segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Portugal. MENTIROSOS



Rui Sá* – Jornal de Notícias, opinião

Todos recordamos que nos meses que precederam as eleições de 4 de outubro, o Governo, o PSD e o CDS gritavam aos quatro ventos que a crise estava ultrapassada, apresentando diversos indicadores que "demonstravam" esse "facto".

O desemprego estava em queda. O défice iria ser de 2,7%. O aumento da receita fiscal ia permitir a devolução de grande parte da sobretaxa sobre o IRS. O Serviço Nacional de Saúde estava cada vez mais eficiente. O Banif não ia ser um problema.

Nem três meses passados das eleições (dois dos quais com governos PSD/CDS), a verdade aí está, nua e crua. O desemprego aumentou, sendo evidente que muitos despedimentos coletivos de grandes dimensões foram adiados pelas entidades patronais para depois das eleições - contributo do patronato para a grande farsa da "recuperação económica".

A meta dos 2,7% do défice não será cumprida, sendo que a sua diminuição se deve ao "colossal" aumento de impostos e menos à despesa. E, como pudemos ver pelo caso da trágica morte de um jovem no Hospital de S. José porque não havia neurocirurgiões ao fim de semana, os cortes na despesa (e não apenas no SNS) foram mais na farinha do que no farelo (como referi numa avaliação que no JN fazia aos governantes, Nuno Crato, na destruição da escola pública, comportava-se como um elefante em loja de porcelanas, enquanto Paulo Macedo, na destruição do SNS, trabalhava com pezinhos de lã - mas os resultados eram os mesmos e estão à vista!...).

A prometida grande devolução da sobretaxa do IRS passou para 0% com a mesma rapidez com que o dia 4 de outubro ia ficando para trás.

O Banif passou a representar um custo para os contribuintes de 3 mil milhões de euros. Numa solução em que, mais uma vez, os lucros ficam com os acionistas e os prejuízos com o Estado! (Perante este descalabro do setor bancário, não é, no mínimo, razoável que se discuta o controlo público da Banca?). Ou seja, aqueles que ainda se referem como "legítimos" herdeiros do direito de governar e que se sentem usurpados nesse direito não conseguem enxergar quão ilegítimas foram as mentiras com que tentaram enganar as pessoas.

Mas a farsa continua e, agora, é Marcelo Rebelo de Sousa, que tão bem defendeu o Governo da coligação PSD/CDS durante os últimos quatro anos, que, com ar compungido (mas espírito de abutre), vai ao Hospital de S. José dizer que não é "bom princípio" fazer cortes no SNS...

Por isso desejo que, em 2016, se continue a castigar os mentirosos.

*Engenheiro

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