Adelino
Cardoso Cassandra – Téla Nón, opinião
Age
de tal maneira que a máxima da tua ação possa tornar-se uma lei geral para
todos os seres dotados de inteligência. Esta formulação Kantiana, num contexto
sociocultural e político como o nosso, bem poderia servir de referência
simbólica para a mudança comportamental que todos desejamos, sobretudo num país
onde, voluntária ou involuntariamente,ainda se faz tábua rasa de todos os
compromissos políticos, de leis e de cumprimento de obrigações.
Esta
deveria ser, aliás, o slogan, transversalmente assumido e praticado, para quem
se predispôs, voluntariamente, transformar o país num novo Dubai até como forma
de mobilização popular. Mas, infelizmente, constata-se exatamente o contrário.
Tudo
isto vem a propósito da última notícia que recebi relacionada com o facto da
EMAE – Empresa de Água e Eletricidade – ter cortado a luz no renovado aeroporto
do Príncipe pelo facto da ENASA – Empresa Nacional de Aeroportos e Segurança
Aérea – não ter cumprido as suas obrigações financeiras para com aquela
empresa. Segundo as notícias, tal facto já dura há uma semana.
Quando
li a notícia em causa pensei que estávamos em presença de uma brincadeira,
idêntica àquela que se faz no dia um de abril ou, em alternativa, que fosse um
lapso jornalístico. Soube, posteriormente, que não se tratou nem de uma coisa
nem da outra. Tratava-se de pura realidade e com efeitos já dramáticos, em
termos operacionais, para o referido aeroporto regional com todas as
consequências que isto acarreta.
Infelizmente
é este o Dubai que o Patrice Trovoada está a construir depois de ter feito
implodir todas as empresas públicas, repartições e direções estatais,
destituindo os anteriores diretores e chefias intermédias das mesmas, e ter
colocado nelas, em substituição, autênticos broncos, mais propensos ao seu
proclamado ativismo reformador inconsequente e manifestação de mimetismo
perante a imagem do chefe.
Temos
agora, nestas empresas, os broncos de serviço, sem quaisquer
qualificações dignas para o efeito, bom senso e sentido de responsabilidade,
que, a reboque do plano melodramático para a construção do Novo Dubai, passam a
vida a tomar decisões, arquitetar diatribes e disseminar malfeitorias em toda a
extensão territorial nacional com reflexos dramáticos no tecido económico,
empresarial e social do país.
Ninguém
consegue meter ordens nestes broncos de serviço que se estão a
transformar numa autêntica praga prejudicando os esforços de outrem no processo
de revitalização económica e social do país, na atração do investimento
estrangeiro e na própria mudança da imagem externa do país.
Este
caso do aeroporto regional do Príncipe já é o terceiro,em termos de impacto
mediático negativo avassalador para a imagem externa do país, que estes broncos germinaram
e desenvolveram, provavelmente com alguma satisfação e empenho político
hierárquico, sem consequências para os próprios, tendo em conta a sua natureza
de eternos inimputáveis.
O
primeiro,destes casos, tem a ilha do Príncipe como epicentro, tendo em conta
que um bronco qualquer resolveu criar condições que impediram o empresário
ClaudioCorallo, radicado já há algum tempo nesta parcela do nosso território,
de exportar o seu chocolate para o exterior.
Tal
facto teve impacto bastante negativo na empresa do referido empresário,
extensível aos seus trabalhadores e colaboradores, sendo que este deixou de
poder comprar cacau, aos produtores do referido produto, no contexto regional,
com todas as consequências negativas para a economia daquela parte no nosso
contexto arquipelágico.
O
segundo, destes casos, também tem, indiretamente, a ilha do Príncipe como
epicentro, na medida que o mesmo empresário, Claudio Corallo, provavelmente o
maior exportador privado nacional, apesar de todos os esforços e empenho
pessoal, foi excluído de dar a sua participação, como especialista de renome
internacional na área de chocolate, como contributo na promoção da imagem do
país, na exposição mundial que decorreu em Milão e que o país participava sob o
slogan “S. Tomé e Príncipe – Ilha do Cacau”. Mais uma vez um bronco qualquer
resolveu dar cabo do país, por um capricho insano qualquer, em nome de uma
causa que ninguém consegue descortinar de forma objetiva.
Agora
os tais broncos deixaram o senhor Claudio Corallo em paz e resolveram transferir
todas as suas baterias para o recém-inaugurado aeroporto regional do Príncipe.
Queriam causar impacto negativo avassalador, destrutivo e humilhante,
extensível a toda comunidade regional.
Por
isso, nada melhor que um aeroporto recém-inaugurado. Seria uma boa oportunidade
para a manifestação de autoridade e, ao mesmo tempo, de fidelidade ao líder do
grupo. Nem sequer se importaram com o impacto extremamente negativo, do ponto
de vista operacional,de segurança aérea e de transtorno, que uma medida desta,
corte de energia a um aeroporto, poderia causar, para além da imagem negativa
que transmite aos empresários estrangeiros já radicados no contexto regional ou
que queiram vir investir no país ou na região.
Quem
vai investir num país onde os broncos têm o sacrossanto poder de
mandar cortar a energia de um aeroporto regional prejudicando todo o tipo de
negócios relacionados, a montante e jusante, com este equipamento estratégico
para desenvolvimento de qualquer país ou região? Quem vai viajar entre as ilhas
se um bronco qualquer pode, quando bem lhe convém, mandar cortar a
energia de um aeroporto regional que suporta esta ligação inter-ilhas?
Nunca
imaginei que fosse tão fácil e materializável a ideia de cortar o fornecimento
de energia de um aeroporto por tão pouco. Não se corta o fornecimento de
energia de uma empresa estratégica como um aeroporto como se fosse uma casa
particular sendo, ainda, as empresas envolvidas neste conflito, de capitais
públicos que deveriam falar entre si em prol do desenvolvimento do país. Isto
não acontece em nenhuma parte do mundo a não ser num país onde os broncos ambicionam
governar.
Além
disso, o aeroporto regional do Príncipe é o único espaço público, no contexto
nacional, que tem dívidas para com a EMAE? Se não é, qual o critério associado
a este ato discriminatório? Na eventualidade de acontecer qualquer acidente no
aeroporto regional do Príncipe, decorrente desta decisão, os broncos da
EMAE que tomaram esta iniciativa responderão por seus atos?
O
que me intriga, todavia, é que há algo, comum nos três casos, que não consigo
compreender, por mais esforço que faça. Todos eles indiciam preocupação,
irresponsabilidade em termos de gestão, desnorte, incompetência, incúria e, até,
bandalheira institucional, com prejuízos para a imagem do país, e não se ouviu,
por uma vez que seja, a opinião do senhor primeiro-ministro, Patrice Trovoada,
sobre os mesmos. São, de facto, casos gravíssimos, que, ciclicamente, tendem a
manifestar, e o senhor primeiro-ministro não emite qualquer opinião sobre os
mesmos apesar de, diariamente, falar sobre quase tudo e até contradizer alguns
dos seus ministros sobre outros factos.
Ou
o senhor primeiro-ministro está perfeitamente informado sobre os contornos dos
três casos e desvalorizou-os porque entende que não são suficientemente graves
para o país; ou, em alternativa, está suficientemente informado sobre os
mesmos, desde a sua génese, sendo ele mesmo parte integrante e principal
responsável pela criação, manifestação e desenvolvimento dos mesmos com
objetivos que ninguém descortina sem especulação associada.
Qualquer
das opções anteriores encerra um grau elevado de irresponsabilidade política
até pelo facto de eu não considerar o senhor primeiro-ministro um ingénuo neste
domínio. Portanto, acho que o senhor primeiro-ministro deve explicações ao país
sobre estes três casos e se não o fizer só posso concluir, com pena minha, que
o senhor primeiro-ministro é, ele mesmo, um potencial bronco que está
totalmente convencido que os broncos podem governar um país como o
nosso neste clima de inimputabilidade generalizada.
Quem
tem a coragem de cortar a energia a um aeroporto, com tanta facilidade,
menosprezando todas as consequências, com potencial criminoso, até, decorrentes
deste ato, só pode ser um irracional perigoso. Quem lhe manifesta
solidariedade, por omissão ou pacto de silêncio, é um irracional duplamente
perigoso.
Sinceramente,
creio, que ainda não somos um país onde os broncos mandam e, para tal,
basta apenas, que os cidadãos que têm responsabilidades acrescidas no nosso
sistema político-institucional sejam os maiores defensores e praticantes do
cumprimento da lei e das normas de convívio em sociedade.
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