambézia e Manica. Iremos ocupar Tete e Niassa", anunciou o líder da RENAMO aos jornalistas por telefone.

O caso do Zimbabué

Gustavo Mavie explica que há diferenças entre o que aconteceu no Zimbabué e o que está a acontecer em Moçambique. Em Moçambique, a RENAMO pretende dividir o país, enquanto no Zimbabué, Morgan Tsvangirai exigia a partilha de poder, "alegando que também tinha tido votos que justificavam que fizesse parte do Governo".

Segundo o analista, "viu-se que havia alguma consistência nessa exigência" e Tsvangirai acabaria por ser nomeado primeiro-ministro. "Mas não se dividiu o Zimbabué", lembra. A RENAMO tem estado a reivindicar vitória eleitoral em seis províncias, no centro e norte de Moçambique. Mavie lembra que "isso não estava previsto": as eleições de 2014 "eram para escolher o Presidente da República, a Assembleia da República e os órgãos provinciais".

Sublinha ainda que "a lei eleitoral moçambicana estima que o vencedor é aquele que obtiver votos acima de 50%" e não foi esse o resultado que a RENAMO conseguiu nas províncias onde reclama vitória.

O analista para assuntos económicos António Francisco considera que o diálogo, da forma como tem sido conduzido, não chega a lugar nenhum. "Afonso Dhlakama disse que não há qualquer contacto, não há diálogo. Claramente, há um distanciamento e, nesse sentido, os aspectos sobre a tal unidade nacional e a paz são preocupantes".

A contestação da RENAMO resulta do facto de ter proposto a revisão pontual da Constituição que visava acomodar o projeto de criação das autarquias provinciais, que foi chumbado, a 7 de dezembro, pela bancada maioritária da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO, no poder).

Romeu da Silva (Maputo) / Lusa – Deutsche Welle

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