Miguel
Guedes – Jornal de Notícias, opinião
A
antiga assinatura censória do lápis azul mudou de cor. Com a pouca-vergonha ao
rubro e com o sorriso amarelo, o PSD mistura as cores, substituindo o azul por
laranja. Agora, a censura a quem o diz. Melhor dizendo, a quem vai dizer. A
gota de água de Pacheco Pereira no seu partido parece ser algo que poderá
porventura vir a ser dito numa acção da candidatura presidencial de Marisa
Matias. Pela antecipação do futuro e pelo passado, novas vontades mas velhos
vícios. Campeão das expulsões por delito de opinião ou incumprimento
estatutário, depois de cerca de 400 militantes expulsos após as autárquicas de
2013, com a memória do seu ex-primeiro ministro Cavaco Silva a promover, em
1986, a expulsão de dezenas de militantes pelo apoio a Mário Soares contra Freitas
do Amaral, o PSD dos nossos dias faz jus à sua honra sem nunca fazer a pergunta
essencial: o que levará alguém com pensamento, história e passado a não sair
pelo próprio pé do seu partido, insistindo nas críticas ao actual rumo e
liderança? Uma das faces mais violentas da disciplina partidária é assistir à
destruição da génese de um projecto político que se julgava seu e de tantos,
por acções de assalto selvagens e gestos cirúrgicos de precisão neoliberal.
Pacheco Pereira tem sido disciplinadíssimo.
Em
boa verdade, o PSD tem um problema: o que separa Pacheco Pereira da opinião de
Marcelo Rebelo de Sousa sobre o falecido Governo de Passos/Portas é o facto de
Marcelo ser o candidato presidencial que o PSD apoia. Nada mais. Mas é esse
mesmo candidato que a PàF-ainda-no-activo-na-oposição apoiará nos seus
Conselhos Nacionais simultâneos de amanhã. Um aparência de posição de força e
de afago ao crítico candidato que se auto-impôs.
Os
dias de hoje e a liberdade de dizer diverso. Tenho a disciplina partidária em
muito boa conta em matérias fundamentais (programas de Governo, Orçamentos do
Estado ou moções de apoio ou rejeição). Tenho sérias dúvidas de que uma
candidatura presidencial, pela sua natureza pessoal de proposição, possa
constar dos possíveis crimes contra a disciplina partidária. Duarte Marques,
principal crítico moral de Pacheco Pereira, fala claramente "acima das
suas possibilidades", tal e qual como julgou a vida dos portugueses
durante anos. Estranho mundo de sombras, este, em que se podem traçar tantos
paralelismos entre a atitude do PSD com Pacheco Pereira e a atitude do
MCTP/MRPP com Garcia Pereira. Alto e sobressalto! Pacheco Pereira enquanto
denominador comum... Mas não. Estamos mesmo no presente envenenado do verbo.
O
autor escreve segundo a antiga ortografia
Sem comentários:
Enviar um comentário