domingo, 5 de julho de 2015

OFICIAL: GREGOS DIZEM “NÃO” AOS CREDORES



Mariana Adam e Paulo Zacarias Gomes - Económico

O "Não" venceu o referendo por mais de 60% dos votos. Esta semana, Atenas e parceiros europeus voltam às negociações.

Depois de uma intensa semana de troca de acusações e extremar de posições entre o governo grego e os credores, a população grega decidiu dar um cartão vermelho aos credores europeus no primeiro referendo desde 1974.

O "Não' às propostas dos credores venceu com uma margem acima do esperado pelas sondagens que foram sendo divulgadas ao longo da semana. Às 21h50, com 8,6 milhões de votos contados, representando 88,39% do total, o 'Não' vencia com 61,46% e o 'Sim' registava 38,54% dos votos.

Quatro horas e meia após o fecho das urnas, o primeiro-ministro grego Alexis Tsipras veio oficializar a vitória do 'Não' e defendeu que a consulta não pretendeu decidir a manutenção ou saída do país euro. Garantiu ainda que regressará já esta segunda-feira às negociações para restaurar o sistema bancário e a questão da dívida.

"Estou bem ciente que o mandato que me deram não é o de uma ruptura com a Europa mas para reforçar a nossa posição negocial para procurar uma solução viável", disse o primeiro-ministro em declarações transmitidas pelas televisões.

O titular das Finanças, Yanis Varoufakis - que tinha afirmado preferir cortar um braço a assinar o actual acordo com os credores - reagiu apelando também ao regresso às negociações.

Em reacção, os líderes das duas maiores economias do Velho Continente, Angela Merkel e François Hollande, reconheceram entretanto o resultado do referendo grego e marcaram já uma cimeira de líderes da zona euro para a próxima terça-feira.

Também os ministros das Finanças do euro deverão reunir esta semana, ainda sem dia definido, disse o porta-voz do eurogrupo. O presidente do grupo que reúne os ministros das Finanças do euro, Jeroen Dijsselbloem, tinha afirmado ainda antes do anúncio dos resultados oficiais que o referendo condicionava a presença da Grécia no euro. Já o vice-chanceler alemão, Sigmar Gabriel, manifestou incómodo com o resultado e disse não ver como é que será possível voltar às conversações com Atenas.

Próximo dia D: 20 de Julho

Até 20 de Julho, Atenas terá de encontrar uma solução para a sua liquidez. Depois de falhar o pagamento de 1.600 milhões de euros ao FMI, o tesouro grego terá de encontrar liquidez adicional para reembolsar 3.500 milhões de euros ao banco liderado por Mario Draghi.

Se não o fizer, o BCE é obrigado a suspender o financiamento aos bancos. Fontes contactadas pela Reuters anteciparam que a reunião de amanhã do banco central não vai mexer no tecto máximo de ajuda de liquidez de emergência aos bancos, que deverão voltar a abrir na terça-feira.

As primeiras reacções dos mercados chegaram da zona da Ásia-Pacífico, onde o euro recuou 1,4% face à moeda norte-americana, para abaixo de 1,1 dólares e o dólar australiano cedeu para mínimos de 2009, enquanto o iene - divisa de refúgio - apreciou em reacção à vitória do 'Não'.

Na dúvida ficará a reacção dos mercados esta segunda-feira: apesar de já terem, segundo os analistas, absorvido nos últimos meses uma eventual resposta negativa neste referendo, o arranque de sessão será feito em alerta máximo. Alguns dos maiores bancos internacionais puseram as suas equipas de sobreaviso neste domingo, a antecipar uma maior volatilidade nos mercados.

Terramoto na Europa faz estragos na política grega

A nível doméstico, o resultado do referendo já causou uma baixa: a de Antonis Samaras, antecessor de Alexis Tsipras na chefia de governo e defensor do 'Sim', demitiu-se de líder do partido Nova Democracia. Entretanto, está prevista para esta segunda-feira uma reunião de líderes partidários em Atenas, pedida por Tsipras ao presidente grego. A que Samaras não deverá comparecer.

A menos de quatro meses das eleições legislativas e sendo Portugal um dos países com maior risco de contágio da crise grega, os partidos políticos reagiram numa altura em que menos de 50% dos votos estavam contados.

O PS, foi o primeiro, e  acusou o Governo de "fazer de conta que um terramoto grego não afectará Portugal". O vice-presidente do PSD Marco António Costa defende que o resultado no referendo de Atenas coloca nas mãos do governo helénico o "dever" de apresentar uma solução para o país.

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