domingo, 5 de julho de 2015

OFICIAL: GREGOS DIZEM “NÃO” AOS CREDORES



Mariana Adam e Paulo Zacarias Gomes - Económico

O "Não" venceu o referendo por mais de 60% dos votos. Esta semana, Atenas e parceiros europeus voltam às negociações.

Depois de uma intensa semana de troca de acusações e extremar de posições entre o governo grego e os credores, a população grega decidiu dar um cartão vermelho aos credores europeus no primeiro referendo desde 1974.

O "Não' às propostas dos credores venceu com uma margem acima do esperado pelas sondagens que foram sendo divulgadas ao longo da semana. Às 21h50, com 8,6 milhões de votos contados, representando 88,39% do total, o 'Não' vencia com 61,46% e o 'Sim' registava 38,54% dos votos.

Quatro horas e meia após o fecho das urnas, o primeiro-ministro grego Alexis Tsipras veio oficializar a vitória do 'Não' e defendeu que a consulta não pretendeu decidir a manutenção ou saída do país euro. Garantiu ainda que regressará já esta segunda-feira às negociações para restaurar o sistema bancário e a questão da dívida.

"Estou bem ciente que o mandato que me deram não é o de uma ruptura com a Europa mas para reforçar a nossa posição negocial para procurar uma solução viável", disse o primeiro-ministro em declarações transmitidas pelas televisões.

O titular das Finanças, Yanis Varoufakis - que tinha afirmado preferir cortar um braço a assinar o actual acordo com os credores - reagiu apelando também ao regresso às negociações.

Em reacção, os líderes das duas maiores economias do Velho Continente, Angela Merkel e François Hollande, reconheceram entretanto o resultado do referendo grego e marcaram já uma cimeira de líderes da zona euro para a próxima terça-feira.

Também os ministros das Finanças do euro deverão reunir esta semana, ainda sem dia definido, disse o porta-voz do eurogrupo. O presidente do grupo que reúne os ministros das Finanças do euro, Jeroen Dijsselbloem, tinha afirmado ainda antes do anúncio dos resultados oficiais que o referendo condicionava a presença da Grécia no euro. Já o vice-chanceler alemão, Sigmar Gabriel, manifestou incómodo com o resultado e disse não ver como é que será possível voltar às conversações com Atenas.

Próximo dia D: 20 de Julho

Até 20 de Julho, Atenas terá de encontrar uma solução para a sua liquidez. Depois de falhar o pagamento de 1.600 milhões de euros ao FMI, o tesouro grego terá de encontrar liquidez adicional para reembolsar 3.500 milhões de euros ao banco liderado por Mario Draghi.

Se não o fizer, o BCE é obrigado a suspender o financiamento aos bancos. Fontes contactadas pela Reuters anteciparam que a reunião de amanhã do banco central não vai mexer no tecto máximo de ajuda de liquidez de emergência aos bancos, que deverão voltar a abrir na terça-feira.

As primeiras reacções dos mercados chegaram da zona da Ásia-Pacífico, onde o euro recuou 1,4% face à moeda norte-americana, para abaixo de 1,1 dólares e o dólar australiano cedeu para mínimos de 2009, enquanto o iene - divisa de refúgio - apreciou em reacção à vitória do 'Não'.

Na dúvida ficará a reacção dos mercados esta segunda-feira: apesar de já terem, segundo os analistas, absorvido nos últimos meses uma eventual resposta negativa neste referendo, o arranque de sessão será feito em alerta máximo. Alguns dos maiores bancos internacionais puseram as suas equipas de sobreaviso neste domingo, a antecipar uma maior volatilidade nos mercados.

Terramoto na Europa faz estragos na política grega

A nível doméstico, o resultado do referendo já causou uma baixa: a de Antonis Samaras, antecessor de Alexis Tsipras na chefia de governo e defensor do 'Sim', demitiu-se de líder do partido Nova Democracia. Entretanto, está prevista para esta segunda-feira uma reunião de líderes partidários em Atenas, pedida por Tsipras ao presidente grego. A que Samaras não deverá comparecer.

A menos de quatro meses das eleições legislativas e sendo Portugal um dos países com maior risco de contágio da crise grega, os partidos políticos reagiram numa altura em que menos de 50% dos votos estavam contados.

O PS, foi o primeiro, e  acusou o Governo de "fazer de conta que um terramoto grego não afectará Portugal". O vice-presidente do PSD Marco António Costa defende que o resultado no referendo de Atenas coloca nas mãos do governo helénico o "dever" de apresentar uma solução para o país.

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Grécia. MAIS DE METADE DOS VOTOS JÁ ESTÃO CONTADOS E DÃO VITÓRIA AO “NÃO”




O ministério grego do Interior avança a projeção oficial com a vitória do "não" no referendo com 61%. Quando estão contados mais de 60% dos votos, o "não" mantém-se à frente como previam a maioria das projeções e sondagens.

O "não" às propostas dos credores obteve 61,31% no referendo na Grécia, segundo números do Ministério do Interior grego quando estão contados mais de 60% dos votos. O "sim" obteve 38,769%.

A participação dos eleitores foi de 60,60%, segundo os mesmos números.

A maioria das sondagens e projeções previram a vitória do "não". O instituto Metron atribuiu 49% dos votos ao "não" e 46% ao "Sim".

Outra, do instituto GPO, dá 46% a 51% ao "não" e 46,5% a 50,5% ao "sim". Uma terceira, da Mark, atribui 49% a 54% ao "não" e 45% a 50,5% ao "sim". A quarta, do instituto MRB, dá 49% a 54% ao "não" e 46% a 51% ao "sim".

Estas projeções foram realizadas a partir de entrevistas telefónicas feitas na sexta-feira mas apenas reveladas este domingo.

TSF - foto Jean-Paul Pelissier/Reuters

YANIS VAROUFAKIS REUNIDO COM BANQUEIROS GREGOS




O ministro das Finanças grego encontra-se reunido com os banqueiros da Grécia

Após a divulgação oficial dos resultados já apurados que apontam para uma vitória desafogada do 'não', Yanis Varoufakis já começou a reunião com os banqueiros gregos.

O ministro grego já tinha comunicado, através das redes sociais, que este era um dia fundamental para a Europa.

Mais ainda, Varoufakis acredita que com a vitória do 'não' será possível alcançar um acordo com os credores em menos de 24 horas.

Notícias ao Minuto

VITÓRIA DO “NÃO” NA GRÉCIA É UMA “IMPORTANTE DERROTA PARA A UE E PARA O FMI”




Partidos portugueses já estão a reagir aos resultados da Grécia

Numa primeira reação aos resultados do referendo grego, João Ferreira diz que vitória do ‘não’ é uma “importante derrota para a UE e para o FMI.

“O resultado constitui uma importante derrota para a UE e FMI e para todos os que funcionam segundo os interesses dos grandes grupos económicos e financeiros”, afirmou o líder do PCP.

E dito isto, lançou críticas aos governantes portugueses cuja “inaceitável postura mostra a sua clara posição de querer impor a sua politica de direita”, disse, referindo-se a Passos Coelho e a Cavaco Silva, a quem acusa de agir sem uma opinião formada.

“Adote uma atitude de defesa dos interesses nacionais”, apelou João Ferreira dirigindo-se ao Presidente da República.

Andrea Pinto – Notícias ao Minuto

ENTRE “A CHANTAGEM E A DEMOCRACIA” A GRÉCIA DEU UMA LIÇÃO À EUROPA




Catarina Martins já reagiu ao referendo grego

Os resultados oficiais do referendo grego ainda não são conhecidos, mas Catarina Martins está certa de que hoje a Grécia deu uma lição à Europa

“O povo grego deu uma grande lição à Europa mostrando que entre a democracia e a chantagem escolhe a democracia. Prova que é possível vencer o medo mesmo quando BCE fechou a banca”, disse a porta voz do Bloco de Esquerda.

Catarina Martins considera que ao longo dos “últimos seis meses” a Grécia foi alvo de diversas “chantagens” o que prova que “para as instituições europeias, nunca esteve em cima da mesa os problemas orçamentais da Grécia mas uma agenda ideológica para destruir pensões e emprego”.

Os resultados não são ainda oficiais, mas a prevista vitória do ‘não’ mostra que este foi “um referendo participado e que os gregos querem ter poder de decisão quanto ao seu futuro, como também os portugueses gostariam de ter”, disse.

“A Europa é hoje uma outra Europa. Hoje assistimos ao reforço do campo dos que querem uma Europa da solidariedade e não da austeridade”, concluiu.

Lusa, em Notícias ao Minuto

ESTEJAM DESCANSADOS



Carvalho da Silva – Jornal de Notícias, opinião

Sejam obedientes e submissos, vejam nos vossos chefes de Estado e de Governo a figura de pais extremosos e sábios: ficai descansados e de preferência descansai em total escuridão. É esta a mensagem contínua do presidente da República (PR), de Passos Coelho e seus apaniguados, enquanto o país permanece num beco apertado e lamacento e na União Europeia (UE) os descalabros políticos se agravam a cada hora. Não podemos ficar descansados! Precisamos de conhecer e analisar a realidade. Há que tomar consciência dos medos para mobilizar coragem e força que os derrotem. Dar espaço à distração é permitir que o retrocesso invada o futuro.

A análise contabilístico-aritmética de Cavaco Silva sobre o que se passa na Grécia e na UE e suas implicações em Portugal está ao nível anedótico dos discursos de Américo Tomás. Não é possível imaginar com rigor os impactos de curto, médio e longo prazo que decorrerão da evolução do processo grego, embora seja claro que, no imediato, nessa luta entre Golias e David, muitas das imensas facas que pairam sobre o povo grego cairão sobre si. Mas no corredor das vítimas são os portugueses que se seguem. Os gregos foram sujeitos a uma expiação dos "pecados" ainda mais dolorosa que a que nos vem sendo imposta e isso não evitou o massacre.

Os tão propalados exageros ou radicalismos do governo grego podem sintetizar-se em três pontos: i) paragem com a austeridade porque está universalmente reconhecido que é injusta e demolidora da economia e do desenvolvimento; ii) defesa de condições mínimas de sobrevivência e de dignidade humana; iii) exigência de discussão democrática na UE para se encontrarem caminhos alternativos.

O radicalismo e a loucura que não nos deixam descansados estão nos detentores do poder na UE, que na escolha entre a dignidade dos seres humanos e a garantia de lucros para ínfimas minorias, se colocam do lado do dinheiro; estão na obsessão ideológica que, desde a primeira hora, visa o derrube do Governo grego democraticamente eleito e fazer deste caso um exemplo que trave o exercício de participação democrática. Loucura é o FMI e a UE continuarem a aprisionar a Grécia, Portugal e outros países com dívidas absolutamente impagáveis quando, até nas suas fileiras, já se vai dizendo que no início da "crise" se deviam ter feito reestruturações a sério.

O Governo grego tem dado um contributo extraordinário para a evidência dos bloqueios e perigos que o atual projeto da UE representa para os povos. Tornou-se muito mais claro que o problema não é a Grécia, mas sim o projeto europeu tornado em monstro, onde hoje não há espaço para a democracia; a soberania dos países foi transferida para os mercados; há uma absoluta disfuncionalidade na Zona Euro e esta moeda, tal como está concebida, é um enorme perigo; as instituições funcionam sem princípios e cada vez mais irracionalmente.

Um outro tempo se vai abrir na Europa. São agora mais percetíveis os obstáculos, e nem a burocracia instalada, mais toda a miserável cedência da social-democracia de serviço ao neoliberalismo impedirão o seu surgimento. O processo por certo será longo, muito trabalhoso e sustentado por alianças diferentes daquelas a que nos habituamos.

Com responsabilidade há que agir. A uma velocidade incrível a estrutura económica do nosso país está a ser entregue a estrangeiros, ao mesmo tempo que os portugueses ficam mais pobres por falta de emprego, de salários e pensões dignos, por usurpação de direitos sociais fundamentais.

O Tribunal de Contas observa que na privatização da EDP e da REN o Governo não tomou medidas que "acautelassem os interesses estratégicos do Estado português" e o Governo assobia para o lado. No caso da EDP, como em outros, a assessoria nesses negócios é prestada ao Estado exatamente pela mesma entidade que assessora os compradores.

Esta semana tivemos o regresso do grande estadista e empreendedor Relvas, devidamente acompanhado pelo manobrador político sem escrúpulos Durão Barroso e por todo um séquito do centrão de interesses, organizados em matilha política para valorizar o superestadista Passos Coelho.

Coloquemo-nos em alerta e mobilizemo-nos para os combater.

Jerónimo de Sousa apela à derrota da direita e defende que PS não é alternativa




O secretário-geral do PCP defendeu hoje a necessidade de derrotar os partidos e as políticas de direita nas próximas eleições legislativas, considerado ainda que o PS não constitui uma alternativa, mas apenas uma alternância de partidos no poder

"Este Governo precisa de ser derrotado, tendo em conta o que fez, mas tendo também em conta o que propõe. Dizem que está tudo no bom caminho, mas enviaram um documento para Bruxelas a dizer que vão continuar com políticas de austeridade, designadamente cortando mais 600 milhões de euros nas reformas e pensões", alegou.

Numa passagem por Resende, onde está a decorrer um passeio de mulheres organizado pela CDU, Jerónimo de Sousa sublinhou que o Governo está a mentir quando vem dizer "que vai tudo bem em Portugal e que valeu a pena tanto sacrifício".

"Aliás, se mandássemos fazer um balanço destes quatro anos, poderíamos, em síntese, dizer que o país hoje está mais endividado, mais dependente do estrangeiro e tem mais desemprego, com 470 mil postos de trabalho liquidados em quatro anos. O país tem mais pobres, 800 mil a acrescer aos 2 milhões que já existiam, para além de as injustiças e as desigualdades sociais se acentuarem", acrescentou.

Sobre o PS, o líder comunista evidenciou que não se apresenta como uma alternativa ao Governo da coligação PSD- CDS/PP.

"Olhando para as suas propostas, para aquilo que diz e muitas vezes para aquilo que não diz, o PS não é alternativa, quer ser mera alternância, quer ir para o lugar dos outros nesta dança do vira o disco e toca o mesmo, que já dura há 38 anos", sustentou.

No seu entender, os socialistas não respondem ou respondem mal a matérias fundamentais que preocupam os portugueses.

"O PS não é capaz de explicar como é que nós vamos pagar uma dívida e um serviço de dívida tão grande, em que só este ano são precisos 9 mil milhões de euros para pagar o serviço da dívida, que não é para abater, mas para juros. Não é preciso ser economista para ver que, se vamos ter de pagar o serviço da dívida, não vamos ter dinheiro para investir na produção e na criação de riqueza nacional, mas a resposta do PS é: procurem-na", apontou.

Sobre a necessidade de redução do défice, respeitando as medidas impostas pela União Europeia, "o PS diz que é preciso fazer-se uma gestão inteligente, uma aplicação inteligente".

"Sei que devemos ter caras de parvos, ignorantes e não somos tão inteligentes como o PS, mas isso não resolve", referiu.

Jerónimo de Sousa aproveitou ainda para criticar as propostas do PS em relação à Segurança Social, que vão "no sentido de aumentar a idade de reforma e concretizar um plafonamento".

"Trocado por miúdos, isto significa que sairiam da Segurança Social os que descontam mais: uma ideia peregrina de ter uma Segurança Social para os pobrezinhos. O PS propõe que se baixe a Taxa Social Única, mas não diz que depois, como descontaram menos, a sua reforma será mais baixa: é dar hoje para tirar amanhã", disse.

Ao longo do seu discurso, apelou ainda a "um reforço da CDU na eleição de deputados, no aumento do número de votos", contribuindo para derrotar as políticas que ao longo dos últimos 38 anos, "ora por mãos do PS, ora do PSD com ou sem o CDS, têm levado o país à situação em que se encontra".

"Vamos travar uma batalha difícil, onde todos os votos contam, onde existe possibilidade de romper este caminho para o desastre e encontrar uma política alternativa. A CDU tem uma proposta alternativa, patriótica e de esquerda: uma política que visa a renegociação da dívida, porque mesmo como devedores temos direitos e devemos fazer tudo para renegociar a dívida", concluiu.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Kitsurf. FRANCISCO LUFINHA SAIU DE LISBOA E JÁ NAVEGA RUMO AO FUNCHAL




O português Francisco Lufinha iniciou hoje a sua 'aventura' de ligar Lisboa ao Funchal em kitesurf, uma travessia de quase 1.000 quilómetros e que deverá estar concluída na terça-feira.

O vento atrasou a partida de Lufinha, que, sob o olhar atento de vários apoiantes, demorou a conseguir fazer voar o seu kite, junto ao Cais das Colunas, em Lisboa.

Faltava pouco para as 16:30 quando o jovem português, já em cima da prancha, arrancou a alta velocidade pelo Tejo adentro, com a bandeira nacional presa ao pulso, uma cerimónia programada por Francisco Lufinha que quis assinalar a sua partida com a beleza da paisagem do Terreiro do Paço, passando pela Ponte 25 de Abril, a olhar para o Cristo-Rei, até ao Padrão dos Descobrimentos e Torre de Belém.

Acompanhado por vários barcos, curiosos e apoiantes, Francisco Lufinha ainda fez algumas manobras, levantou os braços em gesto de agradecimento e perdeu-se de vista já passava das 17:00.

Antes de iniciar a aventura, o português falou aos jornalistas e explicou que o seu maior receio é a ausência de vento e falhas no barco de apoio.

"A falta de vento será, sem dúvida, o maior problema, porque terei de ficar parado. Mas também se houver alguma falha no meu barco de apoio, que é pouco provável, mas pode acontecer", explicou.

Conhecido pelos desafios já realizados em 2013, quando fez a ligação do Porto a Lagos, e em 2014, quando ligou as Ilhas Selvagens ao Funchal, Francisco Lufinha, recordista mundial da maior viagem de kitesurf sem paragens, propõe-se agora a estender a meta.

A jornada, que deverá estar concluída em 40 ou 45 horas, está estudada ao pormenor e as falhas registadas em desafios anteriores já foram corrigidas.

"Vou comer com mais regularidade, barritas, morangos com amêndoas, 'wraps' de frango e salmão. Aproximo-me do barco de apoio e eles dão a comida diretamente à boca", contou.

Nem o escuro da noite assusta Lufinha que até prefere "a magia e a luz da lua refletida no mar" da navegação noturna.

Família e amigos reconhecem a missão arriscada de Francisco Lufinha e aconselham a "ter cuidado com o corpo", mas confiam no jovem.

A 'odisseia' de Francisco inclui uma distância de cerca de 1.000 quilómetros, cerca de 520 milhas náuticas, e será acompanhada por uma equipa de cinco pessoas em mar, na qual se inclui um médico, e duas pessoas em terra.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Brasil. #SOMOS TODOS MAJU



Sandra Martins* – Afropress, opinião

Num país que não é racista como diz um jornalista “Nós não somos racistas”, parece que não é bem assim. Pelo menos, é o que vem ocorrendo com as inúmeras manifestações racistas que pululam em várias partes do país. A mais recente foi com Maria Júlia Coutinho, Majú, a Garota do Tempo do Jornal Nacional, que ao ter sua foto postada na página do noticiário no facebook, recebeu postagens com conteúdos racistas.

Este fato não é isolado. É a segunda vez que tal situação de racismo explícito ocorre contra a jovem e bela jornalista negra. O sucesso e a competência realmente incomodam. Em contrapartida, como da vez anterior, os contrapontos venceram as manifestações racistas.

De acordo com a matéria publicada no site do JN no dia “3 de julho é o dia nacional de combate à discriminação racial e uns 50 criminosos publicaram comentários racistas, de maneira coordenada, contra ela, na página do Jornal Nacional no Facebook. O inusitado agora é que o editor chefe do Jornal Nacional, Willian Bonner, com Renata Vasconcelos e toda a sua equipe gravaram um vídeo de apoio à jornalista Maria Júlia: #SomosTodosMaju.

Outra matéria da rede Globo nos traz um imenso prazer de ver que a menina vem de um belo berço de ativistas. Foi bem preparada, o que não quer dizer que não sinta a dor da chibatada, mas aprendeu a superar a dor e seguir em frente pisando firme, porque sabe que não está sozinha e muitos dependem dela. Tem gente que ela não conhece, que mora em lugares cuja televisão é compartilhada por várias famílias pobres e tão negras quanto a própria Majú. Ela é fonte inspiradora dessas crianças, desses jovens, dessas pessoas maduras e calejadas pela vida dura. Eles veem nela a esperança de um dia poderem também chegar a algum lugar de visibilidade positiva. Então o papel dela é fundamental: ela sabe de sua responsabilidade. E nós da militância sabemos o nosso, de apoiar nosso povo a enfrentar os racistas de plantão que não nos deixam descansar nem um segundo.

Diariamente vemos muitas Majús e muitos outros rapazes que estão passando por estes desafios de tentarem superar as barreiras do racismo que impõem um teto espesso de vidro que parece translúcido, mas é espesso, e quase inquebrantável. Quase... Quase não é inquebrável. Com o tempo aprendemos a desenvolver tecnologias sociais e ferramentas adequadas para quebrar os tetos de vidro. O problema é que eles são vertiginosamente autorecuperáveis. Temos que ser mais rápidos, construir mais e mais ferramentas, mais e mais cientistas, mais e mais pensadores, mais e mais profissionais em todas as áreas e seguir em frente sempre.

Como uma corrida de revezamento com obstáculos, temos sempre que deixar preparados os próximos atletas que substituirão os que da partida sairão. Agora, Majú, é sua vez de seguir em frente, firme, enquanto são preparados outros atletas para substituí-la no tempo adequado.

*Sandra Martins (na foto) é jornalista e integrante do Cojira/Rio/SJPMRJ

Brasil. MAIS UMA “CAMPANHA FOFINHA” CONTRA O RACISMO



Rosenildo Ferreira Gomes* - Afropress, opinião

Mais uma “campanha fofinha” como reação ao racismo no Brasil. Mais uma chance de que as coisas permaneçam ruins.

Lamento, mas não me deixo mais amolecer com as campanhas fofinhas. Até porque, meus 53 anos de estrada já me mostraram que isso é bom apenas para os promotores da ideia bacanuda. Mas não ajuda, em um milímetro sequer, a encaminhar resoluções ou a resolver a questão do racismo neste Brasil nada cordial.

Foi assim no caso do triste episódio envolvendo Daniel Alves, jogador do Barcelona, que rendeu a desonesta campanha “Somos Todos Macacos”. Como num passe de mágica, os adeptos da infeliz ideia achavam que estavam dando um xeque-mate no preconceito dentro e fora de campo. Resultado, a campanha acabou sendo “sequestrada” até por notórios racistas.

Agora, diante da terceira onda de ataques racistas contra a jornalista Maria Julia, Maju, da TV Globo, a história se repte. A bem da verdade, pela primeira vez, os poderosos da emissora falaram nos atos racistas como sendo um “crime grave”. Uma subida de tom e tanto. Mas a decepção veio na sequência com o anúncio de que a emissora “estudando as medidas cabíveis”. Deu-me vontade de chorar. De raiva!

O racismo é uma chaga na sociedade brasileira e, ao contrário do que pensam alguns bem intencionados, só tem feito aumentar. A popularização de agressões do tipo nas redes sociais indica que não estamos diante de casos isolados como pregam alguns, ou de incidentes baseados em viés político, como outros tentam “sequestrar” o debate.

O que temos de concreto é o fortalecimento violento do racismo em sua face mais cruel que é o “apartamento” de pessoas, a partir da cor de sua tez ou de sua origem geográfica (os nordestinos que o digam!).

Mas a emissora de TV que deplora o caso grave (mas não se posiciona, de forma prática, por meio de seu departamento jurídico) é a mesma que ajuda, de uma forma torta, a aprofundar o fosso no qual se encontram boa parte dos afro-brasileiros em relação aos demais brasileiros.

Aliás, nisso, ela é copiada com maestria pelas demais. As exceções de praxe ficam por conta das emissoras educativas e de alguns canais fechados.

A TV Globo já teve a chance de fazer da luta contra o racismo no Brasil e da promoção dos direitos dos afro-brasileiros, uma bandeira. Poderia ter saído na frente e surfado nesta onda. Afinal, ela já contou (ou conta) em seu casting jornalístico com personalidades como Jorge Majestade, Anna Davis, Glória Maria (que começou por lá na usava um desafiante cabelo black power na década de 1980).

Também já teve a oportunidade de acionar seu departamento jurídico para proteger seus contratados, atacados por injúrias raciais em cartas (ou seja, pessoas que forneceram provas contra elas mesmas!). Falo do caso ocorrido em 1986 com Zezé Motta, que fazia par romântico com Marcos Paulo em uma novela.

A enxurrada de cartas e telefonemas com teor racista, enviados à emissora foi absurda. E nada foi feito além de uma tímida campanha fofinha, colocando o casal para falar aqui e acolá sobre o caso! A seguir, um trecho do programa “Na Moral”, no qual Zezé Motta fala sobre aquele episódio, para os considerarem que estou exagerando em algo! “(...) Foi uma loucura! Tinha gente que dizia que não acreditava no amor daquele casal, outros questionavam se o Marcos Paulo precisava tanto de dinheiro para ele se humilhar beijando uma negra feia. Teve um senhor que disse que se fosse obrigado pela Globo a beijar uma negra, ele lavaria a boca com água sanitária todos os dias ao chegar em casa', lembrou a atriz." (...)

O mesmo programa de TV fez um debate sobre racismo na TV. Colocou personalidades negras de grande destaque o diretor Daniel Filho. Daniel falou sobre as memórias de infância e de como Grande Otello, era tratado no dia a dia, sendo obrigado a usar o elevador de serviço quando ia a festas na Zona Sul do Rio. Daniel Filho só faltou chorar. Beleza.

Contudo, o que fez Daniel Filho ao longo de sua poderosa trajetória na emissora e também como o poderoso chefão da Globo Filmes? Pouco ou quase nada se levarmos em conta que algumas produções da GF têm apenas um ou dois atores negros! Em um país no qual 51% da população se declaram não brancos, isso cheira a piada!

Dá para enxergar mais negros nas ruas de Estocolmo que nas produções da Globo e da GF! A TV Globo é uma empresa privada e como tal seus gestores é que sabem o que é melhor para ela. Mas além de usar sua força de articulação legal e jurídica para enquadrar os racistas que atacaram a jornalista Maju, poderiam mostrar que, de fato, não concordam com o racismo (quer seja ele velado, institucionalizado ou odioso) abrindo espaço para os muitos não brancos competentes que existem não apenas no jornalismo como também na dramaturgia, na engenharia...

Afinal de contas, a construção de um mundo melhor começa dentro de nossa própria casa, né não!

*Rosenildo Gomes Ferreira (na foto) é Jornalista especializado em sustentabilidade e negócios. Também atua como empreendedor social, à frente da startup 1 Papo Reto, uma plataforma dedicada ao debate da sustentabilidade.

QUATRO SONDAGENS DÃO VITÓRIA AO “OXI” APÓS FECHO DAS URNAS NA GRÉCIA




O ‘NÃO’ ao ultimato dos credores é o preferido pelos inquiridos em quatro sondagens publicadas após o encerramento das urnas. Os primeiros resultados começam a ser divulgados a partir das 19h (hora portuguesa).

As quatro sondagens divulgadas pelos media gregos são consistentes quanto ao resultado final e também à margem que separa o “Não” e o “Sim”: menos de quatro pontos:

InfoGrécia

APÓS ELEIÇÕES, SONDAGENS DÃO A VITÓRIA AO “NÃO” NA GRÉCIA




As primeiras sondagens depois do fecho das urnas na Grécia apontam para uma vitória apertada do "não".

De acordo com as previsões da Alpha TV, o "não" terá entre 49% e 54%, enquanto o "sim" ao acordo conseguirá entre 45% e 50%.

Uma outra cadeia de televisão grega, a Star TV, aponta para um resultado um pouco mais apertado, mas no mesmo sentido: o "não" a conseguir 49% a %4%, e o "sim" a ficar entre os 46% e os 51%

Rafael Barbosa – Jornal de Notícias

PELA GRÉCIA, CONTRA OS CHANTAGISTAS DA UE




Faltam breves minutos para o encerramento das urnas de voto na Grécia, Página Global esteve em contacto com um eleitor grego, Anapoulos, que nos fez o ponto da situação relativamente a Atenas. Ele afirma que mais de 50 por cento dos eleitores já votaram - para validar o referendo é necessário que o mínimo de 40 por cento votem. Declarou ainda que está otimista acerca da vitória do OXI (o não), que "mesmo por uma curta margem sairá vencedor". Aliás, Anapoulos é defensor do OXI (NÃO) e tem por convicção que após o resultado desta votação ser conhecido e o OXI vencer nada de muito pior pode acontecer na Grécia. "Será até muito mais salutar para a nossa economia abandonar o euro e regressar ao dracma. Levará alguns anos a restabelecermos a normalidade mas será muito mais fácil para todos os gregos que há cinco anos andam a sobreviver miseravelmente às ordens da União Europeia."

Sobre a Grécia reservamos para mais tarde a informação e declarações de interesse que considerarmos podermos trazer aqui ao Página Global. Por agora traremos algumas curtas informações que possam suscitar interesse. As fontes estarão devidamente identificadas no final das compilações. Se desejar ampliar as fotos deverá clicar na pretendida.

Redação PG



Assessor de Samaras usa foto de 2013 para insinuar fraude no referendo

Terminada a campanha, alguns apoiantes do ‘SIM’ tentam agora questionar a validade do referendo. É o caso de George Mouroutis, assessor do ex-primeiro-ministro da Nova Democracia, que “denunciou” os milhares de eleitores que o ‘Não’ estava a trazer da Turquia. Quem viu a foto desconfiou dela por as pessoas estarem tão agasalhadas. Logo em seguida, foi encontrada uma foto semelhante, tirada na mesma altura, em 2013. As acusações de falsificação levaram o assessor de Samaras a apagar o tweet sem pedir desculpa.

InfoGrécia



Jerónimo acusa UE de querer obrigar povo da Grécia a "ajoelhar"

Sábado à noite, em Viana do Castelo, o líder do PCP fez questão de dizer que os gregos já pagaram a crise com os salários, as pensões, os serviços de saúde e a proteção social.

O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, acusou a União Europeia de querer "mandar na Grécia" e obrigar o povo daquele país a "ajoelhar", manifestando solidariedade para com os trabalhadores daquele país.

Falando em Viana do Castelo sábado à noite, num jantar de apresentação de Ilda Figueiredo como cabeça-de-lista da CDU às eleições legislativas por aquele círculo, Jerónimo de Sousa sublinhou que o povo da Grécia "já pagou com 'língua de palmo' nos seus salários, nas pensões, nos serviços de saúde e na proteção social".

"Querem agora obrigar um povo a ajoelhar, querem obrigar um povo a humilhar-se, dizendo 'não aceitamos as vossas propostas, porque queremos continuar a cortar nos salários, queremos continuar a cortar nas reformas e nas pensões. Queremos mandar na Grécia'. É esta a solidariedade, é este o princípio da coesão?", questionou.

Por isso, disse que, "independentemente do resultado" do referendo de domingo na Grécia, a solidariedade da CDU é com os trabalhadores e o povo daquele país e não com a União Europeia, "que já mostrou a sua verdadeira face".

Lusa, em TSF





Emigrantes gregos regressam ao país para votar

Milhares de cidadãos gregos que vivem fora do país mobilizaram-se nos últimos dias para viajar para a Grécia e poderem votar no referendo deste domingo. Houve até quem antecipasse a viagem de férias.

Segundo o "El Pais", as companhias aéreas agendaram voos adicionais e encareceram o preço dos bilhetes na sequência da forte procura por parte dos emigrantes gregos que pretendiam regressar ao país para votar no referendo.

Konstantinos Dimitriou, um gestor que trabalha em Singapura, embarcou num voo no sábado e fez uma viagem de 19 horas para chegar a Atenas a tempo de votar "Sim" e aceitar o acordo dos credores internacionais que negoceiam com o governo de Alexis Tsipras. "Todas as oportunidades que tive para melhorar a vida ocorreram em grande parte devido à relação da Grécia com a Europa", sublinhou, citado pela edição online do jornal espanhol.

O padrinho de casamento de Konstantinos também viajou desde Nova Iorque (Estados Unidos) para votar em Atenas, assim como dois amigos do gestor que vivem em Dublin (Irlanda) e na Suécia.

Mas o custo da viagem não está ao alcance de todas as bolsas. Um voo de última hora entre Nova Iorque e Atenas ronda os 1300 euros em classe económica e a partir de 5000 euros em classes superiores. E como o referendo só foi marcado há uma semana não houve hipótese de aproveitar promoções.

Endy Zemenides, diretor do conselho de líderes greco-americanos, revelou que muitos gregos a residir nos Estados Unidos aproveitaram o facto de nesta época de férias ser costume viajarem ao seu país natal e anteciparam a viagem (e as férias) para poderem votar.

Jornal de Notícias





Bandeira grega subiu ao Castelo de São Jorge

As ações de solidariedade com a Grécia prosseguem por toda a Europa. Este domingo, um grupo de ativistas do movimento “Eu Não me Vendo” colocou a bandeira da Grécia no cimo do Castelo de São Jorge, em Lisboa.

InfoGrécia




Se o "não" vencer Grécia terá de arranjar uma nova moeda

A convicção foi manifestada pelo presidente do Parlamento Europeu numa entrevista a uma rádio alemã. O governo grego, por seu turno, continua a insistir numa mensagem de esperança para a Europa

O presidente do Parlamento Europeu diz que a Grécia vai ter de arranjar uma nova moeda caso o "não" vença o referendo deste domingo.

Durante uma entrevista à rádio alemã Deutschlandfunk , Martin Schulz lembrou que a partir do momento em que é introduzida uma nova moeda, o país tem de sair da zona euro. Por isso, o presidente do Parlamento europeu diz acreditar que os gregos vão votar sim no referendo.

As declarações de Martin Schulz surgem no mesmo dia em que o ministro das Finanças grego diz que moeda única e democracia são compatíveis.

Depois de vota em Atenas, Yanis Varoufakis transmitiu hoje uma mensagem europeísta ao afirmar que o referendo pode demonstrar que "a moeda única e a democracia são compatíveis entre si".

O ministro, que foi votar na companhia do seu pai, classificou a tarefa de hoje dos gregos como "um momento sagrado, um momento de esperança para a Europa", no qual se demonstra que "a moeda única e a democracia podem coexistir".

Nos últimos dias, Yanis Varoufakis deixou claro repetidamente que, se não vencer o 'Não' no referendo, se demite imediatamente.

TSF - Publicado hoje às 16:34

O ALARIDO SOBRE SUPOSTO RACISMO NA SELEÇÃO INGLESA DE SUB-20



Alberto Castro*

Na passada semana foi notícia na imprensa britânica e internacional a existência de suposta prática de racismo em uma concentração do selecionado sub-20 da Inglaterra. Na base do sensacionalismo com que a mesma foi noticiada por vários mídias, particularmente internacionais, esteve uma matéria publicada no Daily Mail e assinada por Ben Douglas. Nela foram mostradas, propositadamente, fotos de nítida separação entre atletas brancos e negros nos momentos de refeição, de treinamento na piscina e em exercícios de yoga e rotação.  

Todavia, qualquer jornalista que dispensa o sensacionalismo e com suficientes conhecimentos da língua inglesa que tivesse lido atentamente a peça logo concluiria, a partir do lead, que o objetivo da mesma era o de provocar mais um debate sobre o multiculturalismo e o racismo, temas bem presentes na agenda política e mediática em terras de Sua Majestade. Em momento algum o autor afirmou a existência da prática de racismo ou de exclusão na jovem esquadra inglesa de futebol.

Pelo contrário, segundo Douglas,''não existe claramente racismo em jogo aqui em qualquer das direções mas as imagens destacam um elemento da sociedade britânica que eu, como negro britânico, sei que é muitas vezes ignorado porque nessa era do politicamente correto é considerado tabu.'' O elemento tabu trata-se obviamente da separação dos jovens com base em alinhamento racial.  ''De fato, outras imagens tiradas durante a visita mostram o time treinando, rindo e brincando juntos sem qualquer divisão, confortáveis e felizes em companhia uns dos outros'', esclareceu.

Por um lado, o que na verdade ele pretendeu demonstrar e trazer ao debate foi o óbvio de um fenômeno que não é apenas britânico: várias situações mostram que as pessoas tendem, mesmo que subconscientemente, a dividir-se em grupos por questões de afinidades, experiências e hábitos partilhados e não propriamente movidas por conscientes ou inconscientes motivações racistas. Um exemplo é o da antiga estrela do Manchester United, Ryan Giggs cuja etnicidade, segundo o DM, nunca esteve em causa no clube porque, apesar de pele clara e aparentemente branco, ele é filho de pai negro e sempre se juntava aos colegas negros.

Por outro lado, Douglas,  que também é apresentador de TV e celebridade britânica negra, quis igualmente questionar se no processo multiculturalista de respeitar as diferenças não estarão os britânicos a reforçar, de forma inadvertida e silenciosa, barreiras culturais que separam as suas etnias, relançando assim para o debate a velha discussão em torno de multiculturalismo versus interculturalismo.

Da polêmica se pode concluir que, apesar de inquestionáveis avanços no combate ao racismo e na promoção do multiculturalismo, a Grã-Bretanha tem ainda um  longo caminho a percorrer, passando provavelmente também por mais interculturalismo, para que haja maior interação de diferentes grupos étnicos entre si. Neste sentido, Gareth Southgate, técnico responsável por seleções mais jovens da Inglaterra, que contestou duramente a matéria publicada no DM, sintetizou de forma curta e crítica as limitações do multiculturalismo e das relações raciais na sociedade britânica: ''vejo a sala de imprensa e não a vejo muito multicultural''.

O assunto foi igualmente importante no alertar de responsáveis e agentes, particularmente das áreas sociais, educativas e esportivas, para uma melhor observação e resposta pedagógica à comportamentos que, mesmo não sendo intencionais, possam fomentar, principalmente entre os jovens, atitudes de segregação étnica numa sociedade que se pretende saudavelmente multiculturalista e que enfrenta, nos anos mais recentes, crescentes vagas de ventos populistas carregados de racismos e xenofobias que sopram um pouco por toda a velha Europa.

*Alberto Castro (na foto) é correspondente de Afropress em Londres
 


BRASIL: BRANCO E PRETO? NÃO, SÓ O RETRATO DA SUPREMACIA BRANCA



Afropress, com informações da Folha de S. Paulo

S. Paulo – Vinte e sete anos após a entrada em vigor da Constituição de 1.988 – a Constituição Cidadã – e depois de 13 anos de Governos de um Partido que se proclama de esquerda – o PT – o Brasil de 2015 combina desigualdade social, que deverá se agravar com o ajuste fiscal, segundo os analistas, e supremacia branca: embora correspondam a apenas 47,7% da população, os brancos constituem 82% das elites profissionais, de acordo com Levantamento feito pelo Jornal Folha de S. Paulo e publicado na edição desta segunda-feira (08/06).

Nas categorias adotadas pelo jornal como elites, estão acadêmicos, atores, deputados, governadores, médicos, ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ), músicos eruditos, presidentes de empresas e senadores. O jornal ouviu 1.138 profissionais em postos de destaque na política, saúde, artes, Judiciário, universidade e política.

Segundo o Censo do IBGE 2010, que classifica a população como preta, parda, branca, amarela e indígena, os negros - a soma de pretos e pardos - correspondem a 50,7% (43,1% pardos e 7,6% pretos) - cerca de 102 milhões de brasileiros. Representam, porém, apenas 18% das elites profissionais.

De acordo com o Levantamento do Jornal, a mais recente radiografia da desigualdade sóciorracial do país, os indígenas que, à época do descobrimento, em 1.500, representavam cerca de 6 milhões de habitantes, divididoss em, pelo menos, mil nações distintas, não compõem hoje nenhum segmento das elites brasleiras.

Sub-representação política

A sub-representação negra acontece em todos os segmentos pesquisados e se mantém inalterada até mesmo nos cargos que são escolhidos em eleições: entre os 81 senadores, por exemplo, os brancos correspondem a 75,3% da composição do Senado. Os pardos e pretos são apenas 19,8% e 4,9%, respectivamente. (Na foto abaixo, o senador Paulo Paim).

A supremacia branca é acentuada também na Câmara Federal: entre os 513 deputados eleitos em 2014, 79,9% são brancos; os negros são 15,8% (pardos) e 4,3% (pretos).

Percentuais parecidos foram registrados entre os governadores: 74,1% são brancos; 22,2% se autodeclaram pardos; e 3,7% são amarelos. Não há pretos.

O dado curioso nessa categoria é que o governador do Piauí, Wellington Dias, do PT, de traço visivelmente negro/ameríndio se autodeclara de cor amarela.

Mundo das empresas

Entre os representantes das 20 maiores empresas do Brasil (entre as quais a Petrobrás, Carrefour, Fiat, Walmart, Wolkswagen, Oi, Ambev e os grupos Gerdau e Braskem) de acordo com o ranking Valor 1000 2014, 95% se autodeclaram brancos, contra apenas 5% de pardos. Não há negros.

Nos Tribunais

Nos Tribunais a presença branca é acachapante: no STJ chega a 86,2% contra apenas 10,3% de pardos e 3,4% de pretos. Na mais alta corte de Justiça, o Supremo Tribunal Federal, 100% dos 11 ministros são brancos e assim se declaram. (Na foto ao lado, a professora Eunice Prudente, que chegou a ocupar por um breve período, a Secretaria da Justiça e Defesa da Cidadania de S. Paulo).

Também entre os médicos que presidem Conselhos Regionais de Medicina dos Estados (CRM), nos Estados da Federação e no Distrito Federal não há pretos: 75% são brancos; 21,4% são pardos, e 3,6% são amarelos.

Novelas e Academia

Nas artes, 84,6% dos atores das cinco novelas inéditas em exibição na rede aberta, são brancos: apenas 6,9% são pretos, 8,1% são pardos; e 0,4% amarelos. (Na foto da capa, o ator Ailton Graça).

Na categoria músicos eruditos da Orquestra Sinfônica de S. Paulo, 79,2% são brancos; 12,5% pardos, 5% pretos, 0,8% indígenas, e 2,5% amarelos. S. Paulo tem uma população negra (preta e parda) de 34,6%, de acordo com a Fundação Seade.(Na foto ao lado, a cantora lírica, Érika Muniz).

No mundo acadêmico, entre os reitores e vice-reitores das 25 universidades melhor avaliadas no Ranking Universitário Folha, 89,8% são brancos; 8,2% são pardos e 2% são pretos.

 Veja o vídeo

A CHINA E A REFORMULAÇÃO DE UM PARADIGMA POLÍTICO




"Ultimamente a maioria das conversas políticas – e sociais – giram em torno da visita de sua excelência o senhor Presidente da República, José Eduardo dos Santos, à República Popular da China, onde, segundo consta, terá rubricado um ou vários acordos cujo cariz é desconhecido; e essa, infelizmente pela não divulgação dos mesmos, tem sido uma das razões, oportunas e salutares, para tanta conversa, quase diáfana, mostrando que a comunidade política e a sociedade civil estão cada vez mais atentas ao que se passa no País.

E não deixam de ser oportunas, repito, essas naturais interrogações quando o que as motiva continua no segredo dos corredores governamentais e a própria Assembleia Nacional parece estar ausente da leitura dos conteúdos que, eventualmente, tenham norteado os tais – caso tenha ocorrido, claro, – acordos sino-angolanos. E para reforçar as dúvidas, o desencontro entre uma notícia da ANGOP, quando da presença do senhor Presidente na China, e as posteriores declarações da Cidade Alta, quase que totalmente desencontradas.

Ora se há algo que nunca foi cabal e correctamente explicado à sociedade civil foram os acordos celebrados entre Angola e a China; as únicas razões evocadas foram que os chineses tinham aberto uma linha de crédito a Angola para a reconstrução das infraestruturas do País – bem necessários após uma longa e sangrenta crise militar fratricida –, acordos esses celebrados sob a garantia do fornecimento do petróleo nacional. O que se sabe é que o Ocidente, nomeadamente o FMI, terá virado as costas a Angola através de exigências que, à época, eram difíceis de serem cumpridos.

Por outro lado, a China sempre se pautou por um paradigma político que consiste em não querer saber do que se passa na vida politica interna dos outros Estados, desde que estes não ponham em causa as políticas governativas, económicas e sociais de Beijing.

Mas este não é um paradigma inócuo levado a efeito pelos chineses. Por detrás deste paradigma, ou, talvez, para ser mais exacto, a par deste habitual paradigma político, há um outro muito mais importante e que se reveste de uma importância capital para a expansão chinesa e que denomino da Teoria do Mahjong. (...)" (continuar a ler aqui ou aqui)

Publicado no semanário Novo Jornal, edição 387,  de 3.Jul.2015, 1º caderno, página 198

*Investigador do CEI-IUL e CINAMIL   

**Eugénio Costa Almeida* – Pululu - Página de um lusofónico angolano-português, licenciado e mestre em Relações Internacionais e Doutorado em Ciências Sociais - ramo Relações Internacionais -; nele poderão aceder a ensaios académicos e artigos de opinião, relacionados com a actividade académica, social e associativa. 

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