sábado, 5 de setembro de 2015

O MENINO SÍRIO OU O RETRATO DO MISERÁVEL SONHO EUROPEU



Gustavo Borges Revilla - Misión Verdad – Opera Mundi

Não pode ser uma anedota desse tempo a representação trágica e completa que cerca a foto do menino, mas o terrível é que essa criança é uma anedota

É apenas uma pequena ironia que o choro hipócrita da Europa inteira esteja concentrado na desoladora foto do menino sírio afogado, morto, assassinado na tentativa de fugir com a sua família, levado cinicamente pelas ondas de uma praia turca. Porque a Turquia é hoje um antro de cinismo.

É provável que a Síria seja o país onde está retratada agora mesmo toda a miséria do humanismo, do humano, do grito poderoso do poderoso, da liberdade como argumento fundacional do mundo tal qual o conhecemos. Não pode ser uma anedota desse tempo a representação trágica, complexa e completa que cerca a foto do menino, mas o terrível, o que é realmente aterrorizante, é que o é, essa criança é uma anedota.

Também existem meninos no campo de refugiados de Yarmouk (Síria), em La Guajira (Colômbia), em Donetsk (Ucrânia), em Gaza, em Juárez, (México), no Rio de Janeiro, como ele, mas isso não importa, nada importa frente à desoladora indolência que instituiu o cinismo humanista como a velha indústria da morte. Não existiria Europa hoje sem as pupilas dilatadas da morte, da guerra, sem o oxigênio que fez com que a cidade de Trípoli, na Líbia, fosse arrasada no século XXI, assim como toda a América desde o século XV. Seus rios hediondos não seriam suficientes para comparar a quantidade de litros de sangue derramada por nós, as vítimas de seu nome. Essa foto do menino sírio não serve para nada, ou, melhor dito, se serve, serve para retratar que isso é o que eles são, essa foto é seu mais alto escalão moral, é sua mais exata declaração de princípios, é o oxigênio que inalam as centenas de filhos da puta que agora mesmo contemplam a torre Eiffel com um golinho de nosso café em sua maldita e pestilenta boca.

Não existe mar, por mais bravo que esteja, por mais fundo que seja, que não podem ter; não há canto do planeta, por mais inóspito que seja, por mais alto que seja, que não podem visitar; não há comida nesse mundo, por mais rara que seja, por mais longe que esteja, que não podem comer. Esses merdas, os donos do mundo, têm tudo, ocuparam tudo, não falta uma pedra para ser comprada, vendida, consumida. Todas as pedras do planeta lhes pertencem, mas nada sacia um cérebro ocupado pela propriedade e pelo ego, porque é isso, em sua mais infantilíssima simplicidade, é o ego a razão fundamental de seu plano: ser deus depois de ter matado Deus.

Eles não são os maus, nem nós somos os bons. Não é com essa lógica binária com a qual atrofiaram nossos cérebros que vamos compreender esse momento complicado. Porque no fundo nós somos um pouco como eles, somos também ego próprio e ego de outro, somos proprietários sem propriedade, mas também somos propriedade de outro como nós mesmos, somos também patrões sem escravos e escravos de outro, que é também nós mesmos. E no fundo, eles também são nós, sem seus planos para acabar conosco é impossível essa possibilidade de sonhar ser outro, em outros tempos, nos quais nem eles nem nós sejamos essa tragédia, nos quais sejamos outra coisa, que não sabemos porque ainda não sonhamos com ela. Estamos a um passo desse atrevimento, mas o certo é que ainda não nos atrevemos. Eles sim, eles sim estão se atrevendo e os sírios sabem, os líbios sabem, os colombianos sabem disso.

O outro é o exercício do hipócrita, a denúncia estéril, a indignação de mentira, cínica, a pose. Na comodidade intelectual não é legítima nenhuma dor, ainda que seja sentida, porque é uma dor comprada e vendida inclusive antes da sua existência, interessada, condicionada pela maquinaria maldita da informação. A dor mundial pela foto do menino foi vendida para nós pela Europa e pelos Estados Unidos quando fecundaram o “Exército Livre da Síria” nos ovários da opinião mundial, e só agora é que compramos indignados, como fiéis autômatos, convencidos em acreditar nisto e naquilo. Sabemos da foto porque algum “profissional” chegou perto da praia e a fez, pensou nela, a vendeu, cobrou por ela, a foto é apenas uma pequena tragédia, seu entorno é ainda mais miserável que ela mesma. Não pode doer somente o que se vê porque não é que estamos vendo somente a nós mesmos, é o medo do que disfarçamos, a dor, o medo de que sejamos nós os da foto, nossa prole; no fundo, muito no fundo, não damos a mínima para esse merdinha sírio.

Veja homenagens ao menino feitas na internet:

Age de má fé quem ainda não compreende ou se nega a compreender: nós somos uma criação da Europa. Somos seu desenho filosófico, somos seu sonho na exatidão mais brutal, somos seu costume e pensamento. Sua liberdade, sua igualdade, sua fraternidade. Quando Pérez Venta esquartejava em sua própria casa a senhora [Liana] Hergueta[1], estava exercendo seu direito à sacrossanta liberdade, estava sendo nada mais que a Europa. É mentira que são os gringos, esses retardados nunca produziram pensamento, é mentira que inventaram e aperfeiçoaram a guerra. São apenas a mão de obra barata para a guerra de outras pessoas que sim, pensaram. Porque a história não é essa besteira hollywoodiana que nos contam. Não tem um início, um desenrolar e um final. A história não acontece em pedaços, nem é uma linha. Quase ninguém no planeta vai se doer por Palmira[2] nem pelos sepultados da La Escombrera[3], mas aí está também a história, a mesmíssima história da Europa no século à sua escolha: a ocupação, a exploração e a morte.

E por que caralho seguimos então ansiados pelas ruas de Paris e seus malditos museus? Por que queremos ir embora? Aí é onde estão os calos dos nossos avós. A Europa é construção nossa porque se fez com a nossa tragédia, com nossas mãos e sangue. Mas se fez também com a ideia deles, com o pensamento deles, com seu desenho político para um planeta inteiro. E nós hoje continuamos preocupando-nos com um pote de xampu idiota. E onde está nosso sonho? Qual é o nosso desenho político para o planeta inteiro? Onde está o pensamento que vai tirar nossos netos desse desastre? Onde termina a choradeira existencialista da insatisfação?

Eu sei que é uma merda perceber que nunca tivemos um país nosso, mas é pior não perceber, ou perceber e trair a possibilidade de parar a tragédia. O ex-presidente do Real Madrid Ramón Mendoza o dizia melhor: “o sonhador não abandona o sonho para acompanhar outros sonhos, se é assim o abandonado estava em si mesmo, e quem se supunha sonhador não o era, porque ninguém pode trair seus sonhos sem se trair”.

Não me fale de conjuntura se sua prática é dividir.

O perigo mais paralisante está em tentar ser algo que não somos, esse menino foi para a Europa obrigado, tirado por bombardeios de sua raiz. Eu não sei quais eram suas ambições, nem as de sua família, mas a realidade indica que o 1% está decidido a apagar do mapa tudo o que represente uma possibilidade de ser autêntico, de ser gente, de sentir o rugir do Apure imortal sem ambicioná-lo, ou de jogar um anzol por horas inteiras nas praias da cidade síria de Latakia, temem a nossa decisão de nos enraizar culturalmente longe deles. Longe de sua lógica produtiva e moderna.

A guerra desses caras aponta para nosso cérebro, não porque seja mais certeiro atirar ali, mas porque no cérebro está a possibilidade única do pensamento que os nega, que nos nega como indivíduos. Está a possibilidade da criação, da construção íntima do ser coletivo a partir da mais profunda reflexão individual.

Mas há outros homens e outros meninos que romperam com o cinismo. O esforço está em ser um pouco mais como eles, ser um pouco mais nós e sublimarmos na horda, nos perdermos no tumulto sem a possibilidade da traição.

* Texto publicado originalmente no site Misión Verdad

[1] Nota da Tradução: Liana Hergueta foi encontrada morta e esquartejada na Venezuela, aos 53 anos, com indícios de abuso sexual. Os autores do assassinato foram ligados a paramilitares colombianos e membros da oposição venezuelana. O assassinato revelou a existência de uma rede de 30 grupos paramilitares, treinados na Colômbia e com vínculos nos Estados Unidos, com o propósito de provocar atos violentos na Venezuela, segundo afirmou o presidente Nicolás Maduro
[2] NT: Três famosas torres funenárias explodidas pelo Estado Islâmico na antiga cidade de Palmira, no deserto sírio
[3] “O lixão”- depósito de entulho na cidade de Medellín, na Colômbia, onde estima-se que até 300 pessoas, vítimas de violência, tenham sido enterradas

A FESTA DO AVANTE, MAIOR MANIFESTAÇÃO CULTURAL EM PORTUGAL




PCP. Quinta da Atalaia, Seixal. Portugal. A “Festa do Avante” teve inicio na passada sexta-feira (04) e termina amanhã, domingo (06). Se não sabem deviam saber que é a maior manifestação cultural em Portugal. Nem por isso se vê livre dos boicotes da comunicação social, que a ignoram ou que a reduzem a umas ínfimas referências. É geral, ou quase, quer na imprensa escrita como nas rádios e nas televisões.

Dir-se-ia que é sinal dos tempos? Pura ilusão. Quase sempre foi uma manifestação cultural votada ao ostracismo pelos órgãos de comunicação dos grandes grupos que “abafaram” quase na totalidade os veículos por onde é canalizada a informação a contento da alienação, da manipulação e do obscurantismo. Não há que ter receios de assim afirmar. É a realidade. Uma realidade em que inúmeros profissionais dos órgãos de comunicação social são cúmplices. Esses são os mesmos que empolam até à saturação a Festa do Pontal, do PSD. Festa? Não, simplesmente um veículo de propaganda política relativo às cores do PSD. Bastas vezes veículo de intrigas, chantagens e mentiras. Uma “festa” sem mais nada, um comício, que atinge o auge quando aldrabões, como Passos Coelho ou Portas (este ano convidado por via da Culigação), tomam a palavra da mentira e da ilusão na caça aos votos, para não variar. (MM / PG)

Da Festa do Avante diz a Wikipédia:

A Festa do Avante! é uma festa cultural e musical com a duração de 3 dias, realizada pelo Partido Comunista Português. É o maior evento político-cultural realizado em Portugal.[1] É realizada na Quinta da Atalaia, freguesia da Amora, concelho do Seixal, perto da Baía do Seixal. É construída todos os anos com trabalho voluntário de cerca de 12 mil pessoas, entre militantes e amigos, e onde são contabilizadas cerca de 20 mil horas de trabalho a erguer, decorar e equipar cerca de 22 mil metros quadrados. É aberta ao público em geral.

Todos os anos, os visitantes podem assistir a peças de teatroranchos folclóricosgrupos coraisdança e concertos de vários géneros musicais (incluindo música clássica) nos vários palcos, por onde passam dezenas de grupos de artistas. Realizam-se variados debates políticos com a participação de vários dirigentes do PCP e a feira do livro, do disco, do artesanato entre vários outros programas desportivos e culturais.

A Festa do Avante foi realizada pela primeira vez em 1976, na antiga FIL, na sequência do 25 de Abril.[2] Desde 1976, a Festa passou por 5 locais distintos.[2] Entre 1977 e 1978, foi realizada no Jamor.[2] Entre 1979 e 1986 ficou no Alto da Ajuda, em Monsanto.[2] Problemas com as autarquias levaram à não realização da edição de 1987. Esta constante mudança levou ao início de uma campanha de angariação de fundos para financiar a compra da Quinta da Atalaia, na Amora. Esta custou, na altura, 60 mil contos. Entretanto, entre 1988 e 1989, foi realizada em Loures.[2] A partir de 1990, com a Quinta da Atalaia já comprada, passou a ser aí realizada.[2] A música mais conhecida da Festa é a Carvalhesa.[3]

recinto da festa localiza-se na Quinta da Atalaia, na Amora. Existe uma entrada na Cruz de Pau, chamada Quinta da Princesa, e uma na Medideira.

A Festa tem um pavilhão para cada distrito de Portugal, cada um com a gastronomiaartigos regionais e artesanato dessa região. Também existem pavilhões dedicados a emigrantes e imigrantes, um Pavilhão da Mulher, um Pavilhão da Ciência e um Espaço Criança. Existe um Pavilhão Central onde se localizam diversos espaços, como o Auditório de Debates, a Loja da Festa, um Espaço de TIC, com computadores, etc. Para a JCP, existe um pavilhão denominado Cidade da Juventude. Comida típica e artigos estrangeiros podem ser encontrados no Espaço Internacional, cujas delegações de outros países estão a cargo dos respectivos Partidos Comunistas ou outras organizações progressistas.

Existem diversos palcos onde os artistas podem actuar na Festa do Avante! (Wikipédia)

Um registo para a curiosidade dos que ignoram certas particularidades: A maioria dos que frequentam a Festa do Avante não são militantes do Partido Comunista, nem simpatizantes, provavelmente nem eleitores. Mas são unânimes em mostrar o seu agrado e muito raramente falharem com a sua presença anual. Ali é Portugal. Ali está Portugal na sua génese, culturalmente. Os que vão quase sempre levam mais um(a) amigo(a) também. Ou mais que um(a) amigo(a).

Milhares de portugueses estão neste momento no espaço. Na Festa do Avante. É sempre assim. A Festa do Avante termina só amanhã (domingo), cerca das 11 da noite. Ainda está a tempo de assistir por todo o dia e ao encerramento naquele espaço imenso, transbordante de cultura e de Portugal, por toda a parte. A seus pés está o rio Tejo, testemunha que espelha o evento enquanto passa, rumo à foz, depois de um breve abrandamento no estuário do Tejo que inclui o Seixal, assim como Cacilhas, como Almada, como Lisboa…

Portugal. BES. “UMA AUTÊNTICA FRAUDE”, diz Ricciardi




É uma defesa ao ataque. Houve “atos criminosos que esconderam, encobriram e camuflaram” o que se passava no GES, acusa José Maria Ricciardi. O líder do BESI vai mais longe. E acusa com nomes

Atos criminosos”, “uma autêntica fraude”, “indícios dos crimes de falsificação de documentos e burla agravada”, “dolo intenso”, “práticas intencionais”, “associação, combinação e conluio da gestão ao mais alto nível”. O documento é de defesa mas está repleto de acusações. Sem “alegadamentes”. José Maria Ricciardi considera-se inocente — e trata Ricardo Salgado e Amílcar Morais Pires como culpados em atos que, adita, José Manuel Espírito Santo e Ricardo Abecassis conheciam.

Os argumentos são assinados por Pedro Reis, advogado de José Maria Ricciardi, e constam do documento de defesa que o presidente do BES Investimento (BESI) apresentou há um mês e meio ao Banco de Portugal (BdP), a que o Expresso teve acesso. No processo, Ricciardi é acusado pelo supervisor de negligência enquanto administrador do BES, no que respeita a falhas no sistema ou em procedimentos de informação de gestão e análise de risco, incluindo quanto à dívida ‘tóxica’ da Espírito Santo International (ESI), a holding do Grupo Espírito Santo (GES) que tinha contas falsas e que desmoronou.

Pedro Santos Guerreiro - Expresso

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Portugal. ESTADO DISPENSA CONCURSOS EM METADE DOS NEGÓCIOS



Luís Reis Ribeiro – Diário de Notícias

Entre janeiro e agosto, Estado fez ajustes diretos de oito mil milhões - metade dos contratos públicos.

Motivos como urgência, interesse público e preço alinhado com o mercado estão previstos na lei e são invocados em casos como o tratamento da hepatite C (5,2 milhões) ou a compra de gasóleo com desconto pela Câmara do Barreiro (4,2 milhões).

Esta forma de contratação prevista na lei, muito mais rápida, mas menos amiga da concorrência e do mercado livre, tem vindo a ganhar importância, superando já o valor adjudicado por concurso público. É, na verdade, o expediente dominante, o novo normal na contratação pública.

O Tribunal de Contas, por exemplo, costuma criticar bastante este tipo de procedimento direto por representar riscos para a despesa pública atual e futura, não otimizando as ofertas disponíveis no mercado.

Leia mais na edição impressa ou no e-paper do DN

Foto: JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA

Portugal. O ESTRANHO CASO DA NÃO CANDIDATURA DE PASSOS A SÃO BENTO



Ferreira Fernandes - Diário de Notícias, opinião

Estou curioso sobre a não candidatura de Passos Coelho a São Bento. Sim, sei que ele quer ser primeiro-ministro, mas não é disso que falo. Digo é que Passos não vai disputar, não vai aparecer, não vai discutir nem oferecer-se, enfim, quase não vai fazer campanha. A tática, ao que se diz, é do consultor político brasileiro André Gustavo. A razão, não confessada, para a tática é que o homem não é bom de palco (confirmando a perspicácia de Filipe La Féria, quando não o quis para tenor). Mas o importante é que a tática é alicerçada na melhor das razões: números. O apagamento voluntário de Passos Coelho - dizer pouco, dizer pardo - tem-se revelado criterioso e eficaz. A coligação liderada por ele aproxima-se pouco a pouco do PS. A sondagem hoje publicada pelo Expresso mostra que as duas curvas concorrentes estão no limiar do beijo. E em sondagem a subir não se mexe...

Se a coisa continuar assim será empolgante. Vamos ter, com Passos, uma candidatura do tipo não-Agir! No Agir, a líder expõe-se toda, nua. Já Pedro Passos Coelho vai esconder-se. Não é só não dar o corpo ao manifesto na capa da revista de Cristina Ferreira, é não ir conversar com os Gato Fedorento, é boicotar a entrevista coletiva de líderes na tevê... E talvez também recusar a ser entrevistado pela RTP e pela SIC. Com Passos, vai ser uma campanha como o futebol no defeso. Em julho, os futebolistas conhecidos desaparecem na praia e os nomes mais arrevesados são manchete na Bola e no Record: "Markevici certo na Luz!" Agora, neste setembro de campanha eleitoral, o DN, o Público e o JN vão ter de publicar entrevistas com o n.º 5 da lista da coligação por Bragança: "Zeca dos Pneus discorda de Mario Draghi sobre as Outright Monetary Transactions!" Entretanto, o líder resguarda-se.

Atenção, com isto não quero dizer que Pedro Passos Coelho vá desaparecer de todo. O problema, aliás, está aí. A coisa está feita para ele aparecer. Mesmo. Na noite de 4 de outubro. Primeiro-ministro. O André Gustavo é o Alfred Hitchcock dos marqueteiros, o mestre do suspense nas urnas. Durante a campanha, ele apaga Passos Coelho. Nada de frases empolgantes, nada de ideias bombásticas, nada de entusiasmar o povo. Só low-profile, como dizem os falsos tímidos. O pressuposto do brasileiro é que um mês seja o suficiente para esquecermos tudo o que Passos Coelho fez aos portugueses nos últimos quatro anos.

Assim, na noite eleitoral, quando na emoção das 20H00 os efeitos especiais televisivos mostrarem a cor vencedora - o laranja sobre o rosa -, os pivôs anunciarem "Passos Coelho é primeiro-ministro" e as imagens focarem a sede de campanha da coligação, onde aparecerá um senhor de ar grave e modesto, a ideia, para esse momento, é que os portugueses exclamem, perplexos: "Mas quem é esse tal Passos Coelho?!" Que fiquem descansados, vão ter mais quatro anos para voltar a saber.

Esse, portanto, o objetivo. Mas o que me empolga, como lepidopterólogo amador, estudioso das borboletas em geral e dos portugueses em particular, com a sua interessante tendência em se queimarem as asas, o que me entusiasma vão ser estes dias mornos de pré-campanha e de campanha a preparar a já referida grand finale. Como vamos viver o rapto, não anunciado, mas eclipse, de um dos putativos candidatos a governar-nos? Pois tudo será feito à semelhança da calma búdica do protagonista. Será um rapto sem armas, nem violência, uma subtil desaparição transitória. Um não estar, estando. Todas aquelas negas de entrevistas, atrás referidas, pertencem já ao reportório.

As outras ações da campanha serão também determinadas pela mesma vontade de não ação. Assim, quando a coligação fizer arruadas, e os jotas procurarem o líder para o transportar aos ombros, notar-se-á neles a excitação dos que procuram e não encontram... Pudera, Passos Coelho não estará no cortejo, mas no passeio. E quando os jovens acorrerem, ele, com a voz que nunca se altera, fará saber que não aceita a honra. Mais tarde, no tempo de antena do Portugal à Frente, veremos a imagem do líder a afastar-se dessas homenagens espúrias.

Também o debate televisivo, do próximo dia 9, com António Costa, único e que se aguarda com emoção, será marcado pelo anticlímax. A todo o momento, Passos Coelho estará a interromper as suas próprias palavras: "Já me estou a alongar, e viemos aqui para ouvir o dr. António Costa...", dirá ao fim de cada duas frases. E recusará as perguntas dos entrevistadores: "Mas não, mas não, a palavra cabe é ao dr. Costa. Faça o favor..."

Sempre comedido, nunca elevando o tom da voz e meneando a cabeça em concordância perpétua... Os portugueses nunca tinham visto um político assim. E, infelizmente, eu tendo a concordar com o marqueteiro brasileiro - vão gostar.

Portugal. Avante. CDU quer mais "força e confiança" no Seixal este fim de semana



A Coligação Democrática Unitária (CDU), que junta PCP e PEV, pretende ganhar este fim de semana mais "força e confiança" para as legislativas, na habitual 'rentrée' política comunista, a 39.ª edição da Festa do "Avante!", no Seixal

Entre sexta-feira e domingo, o secretário-geral do PCP vai estar presente na Quinta da Atalaia para reafirmar o programa eleitoral da coligação, mas também para dar atenção ao cinema e à arte urbana, nomeadamente aos 'graffiti'.

Com um dos previsíveis 'slogans' como pano de fundo - "com força e confiança, a CDU avança" -, além da tradicional "Carvalhesa", milhares de militantes, simpatizantes e os denominados "amigos da festa" vão ouvir o líder comunista e também centenas de artistas musicais, podendo ainda visitar a contígua e recém-adquirida Quinta do Cabo da Marinha, mais sete hectares de recinto em 2016.

Jerónimo de Sousa tem o discurso de abertura agendado para as 19:00 de sexta-feira, encerrando também o comício de domingo, cujo início está marcado para as 18:00.

Durante os três dias, os visitantes podem desfrutar da gastronomia um pouco de todo o país e também do estrangeiro, nos diversos restaurantes e quiosques montados desde junho pelos militantes comunistas, e apreciar as atuações dos Xutos e Pontapés, Expensive Soul, Fausto, Dead Combo, Linda Martini, Capicua, Terrakota ou Paus, entre outros, bem como assistir a numerosos debates e outros eventos literários e desportivos, por exemplo.

Lusa, em Notícias ao Minuto

Portugal. "Estou aqui para as curvas mas isto não é eterno" – Jerónimo de Sousa




Jerónimo de Sousa manter-se-á no PCP até ter condições ou até que lhe seja permitido. Em entrevista ao jornal i, explicou as promessas para as legislativas e lançou críticas ao PS.

Jerónimo de Sousa, líder do Partido Comunista Português, em entrevista ao jornal i, fala abertamente sobre as propostas do PCP para as próximas legislativas, acusando o PS de se alinhar numa política de direita. Porém, mostra que o seu partido está disponível para entendimento, desde que haja uma política patriota.

“Honra-nos muito termos estado sempre do lado daqueles que sofreram (…) nos últimos quatro anos”, “coisa que alguns não fizeram”, acusa o secretário-geral do PCP, ‘apontando o dedo’ ao Partido Socialista. O PS “desapareceu de combate. Não só desertou como, ainda por cima, no essencial comprometeu-se com a chamada troika”, acrescenta.

O líder comunista acredita que os portugueses terão de escolher entre duas opções: “a continuidade deste trabalho de ruína e desastre, que resulta da política de direita, ou um caminho novo, rompendo com o que vem sendo executado”.

Em relação às ideias para o futuro, Jerónimo de Sousa revela a “necessidade de um crescimento e desenvolvimento soberano”. Frisa que é preciso um “aumento da produção nacional e do aparelho produtivo”, não descurando o investimento privado, mas salvaguardando que se confunde “investimento privado com as privatizações”.

O PCP considera “importante a renegociação da dívida, nos seus montantes, prazos e juros e, simultaneamente, uma moratória do serviço da dívida que liberte meios a serem postos ao serviço deste crescimento e desenvolvimento económico”. Jerónimo de Sousa reitera que se trata de um “processo de renegociação”, considerando que este foi um dos grandes erros dos partidos que assinaram o memorando com a troika.

A saída do euro é outra das bandeiras do PCP. “Entrar no euro foi uma aventura” e uma “saída súbita seria uma aventura”, contudo o secretário-geral do PCP crê que há uma “grande irresponsabilidade” em não se estudar e preparar essa saída, lembrando que a moeda foi distribuída em países “com economias muito diferentes".

Quando questionado sobre o seu futuro, Jerónimo de Sousa é perentório: “Estou aqui para as curvas mas isto não é eterno”. “Por mim estou em condições de continuar, embora com esta ideia: um dia sairei desta responsabilidade, enquanto tiver capacidade para decidir também e para fazer esse juízo de valor”, conclui.

Notícias ao Minuto

Portugal. Jerónimo acusa PSD/CDS e PS de quererem pôr "conta-quilómetros a zero"




O secretário-geral do PCP acusou hoje a coligação PSD/CDS-PP e o PS de quererem "pôr o conta-quilómetros a zero" para as legislativas, reforçando que há outro caminho, com a Coligação Democrática Unitária (CDU).

Jerónimo de Sousa discursava na abertura da 39.ª Festa do "Avante!", que decorre até domingo na Quinta da Atalaia, no Seixal.

O líder comunista aproveitou para anunciar que a campanha de angariação de fundos entre militantes e simpatizantes do partido para a compra de mais sete hectares contíguos já está a "mais de meio caminho" dos 950 mil euros, "perfeitamente ao alcance em abril" de 2016.

O dirigente do PCP fez um balanço trágico da última legislatura, lamentando que "alguns" a procurem "arredar da memória para pôr o conta-quilómetros a zero e, de novo, voltarem a enganar os portugueses".

"Num quadro em que o Governo PSD/CDS-PP, sob a batuta da 'troika' e com o comprometimento e a rendição do PS, provocou danos profundos na vida de milhões de portugueses, deixando o país mais endividado, dependente do estrangeiro, com mais desemprego, mais emigração, mais pobreza, injustiças e concentração de riqueza nas mãos de uns quantos, o que determinou a caracterizou esta política e este Governo não foi a austeridade, foi o aumento da exploração", disse.

O secretário-geral do PCP recordou que "Passos Coelho, recentemente deixou escapar o que lhe vai na alma quando afirmou que, nestas eleições, não importaria que a maioria absoluta seja de PSD/CDS ou do PS, importaria era salvar o prosseguimento da política que vinha a ser executada, invocando como objetivo supremo a estabilidade governativa".

"Ao longo dos últimos 39 anos, o que mais houve foram maiorias absolutas - do PS, PSD, PS com CDS, PSD com CDS e até de PS com PSD. Maiorias absolutas que deram estabilidade aos governos, mas que desestabilizaram a vida de milhões de portugueses e conduziram o país à situação em que se encontra", declarou.

Para Jerónimo de Sousa, em 4 de outubro, "há uma escolha entre dois caminhos": "ou o prosseguimento do trajeto ruinoso seguido por PS, PSD e CDS, ou um caminho novo, com o reforço da CDU para construir e realizar uma política patriótica e de esquerda, alargando a convergência com democratas e patriotas, alicerçada numa profunda convicção de que Portugal tem futuro".

Lusa, em Notícias ao Minuto

Portugal. Entendimento para governar? "Não fazemos favores ao PS" – Jerónimo de Sousa




Será o apoio de Sampaio da Nóvoa um sinal à esquerda vindo do PS? Talvez não. “Já não percebo nada do PS”, diz Jerónimo de Sousa.

“Não estamos a pensar em arranjos para formar Governo”, garante Jerónimo de Sousa, muito menos se tal significar fazer “favores ao PS”.

Em entrevista ao Expresso, o líder do PCP diz que, quando diz que está disponível para governar, não está a antecipar um entendimento com os socialistas, apenas quer dizer que o Partido Comunista está preparado para “assumir funções governativas se o povo português entender atribuir-nos essa responsabilidade”.

Para Jerónimo de Sousa, o PS “não aprendeu a lição” e continua a “encostar-se à direita”.

No que toca às “divergências de funco com o PS”, o PCP nunca vai ceder, diz o líder comunista.

Questionado sobre se a manifestação de apoio a Sampaio da Nóvoa foi importante para que António costa desse um sinal à esquerda, Jerónimo de Sousa lembra que há também Maria de Belém e Henrique Neto a considerar. “Muitas vezes são sinais tão diversos que se fica ofuscado”.

Notícias ao Minuto

Portugal. José Sócrates. COM UMA JUSTIÇA ASSIM… ESPEREMOS E OREMOS



Mário Motta, Lisboa

Mais vale tarde que nunca. Um nome e duas palavras: José Sócrates, liberdade domiciliária. Após nove meses a prisão pariu um adulto que foi primeiro-ministro de Portugal. A Justiça pariu um rato. Carlos Alexandre, o tal que dizem ser um super-juiz ,ficou horripilante na fotografia e aumenta as dúvidas sobre a sua superioridade no pelouro que lhe toca. O Ministério Público, esse nem se fala. Afinal não existem acusações contra Sócrates. Ao fim de nove meses não se conhece nada sobre os crimes de que o acusam. Ou será que já não o acusam?

Sabe-se, por supostos segredos de justiça (outra palhaçada) o que um jornal geralmente porta-voz do “segredo de justiça”, o Correio da Manha, tem divulgado e… vendido. Enquanto isto, esta cegada, a senhora PGR lá continua a fazer o seu crochete e os bordados dos Açores (bem bonitos). Afinal, José Sócrates é criminoso ou não? Há acusação com provas correspondentes? Sabem? Não sabem? E, se sabem, por que motivo o libertam para o depositarem vigiado em casa? Se não sabem, se de nada o podem acusar (para além das salganhadas que saíram na comunicação social sem fundamentos legais) por que não o libertam incondicionalmente? Isto será uma novela cujos episódios se vão sucedendo para alimentar o suspense e a intriga? A produção é da Justiça? Má produção, está visto. Para mais caríssima. A usar verbas dantescas que esgotam o erário público. Mil vezes piores que as novelas e produções da RTP cujos custos são suportados por todos os portugueses. Já no caso do senhor Portas Submarino foram despendidas avultadas importâncias para NADA. Mas que justiça é esta? Que super-juízes são estes? Superes nos gastos inúteis? Parece que sim.

Recorrendo à comunicação social, à imprensa online, podemos ver na TSF, simples e objetiva, as fotos do ex-PM a sair da prisão. Se está inocente é evidente que não merecia aquele trato de polé. E parece que nada vão provar contra ele. Portanto está inocente. É triste ver um homem assim. Como é triste ver qualquer outra pessoa privada da sua liberdade por jogadas, incompetências, interesses políticos supostamente desenvolvidos com o conluio dos que são agentes de um setor vital da democracia, a Justiça. Justiça que só não se dirá que é um circo porque ofenderia a dignidade do circo. Tal como chamar palhaço a Cavaco Silva ofendeu (e ofende) a dignidade dos palhaços.

Da TSF:

As primeiras imagens de Sócrates depois da cadeia

Eram 9h da noite. José Sócrates chegou sorridente e aparentemente descontraído à casa em Lisboa onde vai permanecer em prisão domiciliária.

O antigo primeiro-ministro chegou acompanhado pelo advogado João Araújo, que não quis prestar declarações. Alguns populares no local aplaudiram a chegada.

José Sócrates foi detido a 21 de novembro de 2014, no aeroporto de Lisboa e está indiciado por fraude fiscal qualificada, branqueamento de capitais e corrupção passiva para ato ilícito. Era o único dos nove arguidos das "Operação Marquês" em prisão preventiva. Em junho deste ano o antigo primeiro ministro recusou a prisão domiciliária com pulseira electrónica. Justificou na altura que "pelo respeito a si próprio e aos cargos publicos que exerceu, recusava a medida de coacção". Agora o juiz decreta a prisão domiciliária sem pulseira electrónica. (TSF)


O advogado de José Sócrates acusa a Justiça de prática de sequestro. Parece, realmente, que se trata disso, se acaso se demonstrar que Sócrates não é caso para a Justiça. E se não é… Mas então por que foi preso e assim esteve durante nove meses, aliás, porque limitam a liberdade de Sócrates só ao domicilio com vigilância policial? Por muitos mais milhões e milhões, fuga ao Fisco, fraudes, etc., vimos Ricardo Salgado nunca ter batido com os costados na prisão e agora lá está, sim, em suposta prisão domiciliária. Suposta, aqui escrito, porque os portugueses já não confiam na Justiça, nem em super-juízes. Uma coisa transparece: a mediocridade abunda nos poderes que estão a destruir a democracia, Portugal.

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Defesa de Sócrates diz que prisão domiciliária é "manobra de propaganda"

O advogado do antigo primeiro-ministro critica o Ministério Público por, nove meses depois, não ter deduzido acusação contra José Sócrates. João Araújo lamenta que este processo já tenha ultrapassado todos os "prazos da decência".

João Araújo falava em conferência de imprensa, num hotel de Lisboa, convocada depois de, ontem, o ex-primeiro ministro ter deixado a prisão de Évora e ficado, por proposta do Ministério Público, em prisão domiciliária, sem pulseira eletrónica.

O advogado de Sócrates considerou que se "ultrapassaram todos os prazos da decência (...) este é um país que está doente, esqueceu a liberdade". Acrescentando que o Ministério Público "finalmente começa a mostrar o que sempre dissemos: este processo não tem sentido, razão séria, não há factos, não há provas e ao fim de nove meses não há acusação".

Pedro Delile, também advogado de José Sócrates e igualmente presente na conferência de imprensa, disse estar convencido de que o final deste processo será o arquivamento.

"Espero que tenha razões para estar convencido de que não vai haver acusação (..) porque acredito na justiça. Foram dois anos e dois meses de devassa pessoal e profissional da vida do engenheiro Sócrates", afirmou.

José Sócrates voltou a casa na sexta-feira, após nove meses e meio de prisão, no âmbito da chamada "Operação Marquês", embora continue detido, só que agora em prisão domiciliária.

A decisão de alterar as medidas de coação do antigo primeiro-ministro, o único dos arguidos que ainda estava na cadeia, foi tomada pelo Tribunal da Comarca de Lisboa, na sequência de uma diligência nesse sentido do Ministério Público, e foi tornada pública ao fim da tarde de sexta-feira.

Esta alteração foi considerada "insuficiente" pelo advogado do antigo primeiro-ministro, que reafirmou hoje que vai recorrer da decisão. (TSF)

Soma e segue. Quais os próximos episódios desta onerosa novela de lixo?

O Caso Marquês, de Sócrates, vai somar e seguir. Há muitos tablóides para vender puro esterco. Ignoramos quais os próximos episódios. Os próprios argumentistas também ignoram. Vão criando a ficção de acordo com as reações do público. Também conforme as conveniências do timing político e outras, presume-se. Quanto vai custar mais às carteiras dos portugueses… Bem, como os filmes de Manuel de Oliveira, nunca se sabia quanto podiam custar. No Amor de Perdição mais que duplicou o valor inicialmente estimado. Se assim foi para um super-realizador condecorado, por que não poderá assim ser para um super-juiz a condecorar?

Esperemos e oremos. Nada mais resta, com uma Justiça assim.

Foto: Lusa / João Relvas

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